quinta-feira, 23 de maio de 2013

Fichamento - Moraes, A. C.R. Geografia- Pequena História crítica. São Paulo: Hucitec. 1981.


DISCIPLINA: EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO – CH 80h PROFESSOR: WALBER LOPES DE ABREU
TÉCNICA DE FICHAMENTO GEOGRAFIA – PEQUENA HISTÓRIA CRÍTICA Antônio Carlos Robert de Moraes
TURMA: C831NF ALUNO: LEONARDO SOUSA DOS SANTOS - 200883168
BELÉM – PARÁ 2008
I. Identificação da Obra MORAES, A. C. R. de. Geografia – Pequena História Crítica. São Paulo: Hucitec, 1981.
I. Resumo da Obra (por capítulos seguidos de parágrafos transcritos literalmente e/ou de forma textualizada, discorrida).
1. O OBJETO DA GEOGRAFIA (p. 13-20).
controvérsia sobre a matéria tratada por esta disciplina
A questão que introduz este volume – o que é Geografia? – aparentemente é bastante simples, porém refere-se a um campo do conhecimento científico, onde reina enorme polêmica em termos científicos e há uma intensa
Isto se manifesta na indefinição do objeto desta ciência, ou melhor, nas múltiplas definições que lhe são atribuídas.
“Alguns autores definem a Geografia como o estudo da superfície terrestre. Esta concepção é a mais usual, e ao mesmo tempo a de maior vaguidade. Pois a superfície da Terra é a teatro privilegiado (por muito tempo o único) de toda reflexão científica, o que desautoriza a colocação de seu estudo como especificidade de uma só disciplina.”(...), p31.
“Outros autores vão definir a Geografia como o estudo da paisagem. Para estes, a analise geográfica estaria restrita aos aspectos visíveis do real. A paisagem, posta como objeto especifico da Geografia, é vista como uma associação de múltiplos fenômenos, o que mantém a concepção de ciência de síntese, que trabalha com dados de todas as demais ciências”.(...), p31.
“A definição da geografia como o estudo da superfície terrestre está apoiado no próprio significado etimológico do termo Geografia – descrição da Terra. Assim, caberia ao estudo geográfico descrever todos os fenômenos manifestados na superfície do planeta, sendo uma espécie de síntese de todas as ciências.”(...), p31.
“A concepção que definem a Geografia como o estudo da superfície terrestre e dada por Kant. Que estabelece duas classes de ciências: as especulativas, apoiadas na razão, e as empíricas, apoiadas na observação e nas sensações.”(...), p31.
“Na ciência empírica, classe da ciência dada a geografia dada por Kant, estará dividida em: duas disciplinas de síntese, a Antropologia, síntese dos conhecimentos relativos ao homem, e a Geografia, síntese dos conhecimentos sobre a natureza. Assim, Kant coloca a Geografia como uma ciência síntese (trabalha com dados de todas as demais ciências) e descritiva (enumera os fenômenos abarcados e visa abranger uma visão de conjunto do planeta).”(...), p32.
“Contudo as maiores polêmicas ensejadas por esta perspectiva dizem respeito ao significado preciso do termo superfície terrestre. Alguns autores vão falar em biosfera (esfera do planeta, que apresenta formas viventes); em outros, em crosta terrestre (camada inferior da atmosfera, mais a capada superior da litosfera), encobrindo, com a discussão terminológica, a vaguidade desta definição do objeto.”(...), p32
“A idéia de descrição da superfície da Terra vai alimenta a corrente majoritária do pensamento geográfico”(...), p32.
“Geografia como o estudo da paisagem apresenta duas variantes, para paisagem: uma, mantendo a tônica descritiva, enumeração os elementos presentes e na discussão das formas – daí ser denominada de morfológica. A outra se preocuparia mais com a relação entre os elementos e com a dinâmica destes, apontando para um estudo de fisiologia, isto é, do funcionamento da paisagem.”(...), p32.
“A perspectiva da morfologia apresenta, em sua gênese, fundamentos oriundos da Estética: o capítulo inicial da obra de Humboldt Cosmos se intitula “Dos graus de prazer que a contemplação da natureza pode oferecer”, pois, caberia observar o horizonte abarcado pela visão do investigador, e desta contemplação adviria à explicação,”(...), p32.
“Outra proposta encontrada é a daqueles autores que propõem a Geografia como estudo da individualidade dos lugares. Para estes, o estudo geográfico deveria abarcar todos os fenômenos que estão presentes numa dada área, tendo por meta compreender o caráter singular de cada porção do planeta. Esta meta através da descrição exaustiva dos elementos, outros pela visão ecológica, encontrando, no próprio inter-relacionamento, um elemento de singularizarão.(...), p33.
“Modernamente, tal perspectiva tem sua expressão mais desenvolvida na chamada Geografia Regional. Esta propõe, como objeto de estudo, uma unidade espacial, a região – uma determinada porção do espaço terrestre (de dimensão variável), passível de ser individualizada, em função de um caráter próprio.(...), p33.
“A definição da Geografia, como estudo da diferenciação de áreas, é uma outra proposta existente. Tal perspectiva traz uma visão comparativa para o universo da analise geográfica. Busca individualizar áreas, tendo em vista comparálas com outras; daí a tônica nos dados que diferenciam cada uma.”(...), p33.
“São buscadas as regularidades da distribuição e das inter-relações dos fenômenos. Tal concepção é mais restritiva, em termos de abrangência, do pensamento geográfico.”(...), p34.
“Existem ainda autores que buscam definir a Geografia como o estudo do espaço. Para estes, o espaço seria passível de uma abordagem específica, a qual qualificaria a análise geográfica. Tal concepção, na verdade minoritária e pouco desenvolvida pelos geógrafos, é bastante vaga e encerra aspectos problemáticos (...), podendo-se apontar três possibilidades mais usuais no trato da questão: o espaço pode ser concebido como uma categoria do entendimento, isto é,toda forma de conhecimento efetivar-se-ia através de categorias, como tempo, grau, gênero, espaço etc. O espaço também pode ser concebido como um atributo dos seres, no sentido de que nada existiria sem ocupar um determinado espaço. Finalmente, o espaço pode ser concebido como um ser específico do real, com características e com uma dinâmica própria.(...), p34.
“Esta perspectiva da Geografia, como estudo do espaço, enfatiza a busca da lógica da distribuição e da localização dos fenômenos, a qual seria a essência da dimensão espacial. Entretanto, esta Geografia, que propõe a dedução, só conseguiu se efetivar à custa de artifícios estatísticos e da quantificação. É um campo atual da discussão geográfica.”(...), p34.
“Finalmente, alguns autores definem a Geografia como o estudo das relações entre o homem e o meio, ou, posto de outra forma, entre a sociedade e a natureza. Assim, a especificidade estaria no fato de buscar essa disciplina explicar o relacionamento entre os dois domínios da realidade.”(...), p35.
“Seria, por excelência, uma disciplina de contato entre as ciências naturais e as humanas, ou sociais.”(...), p35.
“Aparecem, pelo menos, três visões distintas do objeto: alguns autores vão apreendê-lo como as influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade. “Caberia à Geografia explicar as formas e os mecanismos pelos quais esta ação se manifesta. Desta forma, o homem é posto como um elemento passivo, cuja história é determinada pelas condições naturais, que o envolvem. O peso da explicação residiria totalmente no domínio da natureza. Os fenômenos humanos seriam sempre efeitos de causas naturais; isto seria uma imposição da própria definição do objeto, identificado com aquelas influências.”(...), p35.
“Outros autores, mantendo a idéia da Geografia, como o estudo da relação entre o homem e a natureza, vão definir-lhe o objeto como a ação do homem na transformação deste meio. Assim caberia estudar como o homem se apropria dos recursos oferecidos pela natureza e os transforma, como resultado de sua ação.”(...), p35.
“Há ainda aqueles autores que concebem o objeto como a relação entre si, com os dados humanos e os naturais possuindo o mesmo peso. Para estes, o estudo buscaria compreender o estabelecimento, a manutenção e a ruptura do equilíbrio entre o homem e a natureza. A concepção ecológica informaria diretamente esta visão.”(...), p35.
“Estas três visões do objeto, expressa o mais intenso debate do pensamento geográfico. encontra-se a idéia de que a Geografia trabalha unitariamente, com os fenômenos naturais e humanos.”(...), p 36
“Este breve painel das definições da Geografia justifica a afirmação inicial, quanto às dificuldades de concepção do objeto geográfico. O painel abarcou somente as perspectivas da Geografia Tradicional, isto é, não foram abordadas as propostas atuais, oriundas do movimento de renovação, que domina o conjunto do pensamento geográfico contemporâneo.”(...), p36.
“Isto mostra quão mais complexo é o problema da definição da Geografia, pois é nessa que a questão do objeto aflora de modo mais contundente. A Geografia Renovada não se prende a uma visão tão estanque da divisão das ciências, não coloca barreiras tão rígidas entre as disciplinas, não possui uma necessidade tão premente de formular uma definição formal do objeto.”(...), p36
“A Geografia Renovada busca sua legitimidade na operacionalidade (para o planejamento) ou na relevância social de seus estudos.”(...), p36.
Capítulo 2 O Positivismo como fundamento da Geografia Tradicional
“Os postulados do positivismo (aqui entendido como o conjunto das correntes não-dialéticas) vão ser o patamar sobre o qual se ergue o pensamento geográfico tradicional, dando-lhe unidade.”
“Uma primeira manifestação dessa filiação positivista está na redução da realidade ao mundo dos sentidos, isto é, em circunscrever todo trabalho científico ao domínio da aparência dos fenômenos. “Para o positivismo, os estudos devem restringir-se aos aspectos visíveis do real, mensuráveis, palpáveis.” (...), p39.
“Com o cientista, como mero observador, Daí a limitação de todos os procedimentos de análise à introdução, posta como a única via de qualquer explicação científica” (...), p39.
“A Geografia é uma ciência empírica, pautada na observação”, “A descrição, a enumeração e classificação dos fatos referentes ao espaço são momentos de sua apreensão, mas a Geografia Tradicional se limitou a eles; como se eles cumprissem toda a tarefa de um trabalho científico.” (...), p40.
“a Geografia Geral, tão almejada pelos geógrafos, na prática sempre se restringiu aos compêndios enumerativos e exaustivos, de triste memória para os estudantes do secundário.” (...), p,40.
“Outra manifestação da filiação positivista (...) “é, a não aceitação da diferença de qualidade entre o domínio das ciências humanas e o das ciências naturais.” (...), p40.
“A Geografia é uma ciência de contato entre o domínio da natureza e o da humanidade”. Postura esta que serviu para tentar encobrir o profundo naturalismo, que perpassa todo o pensamento geográfico tradicional.” (...), p40.
O homem vai aparecer como um elemento a mais da paisagem, como um dado do lugar, como mais um fenômeno da superfície
“Geografia sempre procurou ser uma ciência natural dos fenômenos humanos. Isto se expressa, por exemplo, na colocação de J. Brunhes de que, para a Geografia, a casa (como elemento fixo da paisagem) tem maior importância do que o morador. Ou, na afirmação de C. Vallaux, de que o homem importa, para a análise geográfica, por ser um agente de modelagem do relevo, por sua ação como força de erosão.”(...), p41.
“ Tal perspectiva naturalizante aparece com clareza no fato de buscar esta disciplina a compreensão do relacionamento entre o homem e a natureza, sem se preocupar com a relação entre os homens. Desta forma, o especificamente humano, representado nas relações sociais, fica fora do seu âmbito de estudos.(...), p41.
“a unidade do pensamento geográfico tradicional adviria do fundamento comum tomado ao positivismo, manifesto numa postura geral, profundamente empirista e naturalista.”(...), p41.
“a idéia de “ciência de síntese” serviu para encobrir a vaguidade e a indefinição do objeto. Tal idéia, que postulava um conhecimento excepcional, desvinculava tal ciência de uma exigência do próprio positivismo – a definição precisa do objeto de estudo.”(...), p42.
“a Terra é um todo, que só pode ser compreendido numa visão de conjunto;(...), p42.
“princípio da individualidade” – cada lugar tem uma feição, que lhe é própria e que não se reproduz de modo igual em outro lugar;”.p42.
“princípio da atividade” – tudo na natureza está em constante dinamismo; p42.
“princípio da conexão” – todos os elementos da superfície terrestre e todos os lugares se interrelacionam; o “princípio da comparação” – a diversidade dos lugares só pode ser apreendida pela contraposição das individualidades;p43
“princípio da extensão” – todo fenômeno manifesta-se numa porção variável do planeta; p42. “princípio da localização” – a manifestação de todo fenômeno é passível de ser delimitada. p43
“Estes princípios atuaram como um receituário de pesquisa, definindo regras gerais, no trato com o objeto, que, não podiam ser negligenciadas. De certo modo, definiam os traços que faziam um estudo aceito como de Geografia.”(...), p43. “a idéia de princípio é bastante cara ao pensamento positivista, o que reafirma o juízo de que a Geografia deve sua unidade a um fundamento comum com esta corrente filosófica.”(...),p43.
