DISCIPLINA:
EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO – CH 80h PROFESSOR: WALBER LOPES DE ABREU
TÉCNICA DE
FICHAMENTO GEOGRAFIA – PEQUENA HISTÓRIA CRÍTICA Antônio Carlos Robert de Moraes
TURMA: C831NF
ALUNO: LEONARDO SOUSA DOS SANTOS - 200883168
BELÉM – PARÁ 2008
I. Identificação da
Obra MORAES, A. C. R. de. Geografia – Pequena História Crítica. São Paulo:
Hucitec, 1981.
I. Resumo da Obra
(por capítulos seguidos de parágrafos transcritos literalmente e/ou de forma
textualizada, discorrida).
1. O OBJETO DA
GEOGRAFIA (p. 13-20).
controvérsia sobre a matéria tratada por esta disciplina
|
A questão que
introduz este volume – o que é Geografia? – aparentemente é bastante simples,
porém refere-se a um campo do conhecimento científico, onde reina enorme
polêmica em termos científicos e há uma intensa
Isto se manifesta
na indefinição do objeto desta ciência, ou melhor, nas múltiplas definições que
lhe são atribuídas.
“Alguns autores
definem a Geografia como o estudo da superfície terrestre. Esta concepção é a
mais usual, e ao mesmo tempo a de maior vaguidade. Pois a superfície da Terra é
a teatro privilegiado (por muito tempo o único) de toda reflexão científica, o
que desautoriza a colocação de seu estudo como especificidade de uma só
disciplina.”(...), p31.
“Outros autores vão
definir a Geografia como o estudo da paisagem. Para estes, a analise geográfica
estaria restrita aos aspectos visíveis do real. A paisagem, posta como objeto
especifico da Geografia, é vista como uma associação de múltiplos fenômenos, o
que mantém a concepção de ciência de síntese, que trabalha com dados de todas
as demais ciências”.(...), p31.
“A definição da
geografia como o estudo da superfície terrestre está apoiado no próprio
significado etimológico do termo Geografia – descrição da Terra. Assim, caberia
ao estudo geográfico descrever todos os fenômenos manifestados na superfície do
planeta, sendo uma espécie de síntese de todas as ciências.”(...), p31.
“A concepção que
definem a Geografia como o estudo da superfície terrestre e dada por Kant. Que estabelece
duas classes de ciências: as especulativas, apoiadas na razão, e as empíricas,
apoiadas na observação e nas sensações.”(...), p31.
“Na ciência
empírica, classe da ciência dada a geografia dada por Kant, estará dividida em:
duas disciplinas de síntese, a Antropologia, síntese dos conhecimentos
relativos ao homem, e a Geografia, síntese dos conhecimentos sobre a natureza.
Assim, Kant coloca a Geografia como uma ciência síntese (trabalha com dados de
todas as demais ciências) e descritiva (enumera os fenômenos abarcados e visa
abranger uma visão de conjunto do planeta).”(...), p32.
“Contudo as maiores
polêmicas ensejadas por esta perspectiva dizem respeito ao significado preciso
do termo superfície terrestre. Alguns autores vão falar em biosfera (esfera do
planeta, que apresenta formas viventes); em outros, em crosta terrestre (camada
inferior da atmosfera, mais a capada superior da litosfera), encobrindo, com a
discussão terminológica, a vaguidade desta definição do objeto.”(...), p32
“A idéia de descrição
da superfície da Terra vai alimenta a corrente majoritária do pensamento
geográfico”(...), p32.
“Geografia como o
estudo da paisagem apresenta duas variantes, para paisagem: uma, mantendo a
tônica descritiva, enumeração os elementos presentes e na discussão das formas
– daí ser denominada de morfológica. A outra se preocuparia mais com a relação
entre os elementos e com a dinâmica destes, apontando para um estudo de
fisiologia, isto é, do funcionamento da paisagem.”(...), p32.
“A perspectiva da
morfologia apresenta, em sua gênese, fundamentos oriundos da Estética: o
capítulo inicial da obra de Humboldt Cosmos se intitula “Dos graus de prazer
que a contemplação da natureza pode oferecer”, pois, caberia observar o
horizonte abarcado pela visão do investigador, e desta contemplação adviria à
explicação,”(...), p32.
“Outra proposta
encontrada é a daqueles autores que propõem a Geografia como estudo da
individualidade dos lugares. Para estes, o estudo geográfico deveria abarcar
todos os fenômenos que estão presentes numa dada área, tendo por meta
compreender o caráter singular de cada porção do planeta. Esta meta através da
descrição exaustiva dos elementos, outros pela visão ecológica, encontrando, no
próprio inter-relacionamento, um elemento de singularizarão.(...), p33.
“Modernamente, tal
perspectiva tem sua expressão mais desenvolvida na chamada Geografia Regional.
Esta propõe, como objeto de estudo, uma unidade espacial, a região – uma
determinada porção do espaço terrestre (de dimensão variável), passível de ser
individualizada, em função de um caráter próprio.(...), p33.
“A definição da
Geografia, como estudo da diferenciação de áreas, é uma outra proposta
existente. Tal perspectiva traz uma visão comparativa para o universo da
analise geográfica. Busca individualizar áreas, tendo em vista comparálas com
outras; daí a tônica nos dados que diferenciam cada uma.”(...), p33.
“São buscadas as
regularidades da distribuição e das inter-relações dos fenômenos. Tal concepção
é mais restritiva, em termos de abrangência, do pensamento geográfico.”(...),
p34.
“Existem ainda
autores que buscam definir a Geografia como o estudo do espaço. Para estes, o
espaço seria passível de uma abordagem específica, a qual qualificaria a
análise geográfica. Tal concepção, na verdade minoritária e pouco desenvolvida
pelos geógrafos, é bastante vaga e encerra aspectos problemáticos (...),
podendo-se apontar três possibilidades mais usuais no trato da questão: o
espaço pode ser concebido como uma categoria do entendimento, isto é,toda forma
de conhecimento efetivar-se-ia através de categorias, como tempo, grau, gênero,
espaço etc. O espaço também pode ser concebido como um atributo dos seres, no
sentido de que nada existiria sem ocupar um determinado espaço. Finalmente, o
espaço pode ser concebido como um ser específico do real, com características e
com uma dinâmica própria.(...), p34.
“Esta perspectiva
da Geografia, como estudo do espaço, enfatiza a busca da lógica da distribuição
e da localização dos fenômenos, a qual seria a essência da dimensão espacial.
Entretanto, esta Geografia, que propõe a dedução, só conseguiu se efetivar à
custa de artifícios estatísticos e da quantificação. É um campo atual da
discussão geográfica.”(...), p34.
“Finalmente, alguns
autores definem a Geografia como o estudo das relações entre o homem e o meio,
ou, posto de outra forma, entre a sociedade e a natureza. Assim, a
especificidade estaria no fato de buscar essa disciplina explicar o
relacionamento entre os dois domínios da realidade.”(...), p35.
“Seria, por
excelência, uma disciplina de contato entre as ciências naturais e as humanas,
ou sociais.”(...), p35.
“Aparecem, pelo
menos, três visões distintas do objeto: alguns autores vão apreendê-lo como as
influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade. “Caberia à
Geografia explicar as formas e os mecanismos pelos quais esta ação se
manifesta. Desta forma, o homem é posto como um elemento passivo, cuja história
é determinada pelas condições naturais, que o envolvem. O peso da explicação
residiria totalmente no domínio da natureza. Os fenômenos humanos seriam sempre
efeitos de causas naturais; isto seria uma imposição da própria definição do
objeto, identificado com aquelas influências.”(...), p35.
“Outros autores,
mantendo a idéia da Geografia, como o estudo da relação entre o homem e a
natureza, vão definir-lhe o objeto como a ação do homem na transformação deste
meio. Assim caberia estudar como o homem se apropria dos recursos oferecidos
pela natureza e os transforma, como resultado de sua ação.”(...), p35.
“Há ainda aqueles
autores que concebem o objeto como a relação entre si, com os dados humanos e
os naturais possuindo o mesmo peso. Para estes, o estudo buscaria compreender o
estabelecimento, a manutenção e a ruptura do equilíbrio entre o homem e a
natureza. A concepção ecológica informaria diretamente esta visão.”(...), p35.
“Estas três visões
do objeto, expressa o mais intenso debate do pensamento geográfico. encontra-se
a idéia de que a Geografia trabalha unitariamente, com os fenômenos naturais e
humanos.”(...), p 36
“Este breve painel
das definições da Geografia justifica a afirmação inicial, quanto às
dificuldades de concepção do objeto geográfico. O painel abarcou somente as
perspectivas da Geografia Tradicional, isto é, não foram abordadas as propostas
atuais, oriundas do movimento de renovação, que domina o conjunto do pensamento
geográfico contemporâneo.”(...), p36.
“Isto mostra quão
mais complexo é o problema da definição da Geografia, pois é nessa que a
questão do objeto aflora de modo mais contundente. A Geografia Renovada não se
prende a uma visão tão estanque da divisão das ciências, não coloca barreiras
tão rígidas entre as disciplinas, não possui uma necessidade tão premente de
formular uma definição formal do objeto.”(...), p36
“A Geografia
Renovada busca sua legitimidade na operacionalidade (para o planejamento) ou na
relevância social de seus estudos.”(...), p36.
Capítulo 2 O
Positivismo como fundamento da Geografia Tradicional
“Os postulados do
positivismo (aqui entendido como o conjunto das correntes não-dialéticas) vão
ser o patamar sobre o qual se ergue o pensamento geográfico tradicional,
dando-lhe unidade.”