“A generalidade dos princípios permitia que posicionamentos metodológicos antagônicos convivessem em aparente unidade.”(...),p43.
“As máximas e os princípios são os responsáveis (...) por um nível bastante elevado de generalidade e vaguidade, permitindo que se englobem em seu seio propostas díspares e mesmo antagônicas.” (...), p43.
“Tal fato enseja os dualismos que perpassam todo o pensamento geográfico tradicional: Geografia Física – Geografia Humana, Geografia Geral – Geografia Regional, Geografia Sintética – Geografia Tópica e Geografia Unitária – Geografias Especializadas.”(...),p43. “Estas dualidades afloram, no trabalho prático de pesquisa, em vista da nãoresolução do problema do objeto, ao nível teórico.”(...) p43.
“As máximas e os princípios vão sendo incorporados e transmitidos, no pensamento geográfico, de uma forma nãocrítica. Isto é, são tomados como afirmações verdadeiras, que em momento nenhum são questionadas. ”(...), p44.
Na verdade, as máximas, os princípios e, principalmente, o trabalho de pesquisa, engendrado em anos de atividades (quase dois séculos de Geografia), acabam por constituir um temário geral, (...), serve mais para dizer o que não é Geografia, do que para definir-lhe o objeto.”(...), p45.
“Pelo temário geral da Geografia, essa disciplina discute os fatos referentes ao espaço e, mais, a um espaço concreto finito e delimitável – a superfície terrestre. Só será geográfico um estudo que aborde a forma, ou a formação, ou a dinâmica (movimento ou funcionamento) , ou a organização, ou a transformação do espaço terrestre.”(...), p45.
“As várias definições do objeto geográfico refletem (e refletirão sempre) o temário geral, filtrado à luz de posicionamentos sociais (políticos, ideológicos e científicos) diferenciados.”(...),p 46.“Só através do omito da ciência asséptica, supra-ideológica, “que paira acima das paixões”, seria possível pensar uma definição de objeto consensual.”(...), p46
“Toda tentativa de definir o objeto geográfico, que não leve em conta esta realidade, é dissimuladora, ideológica.”(...), p46. “As diferenciadas propostas veicularão sempre conteúdos e interesses da classe. Sendo a estrutura de classes contraditória, as propostas serão necessariamente antagônicas.”(...), P46.
“o que é Geografia dependerá da postura política, do engajamento social, de quem faz Geografia. Assim, existirão tantas Geografias, quantos forem os posicionamentos sociais existentes.(...) “passa a ser a explicitação do conteúdo de classes subjacente a cada proposta.”(...), p,46.
Um geógrafo militante já disse que “a Geografia é uma prática social referida ao espaço terrestre”, a qual pode ser de dominação (como tem sido na maioria das vezes), mas também de libertação. (...) “ cabe também realizar um inventário da discussão geográfica recente, analisando as propostas surgidas após o movimento de renovação. “E, através dessas, identificar os agentes e as práticas sociais referidas ao espaço em jogo na atualidade.”(...), p47.
Em outras palavras, investigar o estágio da luta ideológica, (
), função desta luta, propor direcionamentos gerais, que
permitam pensar esta disciplina como instrumento de uma prática libertadora” (...),p47.
Capítulo 3 Origens e pressupostos da Geografia
“O rótulo Geografia é bastante antigo, sua origem remonta à Antiguidade Clássica, especificamente ao pensamento grego (...), com Tales e Anaximandro, privilegia a medição do espaço e a discussão da forma da Terra, englobando um conteúdo hoje definido como da Geodésia; outra, com Heródoto, se preocupa com a descrição dos lugares, numa perspectiva regional.”(...), p49. “Hipócrates, como a da relação entre o homem e o meio, cuja principal obra se intitula Dos ares, dos mares e dos lugares.”
“Aristóteles, aparece em vários momentos a discussão de temas, hoje tidos como da Geografia, sem que houvesse a mínima conexão entre eles; caso, que discute a concepção de lugar, na sua Física, sem articulá-la com a discussão da relação homem- natureza, apresentada em sua Política, e sem vincular esses estudos com sua Meteorologia (onde ensaia uma classificação dos tipos de clima) e com suas descrições regionais, como a efetuada sobre o Egito”. “Desta forma, pode-se dizer que o conhecimento geográfico se encontrava disperso”. “Este quadro vai permanecer inalterado até o final do século XVIII.”(...), p50.
“Isto não quer dizer que inexistam autores expressivos, no decorrer deste enorme período da História da humanidade (...). Basta pensar em Cláudio Ptolomeu, que escreve uma obra Síntese Geográfica que, principalmente em sua versão árabe intitulada Almagesto, vai constituir-se num dos principais veículos que resgatam as descobertas do pensamento grego clássico, durante a Idade Média.” p50.
“Bernardo Varenius, cuja obra Geografia Generalis vai ser um dos fundamentos das teorias de Newton.” p50.
nas formulações.”(
), p50.
“ao se analisar esse autor observa-se que a maior parte dos temas tratados pouco ou nada têm em comum com o que posteriormente será considerada Geografia.”(...), p50. “Assim, até o final do século XVIII, não é possível falar de conhecimento geográfico, como algo padronizado, com um mínimo que seja de unidade temática, e de continuidade
etc.”(...), p50. “Na verdade, trata-se de todo um período de dispersão do conhecimento geográfico, (
). “Nélson
Designam-se como Geografia: relatos de viagem, escritos em tom literário; compêndios de curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de órgãos de administração; obras sintéticas, agrupando os conhecimentos existentes a respeito dos fenômenos naturais; catálogos sistemáticos, sobre os continentes e os países do Globo Werneck Sodré denomina-o de “pré-história da Geografia”. “A sistematização do conhecimento geográfico só vai ocorrer no início do século XIX.”(...), p50.
“grandes navegações”, e as conseqüentes descobertas, efetuadas pelos europeus, a partir do quinhentismo. A constituição de um espaço mundial, que tem por centro difusor a Europa, é elemento destacado do processo de transição do feudalismo para capitalismo.”(...), p51.
“Outro pressuposto da sistematização da Geografia era a existência de um repositório de informações, sobre variados lugares da Terra”. “dados referentes aos pontos mais diversificados da superfície (com uma margem de confiança razoável) e agrupados em alguns grandes arquivos.” (...), p51.
“O interesse dos Estados levou ainda à fundação de institutos nas metrópoles, que passaram a agrupar o material recolhido, como as sociedades geográficas e os escritórios coloniais. A Geografia da primeira metade do século XIX foi, fundamentalmente, a elaboração desse material.” (...), p52.
“Outro pressuposto para o aparecimento de uma Geografia unitária, residia no aprimoramento das técnicas cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo.”(...), p52.
“Era fundamental, para a navegação, poder calcular as rotas, saber a orientação das correntes e dos ventos predominantes, e a localização correta dos portos. Estas exigências fizeram desenvolver o instrumental técnico da cartografia.”(...), p53. “Finalmente, a descoberta das técnicas de impressão, difundiu e popularizou as cartas e os Atlas.”(...), p53
“Todas estas condições materiais, para a sistematização da Geografia, são forjadas no processo de avanço e domínio das relações capitalistas.”(...), p53.
político”. (
). “Estes pressupostos implicavam a valorização dos temas geográficos pela reflexão da época, a ponto

pensamento geográfico”(...), naqueles autores e escritos diretamente citados pelos primeiros geógrafos.(
), p53.
“Foram a correspondência, no plano filosófico e científico, das transformações operadas ao nível econômico e de legitimarem a criação de uma disciplina específica dedicada a eles.(...). “e expressam nas fontes imediatas do
Uma primeira valorização do temário geográfico vai ocorrer na discussão da Filosofia. As correntes filosóficas do século XVIII vão propor explicações abrangentes do mundo; formulam sistemas que buscam a compreensão de todos os fenômenos do real. ”(...), p53.
enunciada em termos sistemáticos; uma fé na viabilidade de uma explicação racional do mundo.”(
), p53.
“A meta geral de todas as escolas, período, será a afirmação das possibilidades da razão humana; a aceitação da existência de uma ordem, na manifestação de todos os fenômenos, passível de ser apreendida pelo entendimento e
“Os autores que se dedicaram à Filosofia do Conhecimento, como Kant ou Liebniz, enfatizaram a questão do espaço. No caso de Kant, sem articular esta discussão (posta ao nível da “razão pura”) (...). Outros filósofos, que discutiram a Filosofia da História, como Hegel ou Herder, destacaram a questão da influência do meio sobre a evolução das sociedades.
“Herder levanta uma idéia, a de ver a Terra como “teatro da humanidade”.(...), p54.
“Outra fonte da sistematização geográfica pode ser detectada nos pensadores políticos do Iluminismo. Estes autores foram os porta-vozes do novo regime político, os ideólogos das revoluções burguesas, os propositores da organização institucional, que interessava ao modo de produção emergente. Em suas argumentações, passaram por temas próprios da Geografia, notadamente ao discutir as formas de poder e de organização do Estado.”(...), p54.
Rousseau, por exemplo, discutiu a relação entre a gestão do Estado (...). Dizia ele que a democracia só era possível nas nações pouco extensas, e que os Estados de grandes dimensões territoriais tendiam necessariamente a formas de governo autocráticas.”(...), p55.
“Montesquieu, em sua célebre obra O espírito das leis, dedica todo um capítulo à discussão sobre a ação do meio no caráter dos povos.” (...). “elabora teses profundamente deterministas, como a de que os povos que habitam regiões montanhosas teriam uma índole pacífica (pois contariam com uma proteção natural do meio), ao passo que os habitantes da planície seriam naturalmente guerreiros (em face da contínua possibilidade de invasões propiciada pelo relevo plano.”(...), p55.
“estas discussões vieram enriquecer a posição desfrutada pelos temas geográficos; suas citações são comuns nos trabalhos dos primeiros geógrafos.”(...), p55.
“os trabalhos desenvolvidos pela Economia Política atuaram na valorização dos temas geográficos. Esta disciplina foi responsável pelas primeiras análises sistemáticas de fenômenos da vida social.”(...), p55.
“Os economistas políticos discutiram questões geográficas, ao tratar de temas como a produtividade natural do solo; a dotação diferenciada dos lugares, em termos de recursos minerais; o problema da distância, o do aumento populacional, entre outros. Suas teorias divulgaram estas questões, que posteriormente constituiriam o temário clássico da Geografia. (...), p55.
“O temário geográfico vai obter o pleno reconhecimento de sua autoridade, com o aparecimento das teorias do Evolucionismo” (...). “forneceram o patamar imediato da legitimação cientifica dessa disciplina. O Evolucionismo, visto como conjunto de teorias, que partem das formulações de Darwin e Lamarck, dá um lugar de destaque, em sua explicação, ao papel desempenhado pelas condições ambientes; na evolução das espécies, a adaptação ao meio seria um dos processos fundamentais.”(...), p55.
“São inúmeras as alusões a Darwin e Lamarck, nas obras dos primeiros geógrafos. Também um discípulo deste, Haeckel, vai ser bastante citado; desenvolveu a idéia de Ecologia, isto é, do estudo da inter-relação dos elementos que coabitam um dado espaço.”(...), p56.
“Metodologia naturalista, que impregnou as propostas dos primeiros geógrafos e que passou, como herança, aos seus sucessores.”(...), p56.
“A sistematização da Geografia, sua colocação como uma ciência particular e autônoma, foi um desdobramento das transformações operadas na vida social, pela emergência do modo de produção capitalista.”(...). “na verdade, um instrumento da etapa final deste processo de consolidação do capitalismo, em determinados países da Europa.”(...), p57.
“A efetivação da Geografia, como um corpo de conhecimentos sistematizado ocorria já no período da decadência ideológica do pensamento burguês, em que a prática dessa classe, então dominante, visava a manutenção da ordem social existente. Este é um dado fundamental para se compreender o que foi a Geografia.”(...), p57.
“A Geografia será filha (...) do desenvolvimento do capitalismo na Alemanha, sem a qual não se pode compreender a sistematização da Geografia.”(...) ,p57.
“Os autores considerados os pais da Geografia, aqueles que estabelecem uma linha de continuidade nesta disciplina, são alemães – Humboldt e Ritter. Na verdade, todo o eixo principal da elaboração geográfica, no século XIX, estará sediado neste país.”(...), p57.
“É da Alemanha que aparecem os primeiros institutos e as primeiras cátedras dedicadas a esta disciplina; é de lá que vêm as primeiras teorias e as primeiras propostas metodológicas; enfim, é lá que se formam as primeiras correntes de pensamento.”(...), p58.
Capítulo 4 A sistematização da Geografia: Humboldt e Ritter.
“A especificidade da situação histórica da Alemanha, no início do século XIX, época que se dá a eclosão da Geografia, está no caráter tardio da penetração das relações capitalistas nesse país.”(...), p59.
“A Alemanha de então é um aglomerado de feudos (ducados, principados, reinos) cuja única ligação reside em alguns traços culturais comuns. Inexistente qualquer unidade econômica ou política, a primeira começando a se formar no decorrer do século XIX, a segunda só se efetivando em 1870, com a unificação nacional.”(...), p59.
“A Alemanha não conhece a monarquia absoluta (forma de governo própria do período de transição), nem qualquer outro tipo de governo centralizado. O poder está nas mãos dos proprietários de terras, sendo absoluto e a nível local – a estrutura feudal permanece intacta.”(...), p59.
“penetração do capitalismo” (...), “quadro agrário alemão sem alterar a estrutura fundiária”(...), “vai produzir um arranjo singular, aquilo que já foi chamado por alguns autores de “feudalismo modernizado”. Isto é, um relativo desenvolvimento do capitalismo, engendrado por agentes sociais próprios do feudalismo – a aristocracia agrária; uma transformação econômica, que se opera sem alterar a estrutura do poder existente.”(...), p59.
“Não ocorre, na Alemanha, uma revolução democrático-burguesa. A burguesia alemã só se desenvolverá à sombra do Estado, e de um Estado comandado pela aristocracia agrária. Este é o quadro da Alemanha, na virada do século XVIII.”(...), p60.
“Confederação Germânica”, que congregou todos os principados alemães e os reinos da Áustria e da Prússia.”(
),
“pode compreender a eclosão da Geografia (...) “nas classes dominantes alemãs a idéia da unificação nacional.” Esta meta passa a ser, a partir de um certo momento, uma necessidade para a própria continuidade do desenvolvimento alemão.”(...). “Este ideal de unidade vai ter suam primeira manifestação concreta com a formação, em 1815, da p60.
“Temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território, variação regional, entre outros, estarão na ordem do dia na prática da sociedade alemã de então. É, sem dúvida, deles que se alimentará a sistematização geográfica.”(...), p61.
“As primeiras colocações, no sentido de uma Geografia sistematizada, vão ser a obra de dois autores prussianos ligados à aristocracia: Alexandre Von Humboldt, conselheiro do rei da Prússia, e Karl Ritter, tutor de uma família de banqueiros. Ambos são contemporâneos e pertencem à geração que vivencia a Revolução Francesa: Humboldt nasce em 1769 e Ritter em 1779; os dois morreram em 1859, ocupando altos cargos da hierarquia universitária alemã.”(...), p61.
“Humboldt possuía uma formação de naturalista e realizou inúmeras viagens. Sua proposta de Geografia aparece na justificativa e explicitação de seus próprios procedimentos de análise (...). Seus principais livros são Quadros da Natureza e Cosmos, ambos publicados no primeiro quartel do século XIX.”(...), p 61 e 62.
“Humboldt entendia a Geografia como a parte terrestre da ciência do cosmos, isto é, como uma espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos à Terra. Tal concepção transparece em sua definição do objeto geográfico, que seria: “A contemplação da universalidade das coisas, de tudo que coexiste no espaço concernente a substâncias e forças, da simultaneidade dos seres materiais que coexistem na Terra”.(...), p62.
“Caberia ao estudo geográfico: “reconhecer a unidade na imensa variedade dos fenômenos, descobrir pelo livre exercício do pensamento e combinando as observações, a constância dos fenômenos em meio a suas variações aparentes”. Desta forma, a Geografia seria uma disciplina eminentemente sintética, preocupada com a conexão entre os elementos, e buscando, através dessas conexões, a causalidade existente na natureza.”(...), p62.
“Em termos de método, Humboldt (geólogo), propõe o “empirismo raciocinado”, isto é, a intuição a partir da observação. O geógrafo deveria contemplar a paisagem de uma forma quase estética, (daí o título do primeiro capítulo do Cosmos: “Dos graus de prazer que a contemplação da natureza pode oferecer”.(...), p62.
“A obra de Ritter (botânico), já é explicitamente metodológica. Em seu principal trabalho, Geografia Comparada, há um intuito deliberado de propor uma Geografia, sendo assim um livro normativo (...). “Possui formação em Filosofia e História. Ritter define o conceito de “sistema natural”, isto é, uma área delimitada dotada de uma individualidade (...)”. “A Geografia deveria estudar estes arranjos individuais, e compará-los (...), que “abarcaria um conjunto de elementos, representando uma totalidade, onde o homem seria o principal elemento.”(...), p62 e 63.
“Para Ritter, a ordem natural obedeceria a um fim previsto por Deus, a causalidade da natureza obedeceria à designação divina do movimento dos fenômenos. Deste modo, haveria uma finalidade na natureza, logo uma predestinação”(...), que “seria a tarefa do conhecimento geográfico, que no limite, para esse autor, seria uma forma de “contemplação da própria divindade”.(...). “Ritter é, por estas razões, antropocêntrica (o homem é o sujeito da natureza), regional (aponta para o estudo de individualidades), valorizando a relação homemnatureza.”(...), p63.
A obra de Humboldt e Ritter, “compõe a base da Geografia Tradicional. Todos os trabalhos posteriores vão se remeter às formulações de Humboldt e Ritter, seja para aceitá-las, ou refutá-las.”(...), p63.
“A Geografia de Ritter é regional e antropocêntrica, a de Humboldt busca abarcar todo o Globo sem privilegiar o homem – os pontos coincidentes vão aparecer, para os geógrafos posteriores, como fundamentos inquestionáveis de uma Geografia unitária.”(...), p63 e 64.
“estes autores criam uma linha de continuidade no pensamento geográfico, coisa até então inexistente. Além disso, há de se ressaltar o papel institucional, desempenhado por eles, na formação das cátedras dessa disciplina, dando assim à Geografia uma cidadania acadêmica.”(...), p64.
“Entretanto, não deixam discípulos diretos. Isto é, não formam uma “escola”. Deixam uma influência geral, que será resgatada por todas as “escolas” da Geografia Tradicional.”(...), p64.
“Foi talvez na Rússia que as idéias de Humboldt e Ritter tiveram aplicação mais literal, em autores como Mushketov, Dokuchaev e Woiekov. Apesar de realizar a Geografia russa vigoroso trabalho de campo, é, sem dúvida, na Alemanha que a discussão metodológica permanece acesa.”(...), p64.
Da Rússia e da Alemanha, “vieram as maiores contribuições à sistematização do pensamento geográfico. Isto não quer dizer que inexistam geógrafos importantes em outros países.”(...), p64.
“A geração que se segue à de Humboldt e Ritter vai se destacar pelo avanço empreendido na sistematização de estudos especializados, do que da Geografia Geral.”(...) p64.
“Penk, com a Geomorfologia (estudo do relevo), e de Hann e Koppen, com a Climatologia.”(...) .Dois autores alemães merecem destaque na sistematização da geografia: O. Peschel e F. Von Richthofen. O primeiro realizou uma revisão crítica da obra de Ritter, contestando-a.”(...), p65.
Para Peschel, a Geografia era um estudo das formas existentes nas paisagens terrestres, o qual, entre elas, deveria buscar as semelhanças, através da comparação.”(...), p65.
Richthofen realizou inúmeros trabalhos de campo, aprimorando as técnicas de descrição. Também, avançou no que tange à elucidação e precisão dos conceitos empregados. Propunha uma das definições mais empíricas do objeto geográfico, vendo-o como “a superfície terrestre”.(...), p65.
Estes autores ajudam a manter aberta uma via de discussão teórica do pensamento geográfico (...), “a Geografia seguia constituída de levantamentos empíricos e enumerações exaustivas sobre os diferentes lugares da Terra.(...),p65.
Capítulo 5 Ratzel e a Antropogeografia
“Um revigoramento do processo de sistematização da Geografia vai ocorrer com as formulações de Friedrich Ratzel. Este autor, também alemão e prussiano, publica suas obras no último quartel do século XIX.”(...), p67.
“Ratzel vivencia a constituição real do Estado nacional alemão e suas primeiras décadas. Suas formulações só são compreensíveis em função da época e da sociedade que as engendram.” (...), p67.
“A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado alemão recém-constituído.”(...). “denominá-la de “manual de imperialismo”.(...), p68.
“da unificação, acirraram a disputa, entre a Áustria e a Prússia pelo comando e domínio do processo, que culminou com a guerra entre dois reinos.”(...). “prussianização da Alemanha. Isto é, o Estado prussiano imprimiria suas características na nova nação.”(...), p68.
“A principal característica da Prússia era a organização militarizada da sociedade e do Estado. A direção deste estava nas mãos da aristocracia junker, os proprietários de terras, os mais claros representantes da velha ordem feudal.”(...), p68.
“erguia-se uma monarquia extremamente burocratizada, que estendeu a ação do Estado a todos os domínios da sociedade civil.”(...), p68.
“este país emergia como mais uma unidade do centro do mundo capitalista, industrializada, porém sem colônias. A unificação tardia da Alemanha, que não impediu um relativo desenvolvimento interno, deixou-a de fora da partilha dos territórios coloniais.”(...), p69.
“Daí, o agressivo projeto imperial, o propósito constante de anexar novos territórios. E, por esta razão, mais uma vez, o estímulo para pensar o espaço, logo, para fazer Geografia.”(...), p69.
“Ratzel vai ser um representante típico do intelectual engajado no projeto estatal; sua obra propõe uma legitimação do expansionismo bismarckiano.”(...), p69.
“A Geografia de Ratzel expressa diretamente um elogio do imperialismo, como ao dizer, por exemplo: “Semelhante à luta pela vida, cuja finalidade básica é obter espaço, as lutas dos povos são quase sempre pelo mesmo objetivo.”(...), p69.
O principal livro de Ratzel, publicado em 1882, denomina-se Antropogeografia – fundamentos da aplicação da Geografia à História;(...), “obra funda a Geografia Humana.”(...), p69.
“Ratzel definiu o objeto geográfico como o estudo da influência que as condições naturais exercem sobre a humanidade (...), “influências atuariam, primeiro na fisiologia (somatismo) e na psicologia (caráter) dos indivíduos e, através destes, na sociedade.” “Em segundo lugar, a natureza influenciaria a própria constituição social,”(...), p69.
“A natureza também atuaria na possibilidade de expansão de um povo, obstaculizando-a ou acelerando-a.”(...), p69. “Ratzel realizou extensa revisão bibliográfica, sobre o tema das influências da natureza sobre o homem,”(...), p70.
“Para ele, a sociedade é um organismo que mantém relações duráveis com o solo, manifestas, por exemplo, nas necessidades de moradia e alimentação.”(...), p70.
“O homem precisaria utilizar os recursos da natureza, para conquistar sua liberdade, que, em suas palavras, “é um dom conquistado a duras penas”. O progresso significaria um maior uso dos recursos do meio, logo, uma relação mais íntima com a natureza. Quanto maior o vínculo com o solo, tanto maior seria para a sociedade a necessidade de manter sua posse.”(...), p70.
“É por esta razão que a sociedade cria o Estado, nas palavras de Ratzel: “Quando a sociedade se organiza para defender o território, transforma-se em Estado”.(...), p70.
“Para Ratzel, o território representa as condições de trabalho e existência de uma sociedade. A perda de território seria a maior prova de decadência de uma sociedade. Por outro lado, o progresso implicaria a necessidade de aumentar o território, logo, de conquistar novas áreas.”(...), p70.
“Ratzel elabora o conceito de “espaço vital”; este representaria uma proporção de equilíbrio, entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades, definindo assim suas potencialidades de progredir e suas premências territoriais.”(...), p70.
“Ratzel, sua época e o projeto imperial alemão. Esta ligação se expressa na justificativa do expansionismo como algo natural e inevitável, numa sociedade que progride, gerando uma teoria que legitima o imperialismo bismackiano.”(...), p70.
“visão do Estado como um protetor acima da sociedade, vem no sentido de legitimar o Estado prussiano, onipresente e militarizado.”(...), p71.
“A geografia proposta por Ratzel privilegiou o elemento humano e abriu várias frentes de estudo, valorizando questões referentes à História e ao espaço, como: a formação dos territórios, a difusão dos homens no Globo (migrações, colonizações, etc), a distribuição dos povos e das raças na superfície terrestre, o isolamento e suas conseqüências, além de estudos monográficos das áreas habitadas.”(...), p71.
“objetivo central que seria o estudo das influências, que as condições naturais exercem sobre a evolução das sociedades.”(...), p71.
“Ratzel não realizou grandes avanços. Manteve a idéia da Geografia como ciência empírica, cujos procedimentos de análise seriam a observação e a descrição.”(...), p71.
“Ratzel manteve a visão naturalista: reduziu o homem a um animal, ao não diferenciar as suas qualidades específicas; assim, propunha o método geográfico como análogo ao das demais ciências da natureza;”(...), p71.
“Ratzel, ao propor uma Geografia do Homem, estendeu-a como uma ciência natural.”(...), p71.
“Os discípulos de Ratzel radicalizaram suas colocações, constituindo o que se denomina “escola determinista” de Geografia, ou doutrina “escola determinista” de Geografia, ou doutrina do “determinismo geográfico”(...), p71.
“Orientaram seus estudos por máximas, como “as condições naturais determinam a História, ou “o homem é um produto do meio” – empobrecendo bastante as formulações de Ratzel, que falava de influências.”(...), p71.