“Uma primeira
manifestação dessa filiação positivista está na redução da realidade ao mundo
dos sentidos, isto é, em circunscrever todo trabalho científico ao domínio da
aparência dos fenômenos. “Para o positivismo, os estudos devem restringir-se
aos aspectos visíveis do real, mensuráveis, palpáveis.” (...), p39.
“Com o cientista,
como mero observador, Daí a limitação de todos os procedimentos de análise à
introdução, posta como a única via de qualquer explicação científica” (...),
p39.
“A Geografia é uma
ciência empírica, pautada na observação”, “A descrição, a enumeração e
classificação dos fatos referentes ao espaço são momentos de sua apreensão, mas
a Geografia Tradicional se limitou a eles; como se eles cumprissem toda a
tarefa de um trabalho científico.” (...), p40.
“a Geografia Geral,
tão almejada pelos geógrafos, na prática sempre se restringiu aos compêndios
enumerativos e exaustivos, de triste memória para os estudantes do secundário.”
(...), p,40.
“Outra manifestação
da filiação positivista (...) “é, a não aceitação da diferença de qualidade
entre o domínio das ciências humanas e o das ciências naturais.” (...), p40.
“A Geografia é uma
ciência de contato entre o domínio da natureza e o da humanidade”. Postura esta
que serviu para tentar encobrir o profundo naturalismo, que perpassa todo o
pensamento geográfico tradicional.” (...), p40.
O homem vai
aparecer como um elemento a mais da paisagem, como um dado do lugar, como mais
um fenômeno da superfície
“Geografia sempre
procurou ser uma ciência natural dos fenômenos humanos. Isto se expressa, por
exemplo, na colocação de J. Brunhes de que, para a Geografia, a casa (como
elemento fixo da paisagem) tem maior importância do que o morador. Ou, na
afirmação de C. Vallaux, de que o homem importa, para a análise geográfica, por
ser um agente de modelagem do relevo, por sua ação como força de erosão.”(...),
p41.
“ Tal perspectiva
naturalizante aparece com clareza no fato de buscar esta disciplina a
compreensão do relacionamento entre o homem e a natureza, sem se preocupar com
a relação entre os homens. Desta forma, o especificamente humano, representado
nas relações sociais, fica fora do seu âmbito de estudos.(...), p41.
“a unidade do
pensamento geográfico tradicional adviria do fundamento comum tomado ao
positivismo, manifesto numa postura geral, profundamente empirista e
naturalista.”(...), p41.
“a idéia de
“ciência de síntese” serviu para encobrir a vaguidade e a indefinição do
objeto. Tal idéia, que postulava um conhecimento excepcional, desvinculava tal
ciência de uma exigência do próprio positivismo – a definição precisa do objeto
de estudo.”(...), p42.
“a Terra é um todo,
que só pode ser compreendido numa visão de conjunto;(...), p42.
“princípio da
individualidade” – cada lugar tem uma feição, que lhe é própria e que não se
reproduz de modo igual em outro lugar;”.p42.
“princípio da
atividade” – tudo na natureza está em constante dinamismo; p42.
“princípio da
conexão” – todos os elementos da superfície terrestre e todos os lugares se
interrelacionam; o “princípio da comparação” – a diversidade dos lugares só
pode ser apreendida pela contraposição das individualidades;p43
“princípio da
extensão” – todo fenômeno manifesta-se numa porção variável do planeta; p42.
“princípio da localização” – a manifestação de todo fenômeno é passível de ser
delimitada. p43
“Estes princípios
atuaram como um receituário de pesquisa, definindo regras gerais, no trato com
o objeto, que, não podiam ser negligenciadas. De certo modo, definiam os traços
que faziam um estudo aceito como de Geografia.”(...), p43. “a idéia de
princípio é bastante cara ao pensamento positivista, o que reafirma o juízo de
que a Geografia deve sua unidade a um fundamento comum com esta corrente
filosófica.”(...),p43.
“A generalidade dos
princípios permitia que posicionamentos metodológicos antagônicos convivessem
em aparente unidade.”(...),p43.
“As máximas e os
princípios são os responsáveis (...) por um nível bastante elevado de
generalidade e vaguidade, permitindo que se englobem em seu seio propostas
díspares e mesmo antagônicas.” (...), p43.
“Tal fato enseja os
dualismos que perpassam todo o pensamento geográfico tradicional: Geografia
Física – Geografia Humana, Geografia Geral – Geografia Regional, Geografia
Sintética – Geografia Tópica e Geografia Unitária – Geografias
Especializadas.”(...),p43. “Estas dualidades afloram, no trabalho prático de
pesquisa, em vista da nãoresolução do problema do objeto, ao nível
teórico.”(...) p43.
“As máximas e os
princípios vão sendo incorporados e transmitidos, no pensamento geográfico, de
uma forma nãocrítica. Isto é, são tomados como afirmações verdadeiras, que em momento
nenhum são questionadas. ”(...), p44.
Na verdade, as
máximas, os princípios e, principalmente, o trabalho de pesquisa, engendrado em
anos de atividades (quase dois séculos de Geografia), acabam por constituir um
temário geral, (...), serve mais para dizer o que não é Geografia, do que para
definir-lhe o objeto.”(...), p45.
“Pelo temário geral
da Geografia, essa disciplina discute os fatos referentes ao espaço e, mais, a
um espaço concreto finito e delimitável – a superfície terrestre. Só será
geográfico um estudo que aborde a forma, ou a formação, ou a dinâmica
(movimento ou funcionamento) , ou a organização, ou a transformação do espaço
terrestre.”(...), p45.
“As várias
definições do objeto geográfico refletem (e refletirão sempre) o temário geral,
filtrado à luz de posicionamentos sociais (políticos, ideológicos e
científicos) diferenciados.”(...),p 46.“Só através do omito da ciência
asséptica, supra-ideológica, “que paira acima das paixões”, seria possível
pensar uma definição de objeto consensual.”(...), p46
“Toda tentativa de
definir o objeto geográfico, que não leve em conta esta realidade, é
dissimuladora, ideológica.”(...), p46. “As diferenciadas propostas veicularão
sempre conteúdos e interesses da classe. Sendo a estrutura de classes contraditória,
as propostas serão necessariamente antagônicas.”(...), P46.
“o que é Geografia
dependerá da postura política, do engajamento social, de quem faz Geografia.
Assim, existirão tantas Geografias, quantos forem os posicionamentos sociais
existentes.(...) “passa a ser a explicitação do conteúdo de classes subjacente
a cada proposta.”(...), p,46.
Um geógrafo
militante já disse que “a Geografia é uma prática social referida ao espaço
terrestre”, a qual pode ser de dominação (como tem sido na maioria das vezes),
mas também de libertação. (...) “ cabe também realizar um inventário da
discussão geográfica recente, analisando as propostas surgidas após o movimento
de renovação. “E, através dessas, identificar os agentes e as práticas sociais
referidas ao espaço em jogo na atualidade.”(...), p47.
Em outras palavras, investigar o estágio da luta ideológica, (
|
), função desta luta, propor direcionamentos gerais, que
|
permitam pensar
esta disciplina como instrumento de uma prática libertadora” (...),p47.
Capítulo 3 Origens
e pressupostos da Geografia
“O rótulo Geografia
é bastante antigo, sua origem remonta à Antiguidade Clássica, especificamente
ao pensamento grego (...), com Tales e Anaximandro, privilegia a medição do
espaço e a discussão da forma da Terra, englobando um conteúdo hoje definido
como da Geodésia; outra, com Heródoto, se preocupa com a descrição dos lugares,
numa perspectiva regional.”(...), p49. “Hipócrates, como a da relação entre o
homem e o meio, cuja principal obra se intitula Dos ares, dos mares e dos
lugares.”
“Aristóteles,
aparece em vários momentos a discussão de temas, hoje tidos como da Geografia,
sem que houvesse a mínima conexão entre eles; caso, que discute a concepção de
lugar, na sua Física, sem articulá-la com a discussão da relação homem-
natureza, apresentada em sua Política, e sem vincular esses estudos com sua
Meteorologia (onde ensaia uma classificação dos tipos de clima) e com suas
descrições regionais, como a efetuada sobre o Egito”. “Desta forma, pode-se
dizer que o conhecimento geográfico se encontrava disperso”. “Este quadro vai
permanecer inalterado até o final do século XVIII.”(...), p50.
“Isto não quer
dizer que inexistam autores expressivos, no decorrer deste enorme período da
História da humanidade (...). Basta pensar em Cláudio Ptolomeu, que escreve uma
obra Síntese Geográfica que, principalmente em sua versão árabe intitulada
Almagesto, vai constituir-se num dos principais veículos que resgatam as
descobertas do pensamento grego clássico, durante a Idade Média.” p50.
“Bernardo Varenius,
cuja obra Geografia Generalis vai ser um dos fundamentos das teorias de
Newton.” p50.
nas formulações.”(
|
), p50.
|
“ao se analisar
esse autor observa-se que a maior parte dos temas tratados pouco ou nada têm em
comum com o que posteriormente será considerada Geografia.”(...), p50. “Assim,
até o final do século XVIII, não é possível falar de conhecimento geográfico,
como algo padronizado, com um mínimo que seja de unidade temática, e de
continuidade
etc.”(...), p50. “Na verdade, trata-se de todo um período de dispersão
do conhecimento geográfico, (
|
). “Nélson
|
Designam-se como
Geografia: relatos de viagem, escritos em tom literário; compêndios de
curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de órgãos
de administração; obras sintéticas, agrupando os conhecimentos existentes a
respeito dos fenômenos naturais; catálogos sistemáticos, sobre os continentes e
os países do Globo Werneck Sodré denomina-o de “pré-história da Geografia”. “A
sistematização do conhecimento geográfico só vai ocorrer no início do século
XIX.”(...), p50.
“grandes
navegações”, e as conseqüentes descobertas, efetuadas pelos europeus, a partir
do quinhentismo. A constituição de um espaço mundial, que tem por centro
difusor a Europa, é elemento destacado do processo de transição do feudalismo
para capitalismo.”(...), p51.
“Outro pressuposto
da sistematização da Geografia era a existência de um repositório de
informações, sobre variados lugares da Terra”. “dados referentes aos pontos
mais diversificados da superfície (com uma margem de confiança razoável) e
agrupados em alguns grandes arquivos.” (...), p51.
“O interesse dos
Estados levou ainda à fundação de institutos nas metrópoles, que passaram a
agrupar o material recolhido, como as sociedades geográficas e os escritórios
coloniais. A Geografia da primeira metade do século XIX foi, fundamentalmente,
a elaboração desse material.” (...), p52.
“Outro pressuposto
para o aparecimento de uma Geografia unitária, residia no aprimoramento das
técnicas cartográficas, o instrumento por excelência do geógrafo.”(...), p52.
“Era fundamental,
para a navegação, poder calcular as rotas, saber a orientação das correntes e
dos ventos predominantes, e a localização correta dos portos. Estas exigências
fizeram desenvolver o instrumental técnico da cartografia.”(...), p53.
“Finalmente, a descoberta das técnicas de impressão, difundiu e popularizou as
cartas e os Atlas.”(...), p53
“Todas estas
condições materiais, para a sistematização da Geografia, são forjadas no
processo de avanço e domínio das relações capitalistas.”(...), p53.
político”. (
|
). “Estes pressupostos implicavam a valorização dos temas geográficos
pela reflexão da época, a ponto
|
pensamento geográfico”(...), naqueles autores e escritos diretamente
citados pelos primeiros geógrafos.(
|
), p53.
|
“Foram a
correspondência, no plano filosófico e científico, das transformações operadas
ao nível econômico e de legitimarem a criação de uma disciplina específica
dedicada a eles.(...). “e expressam nas fontes imediatas do
Uma primeira
valorização do temário geográfico vai ocorrer na discussão da Filosofia. As
correntes filosóficas do século XVIII vão propor explicações abrangentes do
mundo; formulam sistemas que buscam a compreensão de todos os fenômenos do
real. ”(...), p53.
enunciada em termos sistemáticos; uma fé na viabilidade de uma
explicação racional do mundo.”(
|
), p53.
|
“A meta geral de
todas as escolas, período, será a afirmação das possibilidades da razão humana;
a aceitação da existência de uma ordem, na manifestação de todos os fenômenos,
passível de ser apreendida pelo entendimento e
“Os autores que se
dedicaram à Filosofia do Conhecimento, como Kant ou Liebniz, enfatizaram a
questão do espaço. No caso de Kant, sem articular esta discussão (posta ao
nível da “razão pura”) (...). Outros filósofos, que discutiram a Filosofia da
História, como Hegel ou Herder, destacaram a questão da influência do meio
sobre a evolução das sociedades.
“Herder levanta uma
idéia, a de ver a Terra como “teatro da humanidade”.(...), p54.
“Outra fonte da
sistematização geográfica pode ser detectada nos pensadores políticos do
Iluminismo. Estes autores foram os porta-vozes do novo regime político, os
ideólogos das revoluções burguesas, os propositores da organização
institucional, que interessava ao modo de produção emergente. Em suas
argumentações, passaram por temas próprios da Geografia, notadamente ao
discutir as formas de poder e de organização do Estado.”(...), p54.
Rousseau, por
exemplo, discutiu a relação entre a gestão do Estado (...). Dizia ele que a
democracia só era possível nas nações pouco extensas, e que os Estados de
grandes dimensões territoriais tendiam necessariamente a formas de governo
autocráticas.”(...), p55.
“Montesquieu, em
sua célebre obra O espírito das leis, dedica todo um capítulo à discussão sobre
a ação do meio no caráter dos povos.” (...). “elabora teses profundamente
deterministas, como a de que os povos que habitam regiões montanhosas teriam
uma índole pacífica (pois contariam com uma proteção natural do meio), ao passo
que os habitantes da planície seriam naturalmente guerreiros (em face da
contínua possibilidade de invasões propiciada pelo relevo plano.”(...), p55.
“estas discussões vieram
enriquecer a posição desfrutada pelos temas geográficos; suas citações são
comuns nos trabalhos dos primeiros geógrafos.”(...), p55.
“os trabalhos
desenvolvidos pela Economia Política atuaram na valorização dos temas
geográficos. Esta disciplina foi responsável pelas primeiras análises
sistemáticas de fenômenos da vida social.”(...), p55.
“Os economistas
políticos discutiram questões geográficas, ao tratar de temas como a
produtividade natural do solo; a dotação diferenciada dos lugares, em termos de
recursos minerais; o problema da distância, o do aumento populacional, entre
outros. Suas teorias divulgaram estas questões, que posteriormente
constituiriam o temário clássico da Geografia. (...), p55.
“O temário
geográfico vai obter o pleno reconhecimento de sua autoridade, com o
aparecimento das teorias do Evolucionismo” (...). “forneceram o patamar
imediato da legitimação cientifica dessa disciplina. O Evolucionismo, visto
como conjunto de teorias, que partem das formulações de Darwin e Lamarck, dá um
lugar de destaque, em sua explicação, ao papel desempenhado pelas condições
ambientes; na evolução das espécies, a adaptação ao meio seria um dos processos
fundamentais.”(...), p55.
“São inúmeras as
alusões a Darwin e Lamarck, nas obras dos primeiros geógrafos. Também um
discípulo deste, Haeckel, vai ser bastante citado; desenvolveu a idéia de
Ecologia, isto é, do estudo da inter-relação dos elementos que coabitam um dado
espaço.”(...), p56.
“Metodologia
naturalista, que impregnou as propostas dos primeiros geógrafos e que passou,
como herança, aos seus sucessores.”(...), p56.
“A sistematização
da Geografia, sua colocação como uma ciência particular e autônoma, foi um
desdobramento das transformações operadas na vida social, pela emergência do
modo de produção capitalista.”(...). “na verdade, um instrumento da etapa final
deste processo de consolidação do capitalismo, em determinados países da
Europa.”(...), p57.
“A efetivação da
Geografia, como um corpo de conhecimentos sistematizado ocorria já no período
da decadência ideológica do pensamento burguês, em que a prática dessa classe,
então dominante, visava a manutenção da ordem social existente. Este é um dado
fundamental para se compreender o que foi a Geografia.”(...), p57.
“A Geografia será
filha (...) do desenvolvimento do capitalismo na Alemanha, sem a qual não se
pode compreender a sistematização da Geografia.”(...) ,p57.
“Os autores
considerados os pais da Geografia, aqueles que estabelecem uma linha de
continuidade nesta disciplina, são alemães – Humboldt e Ritter. Na verdade,
todo o eixo principal da elaboração geográfica, no século XIX, estará sediado
neste país.”(...), p57.
“É da Alemanha que
aparecem os primeiros institutos e as primeiras cátedras dedicadas a esta
disciplina; é de lá que vêm as primeiras teorias e as primeiras propostas
metodológicas; enfim, é lá que se formam as primeiras correntes de
pensamento.”(...), p58.
Capítulo 4 A
sistematização da Geografia: Humboldt e Ritter.
“A especificidade
da situação histórica da Alemanha, no início do século XIX, época que se dá a
eclosão da Geografia, está no caráter tardio da penetração das relações
capitalistas nesse país.”(...), p59.
“A Alemanha de
então é um aglomerado de feudos (ducados, principados, reinos) cuja única
ligação reside em alguns traços culturais comuns. Inexistente qualquer unidade
econômica ou política, a primeira começando a se formar no decorrer do século
XIX, a segunda só se efetivando em 1870, com a unificação nacional.”(...), p59.
“A Alemanha não
conhece a monarquia absoluta (forma de governo própria do período de
transição), nem qualquer outro tipo de governo centralizado. O poder está nas
mãos dos proprietários de terras, sendo absoluto e a nível local – a estrutura
feudal permanece intacta.”(...), p59.
“penetração do capitalismo”
(...), “quadro agrário alemão sem alterar a estrutura fundiária”(...), “vai
produzir um arranjo singular, aquilo que já foi chamado por alguns autores de
“feudalismo modernizado”. Isto é, um relativo desenvolvimento do capitalismo,
engendrado por agentes sociais próprios do feudalismo – a aristocracia agrária;
uma transformação econômica, que se opera sem alterar a estrutura do poder
existente.”(...), p59.
“Não ocorre, na
Alemanha, uma revolução democrático-burguesa. A burguesia alemã só se desenvolverá
à sombra do Estado, e de um Estado comandado pela aristocracia agrária. Este é
o quadro da Alemanha, na virada do século XVIII.”(...), p60.
“Confederação Germânica”, que congregou todos os principados alemães e
os reinos da Áustria e da Prússia.”(
|
),
|
“pode compreender a
eclosão da Geografia (...) “nas classes dominantes alemãs a idéia da unificação
nacional.” Esta meta passa a ser, a partir de um certo momento, uma necessidade
para a própria continuidade do desenvolvimento alemão.”(...). “Este ideal de
unidade vai ter suam primeira manifestação concreta com a formação, em 1815, da
p60.