“Seus mais eminentes representantes foram: E. Semple e E. Huntington.”(...). “Ellem Semple, a primeira geógrafa americana, americana, aluna de Ratzel, foi a responsável pela divulgação das teses deste nos EUA. pode ser obtido na sua teoria, que relaciona a religião com o relevo: nas regiões acidentadas, predominariam religiões politeístas.”(...), p72.
“Elsworth Huntington eram um pouco mais elaboradas. Este autor concebia um determinismo invertido, isto é, para ele, as condições naturais mais hostis seriam as que propiciariam o maior desenvolvimento.”(...), p72.
O livro mais importante de Huntington denomina-se Clima e sociedade; nele o autor defende a idéia de que os rigores do inverno explicariam, pelas necessidades impostas (abrigo, estocagem de comida), o desenvolvimento das sociedades européias.”(...), p72.
As teses deterministas, apesar do seu simplismo, foram bastante divulgadas, e aparecem com freqüência no ideário do pensamento conservador.(...). “história brasileira, que lançam mão de teorias como a “indolência do homem tropical”, ou o “subdesenvolvimento, como fruto da tropicalidade” (e a inevitável comparação com o desenvolvimento dos E.U.A., também colônia, mas em clima temperado). “Enfim, o determinismo incorre na mais completa naturalização da História humana.
“Ratzel manifestou-se na constituição da Geopolítica (...). “dedicada ao estudo da dominação dos territórios, partiu das colocações ratzelianas, referentes à ação do Estado sobre o espaço.”(...), p72.
“Os autores mais conhecidos da corrente Ratzel foi, “Kjellen, um sueco, foi o criador do rótulo Geopolítica.”(...). Halford Mackinder, um almirante inglês, trouxe a discussão para o nível dos estados-maiores, tratando temas como o domínio das rotas marítimas, as áreas de influência de um país, e as relações internacionais.(...). “principal obra intitula-se O pivô geográfico da História, desenvolveu uma curiosa teoria sobre as “áreas pivôs”, que seriam o coração de um dado território; para ele, quem o dominasse, dominaria todo o território.” “O general alemão Karl Haushofer, amigo de Hitler e presidente da Academia Germânica no seu governo, foi outro teórico da Geopolítica”. “Deu a esta um caráter diretamente bélico, definindo-a como parte da estratégia militar”.(...), p73.
“A Karl Haushofer, desenvolveu teorias referentes à ação do clima sobre os soldados, criou uma escola e influenciou diretamente os planos de expansão nazistas.”(...), P73.
“Última perspectiva, que saiu das formulações de Ratzel, foi a chamada escola “ambientalista”. Esta, mais recente, não pode ser considerada uma filiação direta da Antropogeografia.”(...), p73.
“Esta corrente propõe o estudo do homem em relação aos elementos do meio em que ele se insere.”(...), p73.
“O ambientalismo representa um determinismo atenuado, sem visão fatalista e absoluta. A natureza não é vista mais como determinação, mas como suporte da vida humana.”(...), p73.
“O ambientalismo se desenvolveu bastante modernamente, apoiado na Ecologia. A idéia de estudar as inter-relações dos organismos, que coabitam determinado meio, já estava presente em Ratzel, pela influência que ele sofreu de Haeckel, o primeiro formulador da Ecologia, de quem havia sido aluno.”(...), p73
“é mias ao determinismo que ao ambientalismo, que o nome de Ratzel acabou identificado.”(...), p73.
Geografia francesa, que será vista a seguir, é uma resposta às formulações desse autor.” “maior de sua proposta reside no fato de haver trazido, para o debate geográfico, os temas políticos e econômicos, colocando o homem no centro das análises.”(...), p74.
Capítulo 6 Vidal de La Blache e a Geografia Humana
“A outra grande escola da Geografia, que se opõe às colocações de Ratzel, vai ser eminentemente francesa, e tem seu principal formulador em Paul Vidal de La Blache”. “Para compreender o processo de eclosão do pensamento geográfico na França”(...), “é necessário enfocar os traços gerais do desenvolvimento histórico francês no século XIX, e, em detalhe(...), “e o conflito de interesses com a Alemanha.”(...), p75.
“A França foi o país que realizou, de forma mais pura, uma revolução burguesa”. “A França havia conhecido uma unificação precoce”(...), “a centralização do pode restava garantida pela prática da monarquia absoluta”(...). “Isto havia propiciado a formação de uma burguesia sólida, com aspirações consolidadas, e com uma ação nacional.”(...), p75.
“Esta classe (...), implantando o domínio total das relações capitalistas. Napoleão Bonaparte completou este processo de desenvolvimento do capitalismo na França,”(...), p75.
“A revolução francesa foi um movimento popular, comandado pela burguesia, dirigido pelos ideólogos dessa classe.”(...), p76.
“a consolidação do domínio burguês (...), “produzir um acirramento da luta de classes, neste país, a qual atingirá formas agudas(...)”. “Por esta razão, a França foi o berço do socialismo militante, e o lugar onde o caráter classista da democracia burguesa primeiro se revelou.”(...), 76.
“dominação burguesa (...), “era dominante e lutava para manter o poder do aparelho de Estado. Os ideais e as propostas liberais e progressistas, forjadas na fase revolucionária, caem por terra, frente aos imperativos autoritários demandados pela manutenção do status quo.”(...), p76.
A ciência cumpriu um papel importante, nesse movimento ideológico. Foi posta como distante dos interesses sociais, envolvida num manto de neutralidade.”(...), p76.
“a França foi o país que demonstrou, de modo mais claro, as etapas de avanço, domínio e consolidação da sociedade burguesa.”(...), p76.
“A França perde os territórios e Alsácia e Lorena, vitais para sua industrialização, pois neles se localizavam suas principais reservas de carvão.”(...), p77.
“a Terceira República francesa. Foi nesse período que a Geografia se desenvolveu. E se desenvolveu com o apoio deliberado do Estado francês.”(...). “Foram criadas, nessa época, as cátedras e os institutos de Geografia.”(...). “Todos estes fatos demonstram o intuito do Estado no sentido de desenvolver esses estudos.”(...), p77.
“Thiers, primeiro-ministro da França, em uma frase, bem o demonstra; diz ele: “a guerra foi ganha pelos instrutores alemães”. A guerra havia colocado para a classe dominante francesa, a necessidade de pensar o espaço, de fazer uma Geografia que deslegitimasse a reflexão geográfica alemã e, ao mesmo tempo, fornecesse fundamentos para o expansionismo francês.”(...), p77.
“O pensamento geográfico francês nasceu com esta tarefa”(...). Combate a geografia de Ratzel.
“O principal artífice desta empresa foi Vidal de La Blache.”(...). “fundou a escola francesa de Geografia e, mais, deslocou para este país o eixo da discussão geográfica, até então sediado na Alemanha.”(...), p78.
“Ratzel exprimia o autoritarismo, que permeava a sociedade alemã; o agente social privilegiado, em sua análise, era o Estado, tal como na realidade que este autor vivenciava. A proposta de Vidal manifestava um tom mais liberal, consoante com a evolução francesa,”(...), p78.
“Uma primeira crítica de princípio, efetuada por Vidal às formulações de Ratzel, dizia respeito à politização explícita do discurso deste”(...). “incidia no fato de as teses ratzelianas tratarem abertamente de questões políticas.”(...), Ratxel,“atacou diretamente o caráter apologético do expansionismo alemão,”(...), p78.
“Vidal imprimiu, no pensamento geográfico, o mito da ciência asséptica, propondo uma despolitização aparente do temário dessa disciplina.”(...), p79.
“Temas como o do espaço vital foram duramente criticados, a partir desta ótica, e, através deles, o próprio expansionismo germânico. Entretanto, a Geografia francesa que esconjurou a Geopolítica vai criar uma especialização denominada Geografia Colonial.”(...), p79.
“Vidal criticou a minimização do elemento humano, que aparecia como passivo nas teorias de Ratzel. Nesse sentido, defendeu o componente criativo (a liberdade) contido na ação humana que não seria apenas uma resposta às imposições do meio.”(...), p79.
“este autor não rompeu totalmente com uma visão naturalista, pois diz explicitamente: “a Geografia é uma ciência dos lugares, não dos homens”(...), “o que interessaria à análise seria o resultado da ação humana na paisagem, e não esta em si mesma.”(...), p80.
“Uma terceira crítica de Vidal à Antropogeografia”(...), “atacou a concepção fatalista e mecanicista da relação entre os homens e a natureza.”(...). “Assim, atingiu diretamente a idéia da determinação da História pelas condições naturais.”(...), p80.
“Vidal vai propor uma postura relativista, no trato dessa questão, dizendo que tudo o que se refere ao homem “é mediado pela contingência”.”(...). “Este posicionamento, aceito por seus seguidores, fez com que a Geografia francesa abandonasse qualquer intento de generalizar.”(...), p80.
“Vidal de La Blache construiu sua proposta de Geografia sempre como um diálogo crítico com sua congênere alemã.”(...), p80.
“na figura de Vidal de La Blache”(...), “surgiu uma Geografia com nova visão, que buscava ir além das enumerações exaustivas e dos relatos de viagem.”(...), p80.
“outros autores, um relevo deve ser dado à figura de Elisée Reclus, menos por suas formulações do que por seu engajamento político, ímpar entre os geógrafos.”(...), p.80.
“Reclus foi um militante anarquista, que pertenceu à Primeira Internacional e participou da Comuna de Paris. Entretanto, suas obras, Geografia Universal, publicada em dezenove volumes, e A Terra e o homem, em quatro volumes, foram pouco revolucionárias em termos de método e de propostas.”(...). “Reclus viveu grande parte de sua vida exilado, tendo assim pouca influência na evolução da Geografia francesa.”(...), p81.
“Vidal de La Blache definiu o objeto da Geografia como a relação homem-natureza, na perspectiva de paisagem. Colocou o homem como um ser ativo, que sofre a influência do meio, porém que atua sobre este, transformandoo.”(...). “as necessidades humanas são condicionadas pela natureza, e que o homem busca as soluções para satisfazêlas nos materiais e nas condições oferecidos pelo meio.”(...), 81.
“Vidal, é aí que começa a “obra geográfica do homem”. “Assim, na perspectiva vidalina, a natureza passou a ser vista como possibilidades para a ação humana; daí o nome de Possibilismo dado a esta corrente por Lucien Febvre.”(...), p81.
“Vidal concebia o homem como hóspede antigo de vários pontos da superfície terrestre, que em cada lugar se adaptou ao meio que o envolvia, criando, no relacionamento constante e cumulativo com a natureza, um acervo de técnicas, hábitos, usos e constumes, que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponíveis.”(...), p81.
“Vidal denominou “gênero de vida”, o qual exprimiria uma relação entre a população e os recursos, uma situação de equilíbrio, construída historicamente pelas sociedades. A diversidade dos meios explicaria a diversidade dos gêneros de vida.”(...), p81.
Vidal argumenta que, uma vez estabelecido, o gênero de vida tenderia à reprodução simples, isto é, a reproduzir-se sempre da mesma forma (por exemplo, uma sociedade com escassos recursos disponíveis, criaria normas sociais – tabus alimentares, infanticídio, etc. – para manter seu equilíbrio).”(...), p82.
“alguns fatores poderiam agir, impondo uma mudança no gênero de vida”(...). “exaurimento dos recursos existentes; isto impulsionaria aquela sociedade a migrar, ou a buscar um aprimoramento tecnológico, quando a possibilidade de migração estivesse restrita por barreiras naturais.”(...), p82.
“Para Vidal, quando uma sociedade migrava para um meio mais rico, possuindo um gênero de vida forjado em condições naturais, mas adversas, adquiria a possibilidade de gerar um excedente, pela maior produtividade com o uso das mesmas técnicas no meio mais rico.”(...), p82.
“Outro fator de mudança dos gêneros de vida seria o crescimento populacional; este poderia impulsionar a sociedade à busca de novas técnicas, ou levá-a a dividir a comunidade existente e a criar um novo núcleo, gerando assim um processo de colonização.”(...), p82.
“o contato com outros gêneros de vida”(...), “é um fator de mudança”. “gerariam arranjos mais ricos, pela incorporação de novos hábitos e novas técnicas.”(...), p82.
Vidal de La Blache denominou “domínios de vicilização”, “os pontos de convergência (as cidades, por exemplo) das comunidades seriam verdadeiras “oficinas de civilização”.(...), “gêneros de vida se difundiriam pelo Globo, num processo de enriquecimento mútuo, que levaria inexoravelmente ao fim dos localismos.”. “um gênero de vida comum, englobando várias comunidades,”(...), p82.
“À Geografia caberia estudar os generosa de vida, os motivos de sua manutenção ou transformação, e sua difusão, com a formação dos domínios de civilização.”(...), p82 e 83.