“Temas como domínio
e organização do espaço, apropriação do território, variação regional, entre
outros, estarão na ordem do dia na prática da sociedade alemã de então. É, sem
dúvida, deles que se alimentará a sistematização geográfica.”(...), p61.
“As primeiras
colocações, no sentido de uma Geografia sistematizada, vão ser a obra de dois
autores prussianos ligados à aristocracia: Alexandre Von Humboldt, conselheiro
do rei da Prússia, e Karl Ritter, tutor de uma família de banqueiros. Ambos são
contemporâneos e pertencem à geração que vivencia a Revolução Francesa:
Humboldt nasce em 1769 e Ritter em 1779; os dois morreram em 1859, ocupando
altos cargos da hierarquia universitária alemã.”(...), p61.
“Humboldt possuía
uma formação de naturalista e realizou inúmeras viagens. Sua proposta de
Geografia aparece na justificativa e explicitação de seus próprios
procedimentos de análise (...). Seus principais livros são Quadros da Natureza
e Cosmos, ambos publicados no primeiro quartel do século XIX.”(...), p 61 e 62.
“Humboldt entendia
a Geografia como a parte terrestre da ciência do cosmos, isto é, como uma
espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos à Terra. Tal concepção
transparece em sua definição do objeto geográfico, que seria: “A contemplação
da universalidade das coisas, de tudo que coexiste no espaço concernente a
substâncias e forças, da simultaneidade dos seres materiais que coexistem na
Terra”.(...), p62.
“Caberia ao estudo
geográfico: “reconhecer a unidade na imensa variedade dos fenômenos, descobrir
pelo livre exercício do pensamento e combinando as observações, a constância
dos fenômenos em meio a suas variações aparentes”. Desta forma, a Geografia
seria uma disciplina eminentemente sintética, preocupada com a conexão entre os
elementos, e buscando, através dessas conexões, a causalidade existente na
natureza.”(...), p62.
“Em termos de
método, Humboldt (geólogo), propõe o “empirismo raciocinado”, isto é, a intuição
a partir da observação. O geógrafo deveria contemplar a paisagem de uma forma
quase estética, (daí o título do primeiro capítulo do Cosmos: “Dos graus de
prazer que a contemplação da natureza pode oferecer”.(...), p62.
“A obra de Ritter
(botânico), já é explicitamente metodológica. Em seu principal trabalho,
Geografia Comparada, há um intuito deliberado de propor uma Geografia, sendo
assim um livro normativo (...). “Possui formação em Filosofia e História.
Ritter define o conceito de “sistema natural”, isto é, uma área delimitada
dotada de uma individualidade (...)”. “A Geografia deveria estudar estes
arranjos individuais, e compará-los (...), que “abarcaria um conjunto de
elementos, representando uma totalidade, onde o homem seria o principal elemento.”(...),
p62 e 63.
“Para Ritter, a
ordem natural obedeceria a um fim previsto por Deus, a causalidade da natureza
obedeceria à designação divina do movimento dos fenômenos. Deste modo, haveria
uma finalidade na natureza, logo uma predestinação”(...), que “seria a tarefa
do conhecimento geográfico, que no limite, para esse autor, seria uma forma de
“contemplação da própria divindade”.(...). “Ritter é, por estas razões,
antropocêntrica (o homem é o sujeito da natureza), regional (aponta para o
estudo de individualidades), valorizando a relação homemnatureza.”(...), p63.
A obra de Humboldt
e Ritter, “compõe a base da Geografia Tradicional. Todos os trabalhos
posteriores vão se remeter às formulações de Humboldt e Ritter, seja para
aceitá-las, ou refutá-las.”(...), p63.
“A Geografia de
Ritter é regional e antropocêntrica, a de Humboldt busca abarcar todo o Globo
sem privilegiar o homem – os pontos coincidentes vão aparecer, para os
geógrafos posteriores, como fundamentos inquestionáveis de uma Geografia unitária.”(...),
p63 e 64.
“estes autores
criam uma linha de continuidade no pensamento geográfico, coisa até então
inexistente. Além disso, há de se ressaltar o papel institucional, desempenhado
por eles, na formação das cátedras dessa disciplina, dando assim à Geografia
uma cidadania acadêmica.”(...), p64.
“Entretanto, não
deixam discípulos diretos. Isto é, não formam uma “escola”. Deixam uma
influência geral, que será resgatada por todas as “escolas” da Geografia
Tradicional.”(...), p64.
“Foi talvez na
Rússia que as idéias de Humboldt e Ritter tiveram aplicação mais literal, em
autores como Mushketov, Dokuchaev e Woiekov. Apesar de realizar a Geografia
russa vigoroso trabalho de campo, é, sem dúvida, na Alemanha que a discussão
metodológica permanece acesa.”(...), p64.
Da Rússia e da
Alemanha, “vieram as maiores contribuições à sistematização do pensamento
geográfico. Isto não quer dizer que inexistam geógrafos importantes em outros
países.”(...), p64.
“A geração que se
segue à de Humboldt e Ritter vai se destacar pelo avanço empreendido na
sistematização de estudos especializados, do que da Geografia Geral.”(...) p64.
“Penk, com a
Geomorfologia (estudo do relevo), e de Hann e Koppen, com a Climatologia.”(...)
.Dois autores alemães merecem destaque na sistematização da geografia: O.
Peschel e F. Von Richthofen. O primeiro realizou uma revisão crítica da obra de
Ritter, contestando-a.”(...), p65.
Para Peschel, a
Geografia era um estudo das formas existentes nas paisagens terrestres, o qual,
entre elas, deveria buscar as semelhanças, através da comparação.”(...), p65.
Richthofen realizou
inúmeros trabalhos de campo, aprimorando as técnicas de descrição. Também,
avançou no que tange à elucidação e precisão dos conceitos empregados. Propunha
uma das definições mais empíricas do objeto geográfico, vendo-o como “a
superfície terrestre”.(...), p65.
Estes autores
ajudam a manter aberta uma via de discussão teórica do pensamento geográfico
(...), “a Geografia seguia constituída de levantamentos empíricos e enumerações
exaustivas sobre os diferentes lugares da Terra.(...),p65.
Capítulo 5 Ratzel e
a Antropogeografia
“Um revigoramento
do processo de sistematização da Geografia vai ocorrer com as formulações de
Friedrich Ratzel. Este autor, também alemão e prussiano, publica suas obras no
último quartel do século XIX.”(...), p67.
“Ratzel vivencia a
constituição real do Estado nacional alemão e suas primeiras décadas. Suas
formulações só são compreensíveis em função da época e da sociedade que as
engendram.” (...), p67.
“A Geografia de
Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas
do Estado alemão recém-constituído.”(...). “denominá-la de “manual de
imperialismo”.(...), p68.
“da unificação,
acirraram a disputa, entre a Áustria e a Prússia pelo comando e domínio do
processo, que culminou com a guerra entre dois reinos.”(...). “prussianização
da Alemanha. Isto é, o Estado prussiano imprimiria suas características na nova
nação.”(...), p68.
“A principal
característica da Prússia era a organização militarizada da sociedade e do
Estado. A direção deste estava nas mãos da aristocracia junker, os
proprietários de terras, os mais claros representantes da velha ordem
feudal.”(...), p68.
“erguia-se uma
monarquia extremamente burocratizada, que estendeu a ação do Estado a todos os
domínios da sociedade civil.”(...), p68.
“este país emergia
como mais uma unidade do centro do mundo capitalista, industrializada, porém
sem colônias. A unificação tardia da Alemanha, que não impediu um relativo
desenvolvimento interno, deixou-a de fora da partilha dos territórios
coloniais.”(...), p69.
“Daí, o agressivo
projeto imperial, o propósito constante de anexar novos territórios. E, por
esta razão, mais uma vez, o estímulo para pensar o espaço, logo, para fazer
Geografia.”(...), p69.
“Ratzel vai ser um
representante típico do intelectual engajado no projeto estatal; sua obra
propõe uma legitimação do expansionismo bismarckiano.”(...), p69.
“A Geografia de
Ratzel expressa diretamente um elogio do imperialismo, como ao dizer, por
exemplo: “Semelhante à luta pela vida, cuja finalidade básica é obter espaço,
as lutas dos povos são quase sempre pelo mesmo objetivo.”(...), p69.
O principal livro
de Ratzel, publicado em 1882, denomina-se Antropogeografia – fundamentos da
aplicação da Geografia à História;(...), “obra funda a Geografia Humana.”(...),
p69.
“Ratzel definiu o
objeto geográfico como o estudo da influência que as condições naturais exercem
sobre a humanidade (...), “influências atuariam, primeiro na fisiologia
(somatismo) e na psicologia (caráter) dos indivíduos e, através destes, na
sociedade.” “Em segundo lugar, a natureza influenciaria a própria constituição
social,”(...), p69.
“A natureza também
atuaria na possibilidade de expansão de um povo, obstaculizando-a ou
acelerando-a.”(...), p69. “Ratzel realizou extensa revisão bibliográfica, sobre
o tema das influências da natureza sobre o homem,”(...), p70.
“Para ele, a
sociedade é um organismo que mantém relações duráveis com o solo, manifestas,
por exemplo, nas necessidades de moradia e alimentação.”(...), p70.
“O homem precisaria
utilizar os recursos da natureza, para conquistar sua liberdade, que, em suas
palavras, “é um dom conquistado a duras penas”. O progresso significaria um
maior uso dos recursos do meio, logo, uma relação mais íntima com a natureza.