Vidal de La Blache, é possível observar o sutil argumento que, num mesmo discurso, critica o expansionismo germânico,(...), p83
“a ação imperial francesa não se concentrava na Europa; era principalmente um expansionismo colonial, que tinha por espaço a Ásia e a África. Aqui se criticava a expansão alemã. Por outro lado, estes dois últimos continentes abrigariam sociedades estagnadas, imersas no localismo, “comunidades vegetando lado a lado”, sem perspectivas de desenvolvimento.”(...), p83.
“Vidal de La Blache abriu a possibilidade de falar da “missão” Vidal de La Blache abriu a possibilidade de falar da “missão civilizadora do europeu na África”., “ao definir o progresso como fruto de relações entre sociedades com gêneros de vida diferentes, num processo enriquecedor(...). p83.
“Vidal de La Blache não rompeu com as formulações de Ratzel, foi antes um prosseguimento destas. As únicas diferenças residiram naqueles pontos de princípio já discutidos.”(...), p83.
Vidal era mais relativista, negando a idéia de causalidade e determinação de Ratzel; assim seu enfoque era menos generalizador.”(...), p83.
“Vidal, mais do que Ratzel, hostilizou o pensamento abstrato e o raciocínio especulativo, propondo o método empírico-indutivo, pelos quais só se formulam juízos a partir dos dados da observação direta, considera-se a realidade como o mundo dos sentidos, limitase a explicação aos elementos e processos visíveis.”(...),
La Blache propôs o seguinte encaminhamento para a análise geográfica: observação de campo, indução a partir da paisagem, particularização da área enfocada (em seus traços históricos naturais), comparação das áreas estudadas e do material levantado, e classificação das áreas e dos gêneros de vida, em “séries de tipos genéricos”.(...). “concepção vidalina, culminaria com uma tipologia.(...), p84.
“Vidal de La Blache acentuou o propósito humano da Geografia, vinculando todos os estudos geográficos à Geografia Humana.”(...), p84.
“A Geografia vidalina fala da população, de agrupamento, e nunca de sociedade; fala de estabelecimentos humanos, não de relações sociais; fala das técnicas e dos instrumentos de trabalho, porém não de processo de produção.”(...). “discute a relação homem-natureza, não abordando as relações entre os homens.”(...), p84.
Capítulo 7 Os desdobramentos da proposta lablachiana
“Vidal fundou a corrente que se tornou majoritária no pensamento geográfico (...). “o núcleo central dessa disciplina estava constituído.”(...), 85.
“La Blache criou uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a escola francesa de Geografia. E, mais, trouxe para a França o eixo da discussão geográfica, situação que se manteve durante todo o primeiro quartel do século atual.”(...), p85.
“Vidal de La Blache formou uma plêiade de ilustres discípulos diretos, que “desenvolveram a proposta lablachiana, em toda sua potencialidade”(...). “Todos incorporando-a em formulações próprias, porém mantendo o fundamental de suas colocações.articulando, em redor de si e da revista por ele criada, os Annales de Géographie,”(...). “catalisou uma ampla rede de pesquisas, orientadas por suas formulações.” (...), p85.
“Alguns como, E. Demartonne, que escreveu uma Geografia Física orientada pelas colocações vidalinas.
“J. Brunhes, que escreveu uma volumosa Geografia Humana, onde propõe uma “classificação positiva dos fatos geográficos”, dividindo-os em três grandes grupos: “fatos da ocupação improdutiva do solo”, “fatos da conquista vegetal e animal”, e “fatos da ocupação destrutiva”.”(...), p85 e 86.
“A. Demangeon, desenvolvendo um estudo específico, que relevou a problemática econômica, enfatizando as instalações humanas, em relação às atividades produtivas e elaborou o conceito de “meio geográfico”, diferenciando-o do “meio físico”(...), p86.
“C. Vallaux formulou propostas polêmicas. Este autor entendia que a Geografia Humana deveria estudar o “quarto estado da matéria”, aquele criado pelo trabalho humano, e assim discutir “a transformação aparente das coisas da superfície realizada pelo homem”; suas maiores diferenças com Vidal se deram no plano metodológico.”(...), p86.
“outros discípulos de La Blache, como H. Baulig, R. Blanchard ou J. Sion, entre outros; cada um enfatizou um tema específico, como a Geografia Histórica, o comércio e as relações internacionais.”(...), p86.
“Vidal de La Blache planejou uma obra coletiva, a Geografia Universal, que foi executada por seus discípulos, aproximando-os. Cada um escreveu sobre uma determinada porção do planeta. Neste trabalho, explicitaram um conceito vislumbrado por La Blache, que seria tomado como o balizamento central da Geografia francesa posterior – a “região”, “denominação dada a uma unidade de análise geográfica, que exprimiria o espaço terrestre.”(...), p86.
“região não seria apenas um instrumento teórico de pesquisa”(...), “e caberia ao geógrafo delimitá-las, descrevê-las e explicá-las.”(...), p86.
“A região seria uma escala de análise, uma unidade espacial, dotada de uma individualidade, em relação a suas áreas limítrofes.”(...). “Pela observação, seria possível estabelecer a dimensão territorial de uma região, localizá-la e traçar seus limites.”(...),p87.
“A noção de região originou-se na Geologia. Foi trazida para a Geografia por L. Gallois, que escreveu uma importante obra Regiões naturais e nomes de lugares” (...), 87.
“Com Vidal, e de forma progressiva a partir dele, o conceito de região foi humanizado; cada vez mais, buscava-se sua individualidade nos dados humanos, logo, na história.”(...), p87.
“A idéia de região propiciou o que viria a ser majoritária e mais usual perspectiva de análise do pensamento geográfico: a Geografia Regional.”(...), 87.
elementos por eles levantados.”(
), “ levantamento de regiões predominantemente agrárias ensejou o
“No geral, o receituário, dos estudos de Geografia Regional tais estudos obedeciam a um modelo de exposição, que propunha os seguintes itens: Introdução, localizando a área estudada, com projeções cartográficas nacional e continental e um enquadramento zonal e pelas coordenadas; 1º capítulo: “as bases físicas” ou o “quadro físico”, enumerando as características de cada um dos elementos naturais presentes (relevo, clima, vegetação etc.); 2º capítulo: o “povoamento” ou as “fases da ocupação”, discutindo a formação histórica (primeiras explorações, atrativos econômicos no passado, fundação das cidades etc); 3º capítulo: a “estrutura agrária” ou o “quadro agrário”, descrevendo a população rural, a estrutura fundiária, o tipo de produção, as relações de trabalho, a tecnologia empregada no cultivo e na criação etc.; 4º capítulo: a “estrutura urbana” ou o “quadro urbano”, analisando a rede de cidades, a população urbana, os equipamentos e as funções urbanas, a hierarquia das cidades daquela região etc.; 5º capítulo: a “estrutura industrial” (quando esta existisse na região analisada), estudando o pessoal ocupado, a tecnologia empregada, a destinação da produção, a origem das matérias-primas empregadas, o número e tamanho dos estabelecimentos etc. E finalmente a Conclusão, em geral constituída por um conjunto de cartas, cada uma referente a um capítulo, as quais sobrepostas dariam relações entre os elementos da vida regional.”(...), p88. “O acúmulo de estudos regionais propiciou o aparecimento de especializações, que tentavam fazer a síntese de certos desenvolvimento de uma Geografia Agrária,”(...), “a estrutura fundiária, as técnicas de cultivo, as relações de trabalho etc”(...), “Geografia Urbana”, “Geografia das Indústrias, da População, ou do Comércio.”(...), p88 e 89.
“Destas especializações dos estudos regionais, a que manteve a perspectiva mais globalizante foi, sem dúvida, a Geografia Econômica”, “análise, a vida econômica de uma região, discutindo os fluxos, o trabalho, a produção etc. “(...), “articulava população, comércio, indústria, agricultura, transportes, enfim, variados elementos do quadro regional.”(...), p89.
A Geografia Econômica desenvolveu-se bastante, chegando a se constituir num domínio autônomo do pensamento geográfico, diferenciado e igualado em importância à Geografia Humana.”(...), p89.
“Contato, nos E.U.A., criou-se até uma nova disciplina intitulada (
), “Ciência Regional”(...), p89.
“Vidal de La Blache deixou influências também no pensamento dos historiadores, notadamente daqueles de língua francesa, no que toca à concepção deste com respeito à Geografia, e sua relação com a História.”(...), p90.
“Lucien Febvre. Este autor escreveu uma obra, que se tornou clássica, A Terra e a evolução humana, na qual apresenta as idéias de La Blache, confrontadas com as de Ratzel, desenvolvendo-as e defendendo-as das críticas levantadas contra a Geografia Humana, por E. Durkheim.”(...), p90.
“Febvre que criou os termos Determinismo e Possiblismo, assumindo integralmente o conteúdo deste último.”(...), p90.
“A proposta vidalina, foram múltiplos, desdobrou-se também uma Geografia Histórica”(...), com o “temas: a organização do espaço na Antiguidade, as vias comerciais da Europa na Baixa Idade Média, o gênero de vida numa aldeia galesa etc.”(...), p90.
“Max Sorre, na Geografia Francesa, avançou suas formulações, gerando uma proposta mais elaborada”(...), “publicou suas principais obras na década de 1940, manteve os fundamentos da proposta vidalina, porém desenvolvendo-a bastante. Apresentou a idéia de que a Geografia deve estudar as formas pelas quais os homens organizam seu meio, entendendo o espaço como “a morada do homem”.(...), p90.
O conceito central desenvolvido por Sorre foi o de habitat, uma construção humana, uma humanização do meio, que expressa as múltiplas relações entre o homem e o ambiente que o envolve, uma porção do planeta vivenciada por uma comunidade que a organiza.”(...), p90.
“O principal trabalho de Sorre, uma das grandes obras teóricas do pensamento geográfico, intitula-se Os fundamentos da Geografia Humana. “Os fundamentos biológicos” – estuda o clima (sua relação com as funções orgânicas e os limites que impõe ao homem), a relação entre o meio e a alimentação e o meio e as doenças e conclui com a idéia de associação entre o homem e seu ambiente”.(...), p90.
“As técnicas da vida social” – discute os agrupamentos humanos, as áreas de densidade elevada, as formas de energia utilizadas pelas diferentes sociedades, e a questão do domínio do espaço”.(...), p90.
mineração e indústria, discutindo-as em relação às condições naturais
e às
“As técnicas de produção e de transformação das matérias-primas” – estuda as formas da pecuária, coleta, agricultura, necessidades humanas”.(...), 90.
“O habitat” – relaciona a organização do habitat com o gênero de vida, analisa os tipos de habitat (rural e urbano), desde suas formas mais simples (o agrupamento nômade), até as mais complexas (como a metrópole industrial). Observa-se a envergadura da discussão empreendida.”(...), p91.
“A Geografia de Sorre pode ser entendida como um estudo da Ecologia do homem”, “da relação dos agrupamentos com o meio em que estão inseridos, processo no qual o homem transforma este meio. Assim, as condições do meio geográfico, fruto da ação dos homens, não seriam as mesmas daquele meio natural original.”(...), 91.
“o estudo de Sorre, partia da Cartografia: a idéia de uma sobreposição de dados da observação, num mesmo espaço, analisando historicamente a formação de cada elemento, desde os naturais (solo, vegetação etc) até os sociais (hábitos alimentares, religião etc)”(...), 91.
“A idéia de espaço geográfico de Sorre é a de espaços sobrepostos (o físico, o econômico, o social, o cultural etc) em inter-relação”. “A proposta de Sorre foi, sem dúvida, a reciclagem da Geografia Humana concebida por Vidal de La Blache.”(...). “Representou a segunda grande formulação da Geografia francesa, no sentido de um conhecimento geográfico global e unitário.”(...), p92.
M. Le Lannou e A. Cholley, foram propostas posteriores, que fecharam o ciclo da geografia Tradicional na França, publicadas já na década de cinqüenta.”(...). 92.
Lê Lannou concebeu a Geografia como eminentemente regional, definindo-lhe o objeto como “o homem habitante”. “entendeu a questão das formas de ocupação e exploração do solo, como a fundamental, e o estudo dos sistemas de trabalho e das instalações humanas, como importante”. “privilegiou a organização social, criticando o naturalismo (fala do “perigo” inerente a noção de meio); logo, reforçou o caráter humano do estudo geográfico. Porém, em última instância, vai concebê-lo como um “estudo dos agrupamentos e dos estabelecimentos humanos no planeta”.(...), 92.
“Cholley, a Geografia teria por objetivo as “combinações” existentes na superfície do planeta. Os “fatos geográficos” seriam, por essência, relações entre elementos, e caberia à análise entender o “equilíbrio” que os mesmos expressam”. “concebeu a Geografia como uma “ciência de complexos”, tentando, em sua proposta, restaurar a unidade entre a Geografia Física e Humana.”(...), p92.
Capítulo 8 Além do Determinismo e do Possibilismo: a proposta de Hartshorne
“A outra grande corrente do pensamento geográfico que se poderia denominar com certa impropriedade Geografia racionalista, menor carga empírica, vinculou-se aos nomes de A. Hettner e R. Hartshorne.”(...), p95.
“A Geografia racional, “privilegiou um pouco mais o raciocínio dedutivo, antecipando um dos móveis da renovação geográfica nos anos sessenta”. “decorreu da diferenciada fundamentação filosófica destes autores.”(...), p95.
“A geografia de Hettner e Hartshorne fundamentava-se no neokantismo de Rickert e Windelband.”(...), p95.
“Alfred Hettner foi um geógrafo alemão, professor da Universidade de Heidelberg e editor de uma das principais revistas geográficas de seu país, a Geographische Zeitchrift. Publicou suas obras entre 1890 e 1910, tendo sido assim influenciado pelo refluxo das críticas francesas às colocações de Ratzel.”(...), p95.
“Alfred Hettner, “a busca de um terceiro caminho para a análise geográfica, que não fosse o do Determinismo e o do Possibilismo. Hettner vai propor a Geografia como a ciência que estuda “a diferenciação de áreas”, isto é, a que visa explicar “por quê” e “em que” diferem as proporções da superfície terrestre; diferença esta que, para ele, é apreendida ao nível do próprio senso comum. (...), “A Geografia seria então o estudo dessas formas de inter-relação dos elementos, no espaço terrestre.”(...), p96.
“As idéias de Hettner encontraram escassa penetração em sua época. Talvez em função do domínio incontestado do Possibilismo, que atravessava sua fase áurea. Talvez em função do próprio isolamento cultural da Alemanha, resultante do belicismo de sua política exterior.”(...). “Foi somente através de sua retomada por Richard Hartshorne, um renomado geógrafo americano, que a proposta de Hettner passou a ser amplamente discutida.”(...), P96.
introduzira o pensamento de Hettner, porém, ao contrário dos anteriores, desenvolvendo-o e aprimorando-o.”(
).
O único autor de peso, surgido nos EUA, apartir dos anos trinta, era um especialista em Geomorfologia – William Davis. Em termos de uma Geografia Geral, os americanos acompanhavam o pensamento europeu: E. Semple havia introduzido as teses de Ratzel e do Determinismo; I. Brown, as de Brunhes e, com elas, o Possibilismo. Hartshorne P96.
“A Geografia americana se desenvolveu apartir duas grandes escolas de Geografia. Uma, na Califórnia, aproximou-se bastante da Antropologia, elaborando a Geografia Cultural. Seu mais destacado formulador foi Carl Sauer, que propôs o estudo das “paisagens culturais”, isto é, a análise das formas que a cultura de um povo cria, na organização de seu meio. A outra, batizada de escola do Meio-Oeste, aproximouse da Sociologia funcionalista e da Economia, propondo estudos como o da organização interna das cidades, o da formação da rede de transportes etc.”(...), 97.
Geral) e explicitamente metodológico.(
), “publicou em 1939 um livro, A natureza da Geografia, que foi
“A produção de Hartshorne que encontrou maior repercussão, dado o seu caráter amplo (em busca de uma Geografia mundialmente discutido. Dos debates ensejados por esta obra, das críticas e sugestões levantadas, retirou o material para escrever outro livro, Questões sobre a natureza da Geografia, publicado em 1959, que apresentou o conteúdo final da sua proposta.
“Para Hartshorne, o estudo geográfico não isolaria os elementos, ao contrário trabalharia com suas inter-relações.”(...), p97.
“Para Hartshorne, a Geografia seria um estudo da “variação de áreas”.(...). Os conceitos básicos formulados por Hartshorne foram os de “área”, uma parcela da superfície terrestre, e de “integração”, ambos referidos ao método.(...), p98.
“Para Hartshorne, uma área possuiria múltiplos processos integrados, sendo uma fonte inesgotável de inter-relações. O conjunto de todas as inter-relações possíveis daria a realidade total da área, porém sua apreensão seria impossível; logo, buscar a exaustão seria anticientífico.”(...), p99.
“Hartshorne argumentou que os fenômenos variam de lugar a lugar, que as suas inter-relações também variam, e que os elementos possuem relações internas e externas à área”(...). “cada área seria dado pela integração de fenômenos inter-relacionados”. “a análise deveria buscar a integração do maior número possível de fenômenos interrelacionados.”(...) . “Pesquisador seleciona dois ou mais fenômenos (p. ex. clima, produção agrícola, tecnologia disponível), observa-os na área escolhida, relaciona-os. Seleciona outros (p. ex. topografia, estrutura fundiária, relações de trabalho), observa-os, relaciona-os; repete várias vezes este procedimento, tentando abarcar o maior número de fenômenos (tipo de solo, destinação da produção, número de cidades, tamanho do mercado consumidor, hidrografia etc.); uma vez de posse de vários conjuntos de fenômenos agrupados e inter-relacionados, integra-os interrelacionando os conjuntos; repete todo este procedimento, com novos fenômenos, ou novos agrupamentos dos mesmos fenômenos, em conjuntos diferentes; afinal, integram-se, entre si, os conjuntos já integrados separadamente.”(...), p99.
local.”(
), p100.
“A esta forma de estudo Hartshorne denominou a Geografia Idiográfica. Seria uma análise singular (de um só lugar) e unitária (tentando apreender vários elementos), que levaria a um conhecimento bastante profundo de determinado
“Hartshorne também propôs uma segunda forma de estudo, por ele denominada Geografia Nomotética. Esta deveria ser generalizadora, apesar de parcial. No estudo nomotético, o pesquisador pararia na primeira integração, e reproduzila-ia (tomando os mesmos fenômenos e fazendo as mesmas inter-relações) em outros lugares. As comparações das integrações obtidas permitiriam chegar a um “padrão de variação”, daqueles fenômenos tratados.”(...), p100.
“A proposta de Hartwhorne, que foi amplamente discutida pois abria novas perspectivas para o estudo geográfico. A Geografia Nomotética possibilitou análises tópicas, isto é, centradas em um conjunto articulado de temas; por exemplo, uma Geografia do Petróleo, discutindo uma integração de fenômenos associados a este produto, numa escala mundial; ou uma Geografia da Monocultura, ou uma Geografia do Café, ou do Cacau, ou ainda uma Geografia da Pesca, ou do Transporte Marítimo etc.”(...), p100.
“As propostas de Hartshorne, por um lado, e de Cholley e Le Lannou”, “finalizaram um ciclo, da Geografia tradicional, que teve sua unidade dada pela aceitação de certas máximas tidas como verdadeiras, a saber: a idéia de ciência de síntese, de ciência empírica e de ciência de contato.”(...), 100.
“Cabe agora analisar o saldo desta Geografia”, “Em primeiro lugar, a Geografia Tradicional deixou uma ciência elaborada, um corpo de conhecimentos sistematizados, com relativa unidade interna e indiscutível continuidade nas discussões. Deixou fundamentos, que mesmo criticáveis, delimitaram um campo geral de investigações, articulando uma disciplina autônoma. Nesse processo, elaborou um temário válido, independente das teorias que desenvolveu; esse temário restou como a grande herança do pensamento geográfico tradicional.”(...), p101.
“Em segundo lugar, a Geografia Tradicional elaborou um rico acervo empírico, fruto de um trabalho hexaustivo de levantamento de realidades locais”. “Constituem um substantivo material para pesquisas posteriores, pois apresentam dados minuciosos sobre situações singulares.”(...), p101.
“A Geografia elaborou alguns conceitos (como território, ambiente, região, habitat, área etc.) que merecem ser rediscutidos. Sua crítica permitirá um avanço, no trato das questões a que se referem.”(...), p101.
Capítulo 9 O movimento de renovação da Geografia
“A Geografia conhece hoje um movimento de renovação considerável, que advém do rompimento de grande parte dos geógrafos com relação à perspectiva tradicional.”(...), 103.
“Há uma crise de fato da Geografia Tradicional, “em meados da década de cinqüenta e se desenvolvem aceleradamente nos anos posteriores (...), “e esta enseja a busca de novos caminhos, de nova linguagem, de novas propostas, enfim, de uma liberdade maior de reflexão e criação”. “E, novamente, pergunta-se sobre o objeto, o método e o significado da Geografia.”(...), p103.
“Os geógrafos vão abrir-se para novas discussões e buscar caminhos metodológicos até então não trilhados.”(...), p103.
“Esta crise é benéfica, pois introduz um pensamento crítico, frente ao passado dessa disciplina e seus horizontes futuros. Introduz a possibilidade do novo, de uma Geografia mais generosa.”(...), p103.
“As razões da crise(...), (...) “em primeiro lugar, a alteração na base social”, “o desenvolvimento do modo de produção capitalista havia superado seu estágio concorrencial, entrando na era monopolista”, “o liberalismo econômico já estava enterrado; a grande crise de 1929 havia colocado a necessidade da intervenção estatal na economia. Haviam caído por terra as teses da livre iniciativa, da ordem natural e auto-regulada do mercado. Propunha-se agora a ação do Estado na ordenação e regulação da vida econômica. O planejamento econômico estava estabelecido como uma arma de intervenção do Estado. E, com ele, o planejamento territorial, com a proposta de ação deliberada na organização do espaço.”(...), p104.
(...) “Em segundo lugar, o desenvolvimento do capitalismo havia tornado a realidade mais complexa. A urbanização atingia graus até então desconhecidos, apresentando fenômenos novos e complexos, como as megalópoles. O quadro agrário também se modificara, com a industrialização e a mecanização da atividade agrícola, em várias partes do mundo. As comunidades locais tendiam a desaparecer, articulando-se a intrincadas redes de relações, próprias da economia mundializada da atualidade. O lugar já não se explicava em si mesmo; os centros de decisão das atividades ali desenvolvidas localizava-se muitas vezes, a milhares de quilômetros.”(...), p104 e 105.
“O movimento de renovação vai buscar novas técnicas para a análise geográfica. De um instrumental elaborado na época do levantamento de campo, vai se tentar passar para o sensoriamento remoto, as imagens de satélite, o computador.”(...), 105.
Em terceiro lugar, “o próprio fundamento filosófico, sobre o qual se assentava o pensamento geográfico tradicional, havia ruído.”(...), 105.
“O movimento de renovação, ao contrário da Geografia Tradicional, não possui uma unidade; representa mesmo uma dispersão, em relação àquela. Tal fato advém da diversidade de métodos de interpretação e de posicionamentos dos autores que o compõem.”(...), p107.
“A busca do novo foi empreendida por variados caminhos; isto gerou propostas antagônicas e perspectivas excludentes. O mosaico da Geografia Renovada é bastante diversificado, abrangendo um leque muito amplo de concepções.”(...), p108.
“A divisão do movimento de renovação da Geografia em duas vertentes, a Crítica e a Pragmática, está assentado na polaridade ideológica das propostas efetuadas.”(...), “O critério adotado e o da concepção de mundo dos autores, vista como decorrente de posicionamentos sociais e/ou engajamentos políticos.”(...), 108.
Capítulo 10 A Geografia Pragmática
“A Geografia Pragmática efetua uma crítica apenas à insuficiência da análise tradicional. Não vai aos seus fundamentos e à sua base social. Ataca, principalmente, o caráter não-prático da Geografia Tradicional.”(...), p109.
“Esta “disciplina teve sempre uma ótica retrospectiva, argumentam seus seguidores, isto é falava do passado, era um conhecimento de situações já superadas.”(...), “não informava a ação, não previa; logo, era inoperante como instrumento de intervenção na realidade.”(...), p109.
“Os autores pragmáticos vão propor uma ótica prospectiva, um conhecimento voltado para o futuro, que instrumentalize uma Geografia aplicada.”(...), “intuito geral é o de uma “renovação metodológica”, o de buscar novas técnicas e uma nova linguagem, que dê conta das novas tarefas postas pelo planejamento.”(...), p109.
“A finalidade explícita é criar uma tecnologia geográfica, um móvel utilitário. Daí sua denominação de pragmática.”(...), p109.
“Este objetivo é expressado claramente por vários autores; M. Philipponeau, por exemplo, escreve um livro intitulado Geografia e ação: introdução à Geografia Aplicada,”(...), p109.
“A crítica dos autores pragmáticos à Geografia Tradicional fica num nível formal.”(...), “ “um questionamento da superfície da crise, não de seus fundamentos”, “É uma crítica “acadêmica”, que não toca nos compromissos sociais do pensamento tradicional.”(...), p109.
“A Geografia Pragmática é uma tentativa de contemporaneizar”(...), “o planejamento é uma nova função, posta para as ciências humanas pelas classes dominantes; é um instrumento de dominação, a serviço do Estado Burguês”(...), “em vista dessa nova função, (planejar) este campo específico do conhecimento, sem romper seu conteúdo de classe.”(...), p110.
“Suas propostas visam apenas uma redefinição das formas de veicular os interesses do capital, daí sua crítica superficial à Geografia Tradicional.”(...), “Uma mudança de forma, sem alteração do conteúdo social.”, “ Uma atualização técnica e lingüística.”(...), p110.
“conhecimento que levanta” (...)” “legitima a expansão das relações capitalistas, para um saber que orienta esta expansão, fornecendo-lhe opções e orientando as estratégias de alocação do capital no espaço terrestre.”(...), p110.