Quanto maior o vínculo com o solo, tanto maior seria para a sociedade a
necessidade de manter sua posse.”(...), p70.
“É por esta razão
que a sociedade cria o Estado, nas palavras de Ratzel: “Quando a sociedade se
organiza para defender o território, transforma-se em Estado”.(...), p70.
“Para Ratzel, o
território representa as condições de trabalho e existência de uma sociedade. A
perda de território seria a maior prova de decadência de uma sociedade. Por
outro lado, o progresso implicaria a necessidade de aumentar o território,
logo, de conquistar novas áreas.”(...), p70.
“Ratzel elabora o
conceito de “espaço vital”; este representaria uma proporção de equilíbrio,
entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir
suas necessidades, definindo assim suas potencialidades de progredir e suas
premências territoriais.”(...), p70.
“Ratzel, sua época
e o projeto imperial alemão. Esta ligação se expressa na justificativa do
expansionismo como algo natural e inevitável, numa sociedade que progride,
gerando uma teoria que legitima o imperialismo bismackiano.”(...), p70.
“visão do Estado
como um protetor acima da sociedade, vem no sentido de legitimar o Estado
prussiano, onipresente e militarizado.”(...), p71.
“A geografia
proposta por Ratzel privilegiou o elemento humano e abriu várias frentes de
estudo, valorizando questões referentes à História e ao espaço, como: a
formação dos territórios, a difusão dos homens no Globo (migrações,
colonizações, etc), a distribuição dos povos e das raças na superfície
terrestre, o isolamento e suas conseqüências, além de estudos monográficos das
áreas habitadas.”(...), p71.
“objetivo central
que seria o estudo das influências, que as condições naturais exercem sobre a
evolução das sociedades.”(...), p71.
“Ratzel não
realizou grandes avanços. Manteve a idéia da Geografia como ciência empírica,
cujos procedimentos de análise seriam a observação e a descrição.”(...), p71.
“Ratzel manteve a
visão naturalista: reduziu o homem a um animal, ao não diferenciar as suas
qualidades específicas; assim, propunha o método geográfico como análogo ao das
demais ciências da natureza;”(...), p71.
“Ratzel, ao propor
uma Geografia do Homem, estendeu-a como uma ciência natural.”(...), p71.
“Os discípulos de
Ratzel radicalizaram suas colocações, constituindo o que se denomina “escola
determinista” de Geografia, ou doutrina “escola determinista” de Geografia, ou
doutrina do “determinismo geográfico”(...), p71.
“Orientaram seus
estudos por máximas, como “as condições naturais determinam a História, ou “o
homem é um produto do meio” – empobrecendo bastante as formulações de Ratzel,
que falava de influências.”(...), p71.
“Seus mais
eminentes representantes foram: E. Semple e E. Huntington.”(...). “Ellem
Semple, a primeira geógrafa americana, americana, aluna de Ratzel, foi a
responsável pela divulgação das teses deste nos EUA. pode ser obtido na sua
teoria, que relaciona a religião com o relevo: nas regiões acidentadas,
predominariam religiões politeístas.”(...), p72.
“Elsworth
Huntington eram um pouco mais elaboradas. Este autor concebia um determinismo
invertido, isto é, para ele, as condições naturais mais hostis seriam as que
propiciariam o maior desenvolvimento.”(...), p72.
O livro mais
importante de Huntington denomina-se Clima e sociedade; nele o autor defende a
idéia de que os rigores do inverno explicariam, pelas necessidades impostas
(abrigo, estocagem de comida), o desenvolvimento das sociedades
européias.”(...), p72.
As teses
deterministas, apesar do seu simplismo, foram bastante divulgadas, e aparecem
com freqüência no ideário do pensamento conservador.(...). “história
brasileira, que lançam mão de teorias como a “indolência do homem tropical”, ou
o “subdesenvolvimento, como fruto da tropicalidade” (e a inevitável comparação
com o desenvolvimento dos E.U.A., também colônia, mas em clima temperado).
“Enfim, o determinismo incorre na mais completa naturalização da História
humana.
“Ratzel
manifestou-se na constituição da Geopolítica (...). “dedicada ao estudo da
dominação dos territórios, partiu das colocações ratzelianas, referentes à ação
do Estado sobre o espaço.”(...), p72.
“Os autores mais
conhecidos da corrente Ratzel foi, “Kjellen, um sueco, foi o criador do rótulo
Geopolítica.”(...). Halford Mackinder, um almirante inglês, trouxe a discussão
para o nível dos estados-maiores, tratando temas como o domínio das rotas
marítimas, as áreas de influência de um país, e as relações
internacionais.(...). “principal obra intitula-se O pivô geográfico da
História, desenvolveu uma curiosa teoria sobre as “áreas pivôs”, que seriam o
coração de um dado território; para ele, quem o dominasse, dominaria todo o
território.” “O general alemão Karl Haushofer, amigo de Hitler e presidente da
Academia Germânica no seu governo, foi outro teórico da Geopolítica”. “Deu a
esta um caráter diretamente bélico, definindo-a como parte da estratégia
militar”.(...), p73.
“A Karl Haushofer,
desenvolveu teorias referentes à ação do clima sobre os soldados, criou uma
escola e influenciou diretamente os planos de expansão nazistas.”(...), P73.
“Última
perspectiva, que saiu das formulações de Ratzel, foi a chamada escola
“ambientalista”. Esta, mais recente, não pode ser considerada uma filiação
direta da Antropogeografia.”(...), p73.
“Esta corrente
propõe o estudo do homem em relação aos elementos do meio em que ele se
insere.”(...), p73.
“O ambientalismo
representa um determinismo atenuado, sem visão fatalista e absoluta. A natureza
não é vista mais como determinação, mas como suporte da vida humana.”(...),
p73.
“O ambientalismo se
desenvolveu bastante modernamente, apoiado na Ecologia. A idéia de estudar as
inter-relações dos organismos, que coabitam determinado meio, já estava
presente em Ratzel, pela influência que ele sofreu de Haeckel, o primeiro
formulador da Ecologia, de quem havia sido aluno.”(...), p73
“é mias ao
determinismo que ao ambientalismo, que o nome de Ratzel acabou
identificado.”(...), p73.
Geografia francesa,
que será vista a seguir, é uma resposta às formulações desse autor.” “maior de
sua proposta reside no fato de haver trazido, para o debate geográfico, os
temas políticos e econômicos, colocando o homem no centro das análises.”(...),
p74.
Capítulo 6 Vidal de
La Blache e a Geografia Humana
“A outra grande
escola da Geografia, que se opõe às colocações de Ratzel, vai ser eminentemente
francesa, e tem seu principal formulador em Paul Vidal de La Blache”. “Para
compreender o processo de eclosão do pensamento geográfico na França”(...), “é
necessário enfocar os traços gerais do desenvolvimento histórico francês no
século XIX, e, em detalhe(...), “e o conflito de interesses com a
Alemanha.”(...), p75.
“A França foi o
país que realizou, de forma mais pura, uma revolução burguesa”. “A França havia
conhecido uma unificação precoce”(...), “a centralização do pode restava
garantida pela prática da monarquia absoluta”(...). “Isto havia propiciado a
formação de uma burguesia sólida, com aspirações consolidadas, e com uma ação
nacional.”(...), p75.
“Esta classe (...),
implantando o domínio total das relações capitalistas. Napoleão Bonaparte
completou este processo de desenvolvimento do capitalismo na França,”(...),
p75.
“A revolução
francesa foi um movimento popular, comandado pela burguesia, dirigido pelos
ideólogos dessa classe.”(...), p76.
“a consolidação do
domínio burguês (...), “produzir um acirramento da luta de classes, neste país,
a qual atingirá formas agudas(...)”. “Por esta razão, a França foi o berço do
socialismo militante, e o lugar onde o caráter classista da democracia burguesa
primeiro se revelou.”(...), 76.
“dominação burguesa
(...), “era dominante e lutava para manter o poder do aparelho de Estado. Os
ideais e as propostas liberais e progressistas, forjadas na fase
revolucionária, caem por terra, frente aos imperativos autoritários demandados
pela manutenção do status quo.”(...), p76.
A ciência cumpriu
um papel importante, nesse movimento ideológico. Foi posta como distante dos interesses
sociais, envolvida num manto de neutralidade.”(...), p76.
“a França foi o
país que demonstrou, de modo mais claro, as etapas de avanço, domínio e
consolidação da sociedade burguesa.”(...), p76.
“A França perde os
territórios e Alsácia e Lorena, vitais para sua industrialização, pois neles se
localizavam suas principais reservas de carvão.”(...), p77.
“a Terceira
República francesa. Foi nesse período que a Geografia se desenvolveu. E se
desenvolveu com o apoio deliberado do Estado francês.”(...). “Foram criadas,
nessa época, as cátedras e os institutos de Geografia.”(...). “Todos estes
fatos demonstram o intuito do Estado no sentido de desenvolver esses
estudos.”(...), p77.
“Thiers,
primeiro-ministro da França, em uma frase, bem o demonstra; diz ele: “a guerra
foi ganha pelos instrutores alemães”. A guerra havia colocado para a classe
dominante francesa, a necessidade de pensar o espaço, de fazer uma Geografia
que deslegitimasse a reflexão geográfica alemã e, ao mesmo tempo, fornecesse fundamentos
para o expansionismo francês.”(...), p77.
“O pensamento
geográfico francês nasceu com esta tarefa”(...). Combate a geografia de Ratzel.
“O principal
artífice desta empresa foi Vidal de La Blache.”(...). “fundou a escola francesa
de Geografia e, mais, deslocou para este país o eixo da discussão geográfica,
até então sediado na Alemanha.”(...), p78.
“Ratzel exprimia o
autoritarismo, que permeava a sociedade alemã; o agente social privilegiado, em
sua análise, era o Estado, tal como na realidade que este autor vivenciava. A
proposta de Vidal manifestava um tom mais liberal, consoante com a evolução
francesa,”(...), p78.
“Uma primeira
crítica de princípio, efetuada por Vidal às formulações de Ratzel, dizia
respeito à politização explícita do discurso deste”(...). “incidia no fato de
as teses ratzelianas tratarem abertamente de questões políticas.”(...),
Ratxel,“atacou diretamente o caráter apologético do expansionismo
alemão,”(...), p78.
“Vidal imprimiu, no
pensamento geográfico, o mito da ciência asséptica, propondo uma despolitização
aparente do temário dessa disciplina.”(...), p79.
“Temas como o do
espaço vital foram duramente criticados, a partir desta ótica, e, através
deles, o próprio expansionismo germânico. Entretanto, a Geografia francesa que
esconjurou a Geopolítica vai criar uma especialização denominada Geografia
Colonial.”(...), p79.
“Vidal criticou a
minimização do elemento humano, que aparecia como passivo nas teorias de
Ratzel. Nesse sentido, defendeu o componente criativo (a liberdade) contido na
ação humana que não seria apenas uma resposta às imposições do meio.”(...),
p79.
“este autor não
rompeu totalmente com uma visão naturalista, pois diz explicitamente: “a
Geografia é uma ciência dos lugares, não dos homens”(...), “o que interessaria
à análise seria o resultado da ação humana na paisagem, e não esta em si
mesma.”(...), p80.
“Uma terceira
crítica de Vidal à Antropogeografia”(...), “atacou a concepção fatalista e
mecanicista da relação entre os homens e a natureza.”(...). “Assim, atingiu
diretamente a idéia da determinação da História pelas condições
naturais.”(...), p80.
“Vidal vai propor
uma postura relativista, no trato dessa questão, dizendo que tudo o que se
refere ao homem “é mediado pela contingência”.”(...). “Este posicionamento,
aceito por seus seguidores, fez com que a Geografia francesa abandonasse
qualquer intento de generalizar.”(...), p80.
“Vidal de La Blache
construiu sua proposta de Geografia sempre como um diálogo crítico com sua
congênere alemã.”(...), p80.
“na figura de Vidal
de La Blache”(...), “surgiu uma Geografia com nova visão, que buscava ir além
das enumerações exaustivas e dos relatos de viagem.”(...), p80.
“outros autores, um
relevo deve ser dado à figura de Elisée Reclus, menos por suas formulações do
que por seu engajamento político, ímpar entre os geógrafos.”(...), p.80.
“Reclus foi um
militante anarquista, que pertenceu à Primeira Internacional e participou da
Comuna de Paris. Entretanto, suas obras, Geografia Universal, publicada em
dezenove volumes, e A Terra e o homem, em quatro volumes, foram pouco
revolucionárias em termos de método e de propostas.”(...). “Reclus viveu grande
parte de sua vida exilado, tendo assim pouca influência na evolução da
Geografia francesa.”(...), p81.
“Vidal de La Blache
definiu o objeto da Geografia como a relação homem-natureza, na perspectiva de
paisagem. Colocou o homem como um ser ativo, que sofre a influência do meio,
porém que atua sobre este, transformandoo.”(...). “as necessidades humanas são
condicionadas pela natureza, e que o homem busca as soluções para satisfazêlas
nos materiais e nas condições oferecidos pelo meio.”(...), 81.
“Vidal, é aí que
começa a “obra geográfica do homem”. “Assim, na perspectiva vidalina, a
natureza passou a ser vista como possibilidades para a ação humana; daí o nome
de Possibilismo dado a esta corrente por Lucien Febvre.”(...), p81.
“Vidal concebia o
homem como hóspede antigo de vários pontos da superfície terrestre, que em cada
lugar se adaptou ao meio que o envolvia, criando, no relacionamento constante e
cumulativo com a natureza, um acervo de técnicas, hábitos, usos e constumes,
que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponíveis.”(...), p81.
“Vidal denominou
“gênero de vida”, o qual exprimiria uma relação entre a população e os recursos,
uma situação de equilíbrio, construída historicamente pelas sociedades. A
diversidade dos meios explicaria a diversidade dos gêneros de vida.”(...), p81.
Vidal argumenta
que, uma vez estabelecido, o gênero de vida tenderia à reprodução simples, isto
é, a reproduzir-se sempre da mesma forma (por exemplo, uma sociedade com
escassos recursos disponíveis, criaria normas sociais – tabus alimentares,
infanticídio, etc. – para manter seu equilíbrio).”(...), p82.
“alguns fatores
poderiam agir, impondo uma mudança no gênero de vida”(...). “exaurimento dos
recursos existentes; isto impulsionaria aquela sociedade a migrar, ou a buscar
um aprimoramento tecnológico, quando a possibilidade de migração estivesse
restrita por barreiras naturais.”(...), p82.
“Para Vidal, quando
uma sociedade migrava para um meio mais rico, possuindo um gênero de vida
forjado em condições naturais, mas adversas, adquiria a possibilidade de gerar
um excedente, pela maior produtividade com o uso das mesmas técnicas no meio
mais rico.”(...), p82.
“Outro fator de
mudança dos gêneros de vida seria o crescimento populacional; este poderia
impulsionar a sociedade à busca de novas técnicas, ou levá-a a dividir a
comunidade existente e a criar um novo núcleo, gerando assim um processo de
colonização.”(...), p82.
“o contato com
outros gêneros de vida”(...), “é um fator de mudança”. “gerariam arranjos mais
ricos, pela incorporação de novos hábitos e novas técnicas.”(...), p82.
Vidal de La Blache
denominou “domínios de vicilização”, “os pontos de convergência (as cidades,
por exemplo) das comunidades seriam verdadeiras “oficinas de
civilização”.(...), “gêneros de vida se difundiriam pelo Globo, num processo de
enriquecimento mútuo, que levaria inexoravelmente ao fim dos localismos.”. “um
gênero de vida comum, englobando várias comunidades,”(...), p82.
“À Geografia
caberia estudar os generosa de vida, os motivos de sua manutenção ou
transformação, e sua difusão, com a formação dos domínios de
civilização.”(...), p82 e 83.
Vidal de La Blache,
é possível observar o sutil argumento que, num mesmo discurso, critica o
expansionismo germânico,(...), p83
“a ação imperial
francesa não se concentrava na Europa; era principalmente um expansionismo
colonial, que tinha por espaço a Ásia e a África. Aqui se criticava a expansão
alemã. Por outro lado, estes dois últimos continentes abrigariam sociedades
estagnadas, imersas no localismo, “comunidades vegetando lado a lado”, sem
perspectivas de desenvolvimento.”(...), p83.
“Vidal de La Blache
abriu a possibilidade de falar da “missão” Vidal de La Blache abriu a
possibilidade de falar da “missão civilizadora do europeu na África”., “ao
definir o progresso como fruto de relações entre sociedades com gêneros de vida
diferentes, num processo enriquecedor(...). p83.
“Vidal de La Blache
não rompeu com as formulações de Ratzel, foi antes um prosseguimento destas. As
únicas diferenças residiram naqueles pontos de princípio já discutidos.”(...),
p83.
Vidal era mais
relativista, negando a idéia de causalidade e determinação de Ratzel; assim seu
enfoque era menos generalizador.”(...), p83.
“Vidal, mais do que
Ratzel, hostilizou o pensamento abstrato e o raciocínio especulativo, propondo
o método empírico-indutivo, pelos quais só se formulam juízos a partir dos
dados da observação direta, considera-se a realidade como o mundo dos sentidos,
limitase a explicação aos elementos e processos visíveis.”(...),
La Blache propôs o
seguinte encaminhamento para a análise geográfica: observação de campo, indução
a partir da paisagem, particularização da área enfocada (em seus traços
históricos naturais), comparação das áreas estudadas e do material levantado, e
classificação das áreas e dos gêneros de vida, em “séries de tipos
genéricos”.(...). “concepção vidalina, culminaria com uma tipologia.(...), p84.
“Vidal de La Blache
acentuou o propósito humano da Geografia, vinculando todos os estudos
geográficos à Geografia Humana.”(...), p84.
“A Geografia
vidalina fala da população, de agrupamento, e nunca de sociedade; fala de
estabelecimentos humanos, não de relações sociais; fala das técnicas e dos
instrumentos de trabalho, porém não de processo de produção.”(...). “discute a
relação homem-natureza, não abordando as relações entre os homens.”(...), p84.
Capítulo 7 Os
desdobramentos da proposta lablachiana
“Vidal fundou a
corrente que se tornou majoritária no pensamento geográfico (...). “o núcleo
central dessa disciplina estava constituído.”(...), 85.
“La Blache criou
uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a escola francesa de Geografia. E, mais,
trouxe para a França o eixo da discussão geográfica, situação que se manteve
durante todo o primeiro quartel do século atual.”(...), p85.
“Vidal de La Blache
formou uma plêiade de ilustres discípulos diretos, que “desenvolveram a
proposta lablachiana, em toda sua potencialidade”(...). “Todos incorporando-a
em formulações próprias, porém mantendo o fundamental de suas
colocações.articulando, em redor de si e da revista por ele criada, os Annales
de Géographie,”(...). “catalisou uma ampla rede de pesquisas, orientadas por
suas formulações.” (...), p85.