“O pensamento geográfico pragmático e o tradicional possuem uma continuidade, dada por seu conteúdo de classe – instrumentos práticos e ideológicos da burguesia.
“Ocorre a passagem, ao nível dessa disciplina, do positivismo clássico para o neopositivismo. Troca-se o empirismo da observação direta (do “ater-se aos fatos” ou dos “levantamentos dos aspectos visíveis”) por um empirismo mais abstrato, dos dados filtrados pelas estatística (das “médias, variâncias e tendências”). Do trato direto com o trabalho de campo, o estudo filtrado pela parafernália da cibernética. Nesse processo, sofistica-se o discurso geográfico, tornam-se mais complexas a linguagem e as técnicas empregadas.”(...), p110.
Da submissão total aos procedimentos indutivos (e toda a Geografia Tradicional faz o elogio da indução) passa-se a aceitar também o raciocínio dedutivo. Da contagem e enumeração direta dos elementos da paisagem, para as médias, os índices e os padrões. Da descrição, apoiada na observação de campo, para as correlações matemáticas expressas em índices. Nesse processo, há um empobrecimento do grau de concretude do pensamento geográfico.”(...), p110 e 1.
“A Geografia Pragmática vai se substantivar por algumas propostas diferenciadas. Uma primeira via de sua objetivação é a Geografia Quantitativa, defendida,”(...), “Na obra de G. Dematteis, Revolução quantitativa e Nova Geografia.”(...), p111.
Todas as questões aí tratadas – as relações e inter-relações de fenômenos de elementos, as variações locais da paisagem, a ação da natureza sobre os homens etc. – seriam passíveis de ser expressas em termos numéricos (pela medição de suas manifestações) e compreendidas na forma de cálculos.”(...), p111.
“Os avanços da estatística e da computação propiciam uma explicação geográfica. Por exemplo, ao se estudar uma determinada região, a análise deveria começar pela contagem dos elementos presentes (número de estabelecimentos agrícolas, total de população, extensão, número e tamanho das vilas e cidades etc.); este procedimento forneceria tabelas numéricas de cada dado, as quais seriam trabalhadas estatisticamente pelo computador (médias, variâncias, desvio-padrão, medianas etc.) e relacionadas (correlação simples e múltipla, regressão linear, covariação, análise de agrupamento etc.); ao final, surgiriam resultados numéricos, cuja interpretação daria a explicação da região estudada.(...), p111.
“Outra via de objetivação da Geografia Pragmática vem da teoria dos sistemas; daí ser chamada Geografia Sistêmica ou Modelística. Esta, expressa por exemplo nas colocações de Brian Berri, propõe o uso de modelos de representação e explicação no trato dos temas geográficos.”(...), p112.
“von Thünen, que concebeu uma teoria explicando a localização da produção agrícola, em função da distância do mercado: construiu um modelo de círculos concêntricos, tendo por centro uma cidade; no primeiro círculo, ao redor desta, localizar-se-iam os produtos hortifrutigranjeiros (os mais perecíveis); num segundo, a agricultura de grãos de abastecimento; no terceiro, a criação etc.(...), p112.
“Christraller: este autor visava explicar a hierarquia das cidades, com relação ao poder de atração exercido por uma metrópole, em virtude do equipamento nela existente.”(...), p112.
“Estal e Buchanan, onde a localização de uma indústria é explicável por um equilíbrio entre o mercado consumidor, o mercado de mão-de-obra e as reservas de matérias-primas. Estes modelos expressariam um grande nível de generalidade, sendo válidos para qualquer ponto da superfície terrestre.”(...), p112 e 113.
“O modelo tentaria expressar a estrutura do sistema, em Geografia o “geossistema”, ou o “ecossistema”, os “sistemas de cidades”, ou a organização regional como “subsistema do sistema nacional”.(...), “seriam tantos quantos os sistemas existentes no real, passíveis de uma análise geográfica.”(...), p113.
“A Geografia Quantitativa, o uso dos modelos e da teoria dos sistemas articulam-se numa proposta que, no Brasil, se desenvolveu sob a denominação de Geografia Teorética, má tradução do termo inglês “theoretical” (teórica), que nominava esta perspectiva (constitui-se na espinha dorsal da renovação pragmática), genérica e explicativa do pensamento geográfico.”(...), p113.
Poder-se-ia lembrar a “teoria dos jogos”, vendo a ação dos homens como fruto de opções, num rol de possibilidades dado pela natureza; ou ainda, a teoria da “difusão de inovações”, que busca explicar como a modernização penetra num dado meio social. Estas teorias, e aqui foram vistos apenas dois exemplos, elaboram-se com o uso do instrumental quantitativo, sistêmico e modelístico. São operações específicas da Geografia Pragmática. Do que foi apresentado, podes-se ter uma idéia geral desta perspectiva. O número de propostas, por ela desenvolvidas, é bastante elevado, seja pela via da Geografia Quantitativa, seja pela Sistêmica, seja ainda pela combinação destas duas em teorias singulares.
“Geografia Pragmática,(...), “se aproxima da Psicologia, formulando o que se denomina Geografia da Percepção ou Comportamental.”(...), que, “busca entender como os homens percebem o espaço por eles vivenciado, como se dá sua consciência em relação ao meio que os encerra, como percebem e como reagem frente às condições e aos elementos da natureza ambiente, e como este processo se reflete na ação sobre o espaço.”(...), p114. “Os seguidores (...), “tentam explicar a valorização subjetiva do território, a consciência do espaço vivenciado, o comportamento em relação ao meio.”(...), p114.
“As pesquisas efetuadas abordam temas como os seguintes: o comportamento do homem urbano, em relação aos espaços de lazer; a influência das formas, na produtividade do trabalho; a relação das sociedades com a natureza, expressas na organização dos parques; a atitude frente a novas técnicas de plantio, numa determinada comunidade rural; a concepção e as formas de representação do espaço, numa sociedade indígena africana, entre outros.”(...), p 114.
“A Quantitativa permite a elaboração de “diagnósticos” sobre um determinado espaço, apresentando uma descrição numérica exaustiva sobre as suas características, e ainda as tendências da evolução dos fenômenos ali existentes.”(...), p114.
“A Geografia Pragmática desenvolve uma tecnologia de intervenção na realidade. Esta é uma arma de dominação, para os detentores do Estado. Em si mesma, é apenas um acervo de técnicas, que se transforma em ideologia, ao tentar dissimular seu componente e sua eficácia política, ao se propor como processo neutro e puramente objetivo.(...), p115.
Os “critérios técnicos, mascara o conteúdo de classe das soluções almejadas e dos interesses defendidos na ação planejadora.”(...), p115.
“A Geografia Pragmática é um instrumento da dominação burguesa. Um aparato do Estado capitalista. Seus fundamentos, enquanto um saber de classe, estão indissoluvelmente ligados ao desenvolvimento do capitalismo monopolista.”(...), p116.
“Ela defende: a maximização dos lucros, a ampliação da acumulação de capital, enfim, a manutenção da exploração do trabalho.”(...), “mascara as contradições sociais, legitima a ação do capital sobre o espaço terrestre.”(...), p116.
É uma arma prática de intervenção (...), “ideológica, no sentido de tentar fazer passar como “medidas técnicas” (logo, neutras e cientificamente recomendadas” a ação do Estado na defesa de interesses de classe.”(...), p116.
Ao “manter a base social do pensamento geográfico tradicional faz dela a via conservadora do movimento de renovação dessa disciplina.”(...), p116.
“A crítica da Geografia Pragmática alimenta o embate ideológico atual, ao nível dessa disciplina.”, “empreendida por aquela vertente do movimento de renovação, que se denomina Geografia Crítica.”(...), p116.
“Um questionamento levantado ao conjunto de propostas, que constituem a Geografia Pragmática, incide no empobrecimento que ela introduz na reflexão geográfica.”(...), p117.
“A Geografia Tradicional, em função da prática da observação direta (da pesquisa de campo), concebia o espaço em sua riqueza (em sua complexidade). A Geografia Pragmática, ao romper com estes procedimentos, simplifica arbitrariamente o universo da análise geográfica, torna-o mais abstrato, mais distante do realmente existente.”(...), 117.
“Seus autores empobrecem a Geografia, ao conceber as múltiplas relações entre os elementos da paisagem, com relações matemáticas, meramente quantitativas. Empobrecem a Geografia, ao conceber a superfície da Terra (para o pensamento tradicional a “morada do homem” ou o “teatro da História”), como um espaço abstrato de fluxos, ou uma superfície isotrópica, sob a qual se inclina o planejador, e assim a desistoricizam e a desumanizam.”(...),p117.
“Empobrecem a Geografia ao conceber a região (no pensamento tradicional o “fruto de um processo histórico”) como a região-plano, a área de intervenção, cuja dinâmica é dada pela ação do planejador.”(...), p117.
“Geografia Tradicional era mais rica, possuía maior grau de concretude, maior correspondência ao real. É esse o sentido do empobrecimento aludido, que vem acompanhado de uma sofisticação técnica e lingüística.”(...), p117.
“O saldo da Geografia Pragmática é um desenvolvimento técnico, minimizado frente ao empobrecimento real da análise por ela empreendida.”(...), p118.
“As várias correntes da Geografia Pragmática representam uma das opções postas para quem faz Geografia na atualidade. Sua aceitação decorrerá do posicionamento social do geógrafo, sendo assim um ato político, uma opção de classe.”(...), p118
Capítulo 1 A Geografia Crítica
“Movimento de renovação do pensamento geográfico, agrupa aquele conjunto de propostas que se pode denominar Geografia Crítica.”(...), “postura crítica radical, frente à Geografia existente (seja a Tradicional ou a Pragmática), a qual será levada ao nível de ruptura com o pensamento anterior.”(...), p119.
“O designativo de crítica diz respeito, principalmente, a uma postura frente à realidade, frente à ordem constituída.”(...), “os autores que se posicionam por uma transformação da realidade social, pensando o seu saber como uma arma desse processo.”(...), p119.
“Assumem o conteúdo político de conhecimento científico, propondo uma Geografia militante, que lute por uma sociedade mais justa. São os que pensam a análise geográfica como um instrumento de libertação do homem.”(...), p119.
“Os autores da Geografia Crítica vão fazer uma avaliação profunda das razões da crise”(...),.” Vão além de um questionamento acadêmico do pensamento tradicional, buscando as suas raízes sociais (...), “criticam o empirismo exacerbado da Geografia Tradicional”(...), “despolitização ideológica do discurso geográfico, que afastava do âmbito dessa disciplina a discussão das questões sociais.”(...), p119.
“Seus autores mostram as vinculações entre as teorias geográficas e o imperialismo, a idéia de progresso veiculando sempre uma apologia da expansão”(...), p120.
“Atingem assim seu caráter ideológico, que via a organização do espaço como harmônica; via a relação homemnatureza, numa ótica que acobertava as relações entre os homens; via a população de um dado território, como um todo homogêneo, sem atentar para a sua divisão em classes.”(...), p120.
“Os geógrafos críticos apontaram a relação entre a Geografia e a superestrutura da dominação de classe, na sociedade capitalista.”(...), “Desvendam as máscaras sociais aí contidas, pondo à luz os compromissos sociais do discurso geográfico, seu caráter classista.(...), p120.
“O autor que formulou a crítica mais radical da Geografia Tradicional foi, sem dúvida, Yves Lacoste, em seu livro A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra.” (...), p120.
“Lacoste argumenta que o saber geográfico manifesta-se em dois planos: a “Geografia dos Estados- Maiores”e a “Geografia dos Professores”.(...), p120.
“Geografia dos Estados- Maiores”(...) “existiu ligada à própria prática do poder.”(...), p120. A “Geografia dos Professores” seria a que foi aqui denominada de tradicional. Esta, para Lacoste, tem uma dupla função: Em primeiro lugar, mascarar a existência da “Geografia dos Estados-Maiores”, apresentando o conhecimento geográfico como um saber inútil; assim, mascarar o valor estratégico de saber pensar o espaço, tornando-o desinteressante, para a maioria das pessoas.”(...), p121.
“Geografia dos Professores” serve para levantar, de uma forma camuflada, dados para a “Geografia dos Estados- Maiores”, e, assim, fornecer informações precisas, sobre os variados lugares da Terra, sem gerar suspeita, pois tratarse-ia de um conhecimento eminentemente apolítico, e, ainda mais, inútil.(...), p121.
“A crítica de Lacoste”(...) “coloca a Geografia como instrumento de dominação da burguesia, dotado de alto potencial prático e ideológico (...), p 121.
“O questionamento das teses tradicionais, efetuado pela Geografia Crítica”, “aponta para propostas de renovação, que implicam uma ruptura com a Geografia Tradicional, e, mais que isso, na construção de um conhecimento que lhe seja antagônico, de um discurso que a combata, de teorias que se contraponham às tradicionais.”(...), “definir seu trabalho como “guerrilha epistemológica”.(...), 121.
“Propõem a Geografia como mais um elemento na superação da ordem capitalista.(...), p122.
“Este autor admite que os detentores do poder (seja o Estado ou a grande empresa) sempre possuem uma visão integrada do espaço, dada pela intervenção articulada em vários lugares.”(...), “o cidadão comum tem uma visão fracionada do espaço, pois só concebe os lugares abarcados por sua vivência cotidiana, e só esporadicamente possui informações (e mesmo assim truncadas) da realidade de outros lugares.(...), p122.
“Estado tem uma visão integrada articulada do espaço, pois age sobre todos os lugares, e isto se transforma numa arma a mais de dominação.”(...), p122.
“Lacoste, argumenta, é necessário construir uma visão integrada do espaço, numa perspectiva popular, e socializar este saber, pois ele possui fundamental valor estratégico nos embates políticos.”(...), p122.
“é necessário saber pensar o espaço, para saber nele se organizar, para saber nele combater”.(...), p122.
“Lacoste define, de forma clara, os objetivos e a postura da Geografia Crítica”(...), “assume inteiramente um conteúdo político explícito, que aparece de forma cabal na sua afirmação, “a Geografia é uma prática social em relação à superfície terrestre”,(...), p122.
“D. Harvey, “a questão do espaço não pode ser uma resposta filosófica para problemas filosóficos, mas uma resposta calçada na prática social”;(...), p123.
“M. Santos, “o espaço é a morada do homem, mas pode ser também sua prisão”.(...), p123.
“A renovação geográfica passa a ser pensada, em termos de teoria e prática”, “basta explicar o mundo, pois cumpre transformá-lo”(...), p123.
“A Geografia Crítica tem suas raízes na ala mais progressista da Geografia Regional francesa.”(...), p123.
“Jean Dresch aparece, no seio desse movimento, como um exemplo único de afirmação de um discurso político crítico; suas teorias foram já uma antecipação (Dresch escreve suas obras nas décadas de 30 e 40).(...), p123.
“A Geografia Regional francesa aproximou-se da História e da Economia. É no bojo desse processo que germinam as primeiras manifestações de um pensamento geográfico crítico, ao se introduzir na análise regional novos elementos.”(...), p123. A primeira manifestação clara dessa renovação crítica pode ser detectada na proposta da Geografia Ativa, nome de um livro (escrito por P. George, Y. Lacoste, B. Kayser e R. Guglielmo), que marcou toda uma geração de geógrafos.”(...), p123.
“A Geografia Ativa opunha-se à Geografia Aplicada. Sua proposta era a de executar um tipo de análise, que colocasse a descoberto as contradições do modo de produção capitalista, nos vários quadros regionais.(...), p123 e124.
(...) A Geografia Ativa “ensejava assim uma Geografia de denúncia de realidades espaciais injustas e contraditórias”. “explicar as regiões, mostrando não apenas suas formas e sua funcionalidade, mas também as contradições sociais aí contidas: a miséria, a subnutrição, as favelas, enfim as condições de vida de uma parcela da população, que não aparecia nas análises tradicionais de inspiração ecológica.”(...), p124.
“Geografia de denúncia não rompia, em termos metodológicos, com a análise regional tradicional. Mantinha-se a tônica descritiva e empirista, apenas passava-se a englobar no estudo tópicos por ela não abordados.”(...), p124.
“A obras como a Geografia da Fome de Josué de Castro, ou a Geografia do Subdesenvolvimento de Y. Lacoste”, “introduziam-se novos temas, mantendo os procedimentos gerais da análise regional”, “ Fazia uma descrição da vida regional, que não encobria as contradições existentes no espaço analisado.(...), p124.
“A realidades tão contraditórias, que sua simples descrição adquiria uma força considerável de denúncia, fazendo da Geografia um instrumento de ação política”(...), “ Estes estudos tiveram um papel significativo, pois abriram novos horizontes para os geógrafos, ao apontarem uma perspectiva de engajamento social, de atuação crítica.”(...), p124.
O autor que mais se destacou dentro desse movimento foi”, “Pierre Geogrge. Seu grande mérito foi introduzir pioneiramente alguns conceitos marxistas na discussão geográfica”(...). “Este autor vai tentar uma conciliação da metodologia da análise regional com o instrumental conceitual do Materialismo Histórico.”(...), p125.
Pierre Geogrge, “assim, discute as relações de produção, as relações de trabalho, a ação do grande capital, as forças produtivas etc., em suas análises regionais.(...), p125.
P. Geogrge elabora uma extensa obra, constituída de ensaios, como Sociologia e Geografia; manuais, como Geografia Econômica; e estudos concretos, tanto monográficos, como Geografia da U.R.S.S. ou Europa Central, quanto sintéticos, como A ação do homem ou Panorama do mundo atual.(...), P125.
“A Geografia de denúncia não realizou por inteiro a crítica da Geografia Tradicional, apesar de politizar o discurso geográfico”(...). “ela se mostrou problemática, sem que isso atentasse à sua importância e eficácia política.(...), P125.
“A Geografia Crítica também se desenvolveu bastante a partir dos estudos temáticos, notadamente aqueles dedicados ao conhecimento das cidades (que não devem ser confundidos com a Geografia Urbana tradicional)”. “particularmente importante a contribuição dada por autores não-geógrafos.”(...), p125.
“O contato com teorias extra-geográficas foi bastante benéfico; basta pensar na influência de um sociólogo, como M. Castels, ou de um filósofo, como H. Lefebvre; o primeiro através de seu livro já clássico A questão urbana, o segundo através de obras como A produção do espaço e Espaço e Política.”(...), p126.
“A influência de urbanistas, como J. Lojikne ou M. Folin, também é sensível.”(...), p126.
“M. Foucault deve ser mencionado, por suas colocações sobre a relação entre o espaço e o poder, contidas em Microfísica do Poder.”(...), p126.
“A Geografia Crítica abre para um leque bastante amplo de influências “externas”, “romper o isolamento do geógrafo é também uma de suas metas.”(...), p126.
“Destaque deve ser dado para a figura de David Harvey. Este autor esteve na vanguarda do neopositivismo da reflexão geográfica; depois rompeu radicalmente com a perspectiva pragmática, escrevendo uma obra que traduz uma profunda autocrítica: A justiça social e a cidade”, faz a crítica das teorias liberais sobre a cidade, e assume uma postura socialista”(...), “uma leitura das colocações marxistas, tentando empregar a teoria da renda fundiária na análise da valorização do espaço urbano.”(...), p126.
David Harvey, “analisa o uso do solo, um tema clássico da Geografia, à luz das categorias do valor-de-uso e do valordetroca”(...), “Nessa reflexão, adianta bastante as formulações a respeito de uma dialética do espaço, e chega a algumas concepções interessantes, como, por exemplo, a de “ver as formas espaciais enquanto processos sociais no sentido de que os processos sociais são espaciais”.”(...), p126.
“A expansão espacial das relações capitalistas de produção, as formas espaciais e os fluxos gerados, a organização do espaço implementada por este modo de produção, enfim, a lógica do capital na apropriação e ordenação dos lugares”(...), “podem-se destacar as formulações de A. Lipietz, que escreveu uma obra intitulada O capital e seu espaço; de F. Indovina e D. Calabi, que escreveram um sugestivo artigo sobre o uso capitalista do território, e do mesmo F. Indovina, autor do interessante trabalho Capital e Território.(...), p127.
“Em todos estes trabalhos, tenta-se entender a essência da organização do espaço terrestre no modo de produção capitalista”(...), “tal finalidade, retoma-se a discussão de questões como a relação entre a sociedade e o solo, o Estado e o território e os recursos e a atividade econômica”(...), “questões são integradas num contexto de discussão, informado pela Economia Política e orientado pelo legado teórico de Marx.(...), p127.
“Os caminhos buscados pelas várias propostas da Geografia Crítica são numerosos, diferentes, e todos igualmente importantes. (...), p127.
“algumas abordando pontos especificamente metodológicos, como Geografia e Ideologia de J. Anderson, ou à Geografia Pragmática, como Geografia e Tecnoburocracia de Melhem Adas.”(...), p127.
“Há de se destacar o papel das revistas Herodote e Antípoda, na veiculação desta bibliografia crítica. Alguns eventos, - como o congresso organizado pelo Instituto Gramsci, versando sobre o tema “Homem, natureza e sociedade: ecologia e relações sociais” – também se articulam com este esforço renovador.”(...), p127.
“ Concepção mais global de Geografia, cabe uma exposição mais minuciosa da proposta de Milton Santos, apresentada em seu livro Por uma Geografia nova”(...), “expressa uma tentativa sintética de outros trabalhos desse autor, representando uma proposta geral para o estudo geográfico – é assim um livro de claro conteúdo normativo.”(...), “avaliar criticamente a Geografia Tradicional, a crise do pensamento geográfico e as principais propostas de renovação, efetivadas pela Geografia Pragmática,”(...), p128.
M. Santos passa a expor sua concepção do objeto geográfico. Tenta dar uma resposta para a questão primordial desse volume: o que é a Geografia. Ou, melhor, como deve ser a análise do geógrafo. Cabe apresentar mais detalhadamente esta proposta, que é uma das mais amplas e substantivas empreendidas pela Geografia Crítica.”(...), p128.
“Milton Santos argumenta que é necessário discutir o espaço social, e ver a produção do espaço como o objeto”, “espaço social ou humano é histórico, obra do trabalho, morada do homem. É assim uma realidade e uma categoria de compreensão da realidade.(...), p128.
“Diz que se deve ver o espaço como um campo de força, cuja energia é a dinâmica social. Que ele é um fato social, um produto da ação humana, uma natureza socializada, que pode ser explicável pela produção.(...), p128.
“Afirma, que o espaço também é um fator, pois é uma acumulação de trabalho, uma incorporação de capital na superfície terrestre, que cria formas duráveis, as quais denomina “rugosidades”. Estas criam imposições sobre a ação presente da sociedade; são uma “inércia dinâmica” – tempo incorporado na paisagem – e duram mais que o processo que as criou.”(...), p128.
“As formas espaciais são resultados de processos passados, mas são também condições para processos futuros.”(...), p129.
“Milton Santos argumenta que toda atividade produtiva dos homens implica numa ação sobre a superfície terrestre, numa criação de novas formas, de tal modo que “produzir é produzir espaço”.(...), p129.
“Afirma que a organização do espaço é determinada pela tecnologia, pela cultura e pela organização social da sociedade, que a empreendem.”(...), p129.
“Na sociedade capitalista, a organização espacial é imposta pelo ritmo de acumulação”.(...), p129.
“O autor diz ainda que a unidade de análise do geógrafo deve ser o Estado Nacional, pois, só levando em conta esta escala, pode-se compreender os vários lugares contidos em seu território.”(...). 129.
“O Estado é o agente de transformação, de difusão e de dotação.”(...), p129.
“O Estado manifesta o modo de produção, nas várias porções da Terra e é por este determinado; logo, passa a sua lógica ao estabelecer e dirigir a ordem espacial.”(...), p129.
“M. Santos avança sua proposta. Coloca que as diferenças dos lugares são naturais e históricas, e que a variação da organização do espaço é fruto de “uma acumulação desigual de tempo.”(...), p129.
“Há um contínuo processo de modernização em curso, que não atinge todos os lugares ao mesmo tempo, que é estimulado pelo Estado, e que obedece à lógica do capital e não aos interesses do homem (manifestando-se então como uma modernização maldosa).(...), p130.
“É tal processo que deve ser objeto de preocupação dos geógrafos, que o analisarão, em cada manifestação concreta, tendo em vista uma Geografia mais generosa e vendo o espaço como um lugar de luta.”(...), p130.
“As formulações de Milton Santos representam uma das propostas da Geografia Crítica, exemplificando bem a postura política e o posicionamento social que a caracterizam.”(...), p130.
“Pode-se dizer que a Geografia Crítica é uma frente, onde obedecendo a objetivos e princípios comuns, convivem propostas díspares.”(...), p131.
“A unidade da Geografia Crítica manifesta-se na postura de oposição a uma realidade social e espacial contraditória e injusta, fazendo-se do conhecimento geográfico uma arma de combate à situação existente.” “É uma unidade de propósitos dada pelo posicionamento social, pela concepção de ciência como momento da práxis, por uma aceitação plena e explícita do conteúdo político do discurso geográfico.”(...), p131.
“A Geografia na atualidade estimula a reflexão; a queda das “verdades” fossilizadas age nesse sentido. Buscam-se novos caminhos, questionam-se velhas concepções, tentam-se novas fórmulas.”(...), p131.
“A Geografia Crítica é um desafio, e uma promessa.”(...), p132.
“O movimento de renovação, atualmente em curso na Geografia, com suas duas vertentes, reproduz, ao nível desse campo específico do conhecimento, o embate ideológico contemporâneo – reflexo, no plano da ciência, da luta de classes na sociedade capitalista.”(...), p132.
“Os geógrafos críticos, em suas diferenciadas orientações, assumem a perspectiva popular, a da transformação da ordem social. Buscam uma Geografia mais generosa e um espaço mais justo, que seja organizado em função dos interesses dos homens.”(...), p132.

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