“Alguns como, E.
Demartonne, que escreveu uma Geografia Física orientada pelas colocações vidalinas.
“J. Brunhes, que
escreveu uma volumosa Geografia Humana, onde propõe uma “classificação positiva
dos fatos geográficos”, dividindo-os em três grandes grupos: “fatos da ocupação
improdutiva do solo”, “fatos da conquista vegetal e animal”, e “fatos da
ocupação destrutiva”.”(...), p85 e 86.
“A. Demangeon,
desenvolvendo um estudo específico, que relevou a problemática econômica,
enfatizando as instalações humanas, em relação às atividades produtivas e
elaborou o conceito de “meio geográfico”, diferenciando-o do “meio
físico”(...), p86.
“C. Vallaux
formulou propostas polêmicas. Este autor entendia que a Geografia Humana
deveria estudar o “quarto estado da matéria”, aquele criado pelo trabalho
humano, e assim discutir “a transformação aparente das coisas da superfície
realizada pelo homem”; suas maiores diferenças com Vidal se deram no plano
metodológico.”(...), p86.
“outros discípulos
de La Blache, como H. Baulig, R. Blanchard ou J. Sion, entre outros; cada um
enfatizou um tema específico, como a Geografia Histórica, o comércio e as
relações internacionais.”(...), p86.
“Vidal de La Blache
planejou uma obra coletiva, a Geografia Universal, que foi executada por seus
discípulos, aproximando-os. Cada um escreveu sobre uma determinada porção do
planeta. Neste trabalho, explicitaram um conceito vislumbrado por La Blache,
que seria tomado como o balizamento central da Geografia francesa posterior – a
“região”, “denominação dada a uma unidade de análise geográfica, que exprimiria
o espaço terrestre.”(...), p86.
“região não seria
apenas um instrumento teórico de pesquisa”(...), “e caberia ao geógrafo
delimitá-las, descrevê-las e explicá-las.”(...), p86.
“A região seria uma
escala de análise, uma unidade espacial, dotada de uma individualidade, em
relação a suas áreas limítrofes.”(...). “Pela observação, seria possível
estabelecer a dimensão territorial de uma região, localizá-la e traçar seus
limites.”(...),p87.
“A noção de região
originou-se na Geologia. Foi trazida para a Geografia por L. Gallois, que
escreveu uma importante obra Regiões naturais e nomes de lugares” (...), 87.
“Com Vidal, e de
forma progressiva a partir dele, o conceito de região foi humanizado; cada vez
mais, buscava-se sua individualidade nos dados humanos, logo, na
história.”(...), p87.
“A idéia de região
propiciou o que viria a ser majoritária e mais usual perspectiva de análise do
pensamento geográfico: a Geografia Regional.”(...), 87.
elementos por eles levantados.”(
|
), “ levantamento de regiões predominantemente agrárias ensejou o
|
“No geral, o
receituário, dos estudos de Geografia Regional tais estudos obedeciam a um
modelo de exposição, que propunha os seguintes itens: Introdução, localizando a
área estudada, com projeções cartográficas nacional e continental e um
enquadramento zonal e pelas coordenadas; 1º capítulo: “as bases físicas” ou o
“quadro físico”, enumerando as características de cada um dos elementos
naturais presentes (relevo, clima, vegetação etc.); 2º capítulo: o “povoamento”
ou as “fases da ocupação”, discutindo a formação histórica (primeiras
explorações, atrativos econômicos no passado, fundação das cidades etc); 3º
capítulo: a “estrutura agrária” ou o “quadro agrário”, descrevendo a população
rural, a estrutura fundiária, o tipo de produção, as relações de trabalho, a
tecnologia empregada no cultivo e na criação etc.; 4º capítulo: a “estrutura
urbana” ou o “quadro urbano”, analisando a rede de cidades, a população urbana,
os equipamentos e as funções urbanas, a hierarquia das cidades daquela região
etc.; 5º capítulo: a “estrutura industrial” (quando esta existisse na região
analisada), estudando o pessoal ocupado, a tecnologia empregada, a destinação
da produção, a origem das matérias-primas empregadas, o número e tamanho dos
estabelecimentos etc. E finalmente a Conclusão, em geral constituída por um
conjunto de cartas, cada uma referente a um capítulo, as quais sobrepostas
dariam relações entre os elementos da vida regional.”(...), p88. “O acúmulo de
estudos regionais propiciou o aparecimento de especializações, que tentavam
fazer a síntese de certos desenvolvimento de uma Geografia Agrária,”(...), “a
estrutura fundiária, as técnicas de cultivo, as relações de trabalho etc”(...),
“Geografia Urbana”, “Geografia das Indústrias, da População, ou do
Comércio.”(...), p88 e 89.
“Destas
especializações dos estudos regionais, a que manteve a perspectiva mais
globalizante foi, sem dúvida, a Geografia Econômica”, “análise, a vida
econômica de uma região, discutindo os fluxos, o trabalho, a produção etc.
“(...), “articulava população, comércio, indústria, agricultura, transportes,
enfim, variados elementos do quadro regional.”(...), p89.
A Geografia
Econômica desenvolveu-se bastante, chegando a se constituir num domínio
autônomo do pensamento geográfico, diferenciado e igualado em importância à
Geografia Humana.”(...), p89.
“Contato, nos E.U.A., criou-se até uma nova disciplina intitulada (
|
), “Ciência Regional”(...), p89.
|
“Vidal de La Blache
deixou influências também no pensamento dos historiadores, notadamente daqueles
de língua francesa, no que toca à concepção deste com respeito à Geografia, e
sua relação com a História.”(...), p90.
“Lucien Febvre.
Este autor escreveu uma obra, que se tornou clássica, A Terra e a evolução
humana, na qual apresenta as idéias de La Blache, confrontadas com as de
Ratzel, desenvolvendo-as e defendendo-as das críticas levantadas contra a
Geografia Humana, por E. Durkheim.”(...), p90.
“Febvre que criou
os termos Determinismo e Possiblismo, assumindo integralmente o conteúdo deste
último.”(...), p90.
“A proposta
vidalina, foram múltiplos, desdobrou-se também uma Geografia Histórica”(...),
com o “temas: a organização do espaço na Antiguidade, as vias comerciais da
Europa na Baixa Idade Média, o gênero de vida numa aldeia galesa etc.”(...),
p90.
“Max Sorre, na
Geografia Francesa, avançou suas formulações, gerando uma proposta mais
elaborada”(...), “publicou suas principais obras na década de 1940, manteve os
fundamentos da proposta vidalina, porém desenvolvendo-a bastante. Apresentou a
idéia de que a Geografia deve estudar as formas pelas quais os homens organizam
seu meio, entendendo o espaço como “a morada do homem”.(...), p90.
O conceito central
desenvolvido por Sorre foi o de habitat, uma construção humana, uma humanização
do meio, que expressa as múltiplas relações entre o homem e o ambiente que o
envolve, uma porção do planeta vivenciada por uma comunidade que a
organiza.”(...), p90.
“O principal
trabalho de Sorre, uma das grandes obras teóricas do pensamento geográfico,
intitula-se Os fundamentos da Geografia Humana. “Os fundamentos biológicos” –
estuda o clima (sua relação com as funções orgânicas e os limites que impõe ao
homem), a relação entre o meio e a alimentação e o meio e as doenças e conclui
com a idéia de associação entre o homem e seu ambiente”.(...), p90.
“As técnicas da
vida social” – discute os agrupamentos humanos, as áreas de densidade elevada,
as formas de energia utilizadas pelas diferentes sociedades, e a questão do
domínio do espaço”.(...), p90.
mineração e indústria, discutindo-as em relação às condições naturais
|
e às
|
“As técnicas de
produção e de transformação das matérias-primas” – estuda as formas da
pecuária, coleta, agricultura, necessidades humanas”.(...), 90.
“O habitat” –
relaciona a organização do habitat com o gênero de vida, analisa os tipos de
habitat (rural e urbano), desde suas formas mais simples (o agrupamento
nômade), até as mais complexas (como a metrópole industrial). Observa-se a
envergadura da discussão empreendida.”(...), p91.
“A Geografia de
Sorre pode ser entendida como um estudo da Ecologia do homem”, “da relação dos
agrupamentos com o meio em que estão inseridos, processo no qual o homem
transforma este meio. Assim, as condições do meio geográfico, fruto da ação dos
homens, não seriam as mesmas daquele meio natural original.”(...), 91.
“o estudo de Sorre,
partia da Cartografia: a idéia de uma sobreposição de dados da observação, num
mesmo espaço, analisando historicamente a formação de cada elemento, desde os
naturais (solo, vegetação etc) até os sociais (hábitos alimentares, religião
etc)”(...), 91.
“A idéia de espaço
geográfico de Sorre é a de espaços sobrepostos (o físico, o econômico, o
social, o cultural etc) em inter-relação”. “A proposta de Sorre foi, sem
dúvida, a reciclagem da Geografia Humana concebida por Vidal de La
Blache.”(...). “Representou a segunda grande formulação da Geografia francesa,
no sentido de um conhecimento geográfico global e unitário.”(...), p92.
M. Le Lannou e A.
Cholley, foram propostas posteriores, que fecharam o ciclo da geografia
Tradicional na França, publicadas já na década de cinqüenta.”(...). 92.
Lê Lannou concebeu
a Geografia como eminentemente regional, definindo-lhe o objeto como “o homem
habitante”. “entendeu a questão das formas de ocupação e exploração do solo,
como a fundamental, e o estudo dos sistemas de trabalho e das instalações
humanas, como importante”. “privilegiou a organização social, criticando o
naturalismo (fala do “perigo” inerente a noção de meio); logo, reforçou o
caráter humano do estudo geográfico. Porém, em última instância, vai concebê-lo
como um “estudo dos agrupamentos e dos estabelecimentos humanos no
planeta”.(...), 92.
“Cholley, a
Geografia teria por objetivo as “combinações” existentes na superfície do
planeta. Os “fatos geográficos” seriam, por essência, relações entre elementos,
e caberia à análise entender o “equilíbrio” que os mesmos expressam”. “concebeu
a Geografia como uma “ciência de complexos”, tentando, em sua proposta,
restaurar a unidade entre a Geografia Física e Humana.”(...), p92.
Capítulo 8 Além do
Determinismo e do Possibilismo: a proposta de Hartshorne
“A outra grande
corrente do pensamento geográfico que se poderia denominar com certa
impropriedade Geografia racionalista, menor carga empírica, vinculou-se aos
nomes de A. Hettner e R. Hartshorne.”(...), p95.
“A Geografia
racional, “privilegiou um pouco mais o raciocínio dedutivo, antecipando um dos
móveis da renovação geográfica nos anos sessenta”. “decorreu da diferenciada
fundamentação filosófica destes autores.”(...), p95.
“A geografia de
Hettner e Hartshorne fundamentava-se no neokantismo de Rickert e
Windelband.”(...), p95.
“Alfred Hettner foi
um geógrafo alemão, professor da Universidade de Heidelberg e editor de uma das
principais revistas geográficas de seu país, a Geographische Zeitchrift.
Publicou suas obras entre 1890 e 1910, tendo sido assim influenciado pelo
refluxo das críticas francesas às colocações de Ratzel.”(...), p95.
“Alfred Hettner, “a
busca de um terceiro caminho para a análise geográfica, que não fosse o do
Determinismo e o do Possibilismo. Hettner vai propor a Geografia como a ciência
que estuda “a diferenciação de áreas”, isto é, a que visa explicar “por quê” e
“em que” diferem as proporções da superfície terrestre; diferença esta que,
para ele, é apreendida ao nível do próprio senso comum. (...), “A Geografia
seria então o estudo dessas formas de inter-relação dos elementos, no espaço
terrestre.”(...), p96.
“As idéias de
Hettner encontraram escassa penetração em sua época. Talvez em função do
domínio incontestado do Possibilismo, que atravessava sua fase áurea. Talvez em
função do próprio isolamento cultural da Alemanha, resultante do belicismo de
sua política exterior.”(...). “Foi somente através de sua retomada por Richard
Hartshorne, um renomado geógrafo americano, que a proposta de Hettner passou a
ser amplamente discutida.”(...), P96.
introduzira o pensamento de Hettner, porém, ao contrário dos
anteriores, desenvolvendo-o e aprimorando-o.”(
|
).
|
O único autor de
peso, surgido nos EUA, apartir dos anos trinta, era um especialista em
Geomorfologia – William Davis. Em termos de uma Geografia Geral, os americanos
acompanhavam o pensamento europeu: E. Semple havia introduzido as teses de
Ratzel e do Determinismo; I. Brown, as de Brunhes e, com elas, o Possibilismo.
Hartshorne P96.
“A Geografia
americana se desenvolveu apartir duas grandes escolas de Geografia. Uma, na
Califórnia, aproximou-se bastante da Antropologia, elaborando a Geografia
Cultural. Seu mais destacado formulador foi Carl Sauer, que propôs o estudo das
“paisagens culturais”, isto é, a análise das formas que a cultura de um povo
cria, na organização de seu meio. A outra, batizada de escola do Meio-Oeste,
aproximouse da Sociologia funcionalista e da Economia, propondo estudos como o
da organização interna das cidades, o da formação da rede de transportes
etc.”(...), 97.
Geral) e explicitamente metodológico.(
|
), “publicou em 1939 um livro, A natureza da Geografia, que foi
|
“A produção de
Hartshorne que encontrou maior repercussão, dado o seu caráter amplo (em busca
de uma Geografia mundialmente discutido. Dos debates ensejados por esta obra,
das críticas e sugestões levantadas, retirou o material para escrever outro
livro, Questões sobre a natureza da Geografia, publicado em 1959, que
apresentou o conteúdo final da sua proposta.
“Para Hartshorne, o
estudo geográfico não isolaria os elementos, ao contrário trabalharia com suas
inter-relações.”(...), p97.
“Para Hartshorne, a
Geografia seria um estudo da “variação de áreas”.(...). Os conceitos básicos
formulados por Hartshorne foram os de “área”, uma parcela da superfície
terrestre, e de “integração”, ambos referidos ao método.(...), p98.
“Para Hartshorne,
uma área possuiria múltiplos processos integrados, sendo uma fonte inesgotável
de inter-relações. O conjunto de todas as inter-relações possíveis daria a
realidade total da área, porém sua apreensão seria impossível; logo, buscar a
exaustão seria anticientífico.”(...), p99.
“Hartshorne
argumentou que os fenômenos variam de lugar a lugar, que as suas inter-relações
também variam, e que os elementos possuem relações internas e externas à
área”(...). “cada área seria dado pela integração de fenômenos
inter-relacionados”. “a análise deveria buscar a integração do maior número
possível de fenômenos interrelacionados.”(...) . “Pesquisador seleciona dois ou
mais fenômenos (p. ex. clima, produção agrícola, tecnologia disponível),
observa-os na área escolhida, relaciona-os. Seleciona outros (p. ex.
topografia, estrutura fundiária, relações de trabalho), observa-os,
relaciona-os; repete várias vezes este procedimento, tentando abarcar o maior
número de fenômenos (tipo de solo, destinação da produção, número de cidades,
tamanho do mercado consumidor, hidrografia etc.); uma vez de posse de vários
conjuntos de fenômenos agrupados e inter-relacionados, integra-os
interrelacionando os conjuntos; repete todo este procedimento, com novos
fenômenos, ou novos agrupamentos dos mesmos fenômenos, em conjuntos diferentes;
afinal, integram-se, entre si, os conjuntos já integrados separadamente.”(...),
p99.
local.”(
|
), p100.
|
“A esta forma de
estudo Hartshorne denominou a Geografia Idiográfica. Seria uma análise singular
(de um só lugar) e unitária (tentando apreender vários elementos), que levaria
a um conhecimento bastante profundo de determinado
“Hartshorne também
propôs uma segunda forma de estudo, por ele denominada Geografia Nomotética.
Esta deveria ser generalizadora, apesar de parcial. No estudo nomotético, o
pesquisador pararia na primeira integração, e reproduzila-ia (tomando os mesmos
fenômenos e fazendo as mesmas inter-relações) em outros lugares. As comparações
das integrações obtidas permitiriam chegar a um “padrão de variação”, daqueles
fenômenos tratados.”(...), p100.
“A proposta de
Hartwhorne, que foi amplamente discutida pois abria novas perspectivas para o
estudo geográfico. A Geografia Nomotética possibilitou análises tópicas, isto
é, centradas em um conjunto articulado de temas; por exemplo, uma Geografia do
Petróleo, discutindo uma integração de fenômenos associados a este produto, numa
escala mundial; ou uma Geografia da Monocultura, ou uma Geografia do Café, ou
do Cacau, ou ainda uma Geografia da Pesca, ou do Transporte Marítimo
etc.”(...), p100.
“As propostas de
Hartshorne, por um lado, e de Cholley e Le Lannou”, “finalizaram um ciclo, da
Geografia tradicional, que teve sua unidade dada pela aceitação de certas
máximas tidas como verdadeiras, a saber: a idéia de ciência de síntese, de
ciência empírica e de ciência de contato.”(...), 100.
“Cabe agora
analisar o saldo desta Geografia”, “Em primeiro lugar, a Geografia Tradicional
deixou uma ciência elaborada, um corpo de conhecimentos sistematizados, com
relativa unidade interna e indiscutível continuidade nas discussões. Deixou
fundamentos, que mesmo criticáveis, delimitaram um campo geral de
investigações, articulando uma disciplina autônoma. Nesse processo, elaborou um
temário válido, independente das teorias que desenvolveu; esse temário restou
como a grande herança do pensamento geográfico tradicional.”(...), p101.
“Em segundo lugar,
a Geografia Tradicional elaborou um rico acervo empírico, fruto de um trabalho
hexaustivo de levantamento de realidades locais”. “Constituem um substantivo
material para pesquisas posteriores, pois apresentam dados minuciosos sobre
situações singulares.”(...), p101.
“A Geografia
elaborou alguns conceitos (como território, ambiente, região, habitat, área
etc.) que merecem ser rediscutidos. Sua crítica permitirá um avanço, no trato
das questões a que se referem.”(...), p101.
Capítulo 9 O
movimento de renovação da Geografia
“A Geografia
conhece hoje um movimento de renovação considerável, que advém do rompimento de
grande parte dos geógrafos com relação à perspectiva tradicional.”(...), 103.
“Há uma crise de
fato da Geografia Tradicional, “em meados da década de cinqüenta e se
desenvolvem aceleradamente nos anos posteriores (...), “e esta enseja a busca
de novos caminhos, de nova linguagem, de novas propostas, enfim, de uma
liberdade maior de reflexão e criação”. “E, novamente, pergunta-se sobre o
objeto, o método e o significado da Geografia.”(...), p103.
“Os geógrafos vão
abrir-se para novas discussões e buscar caminhos metodológicos até então não
trilhados.”(...), p103.
“Esta crise é
benéfica, pois introduz um pensamento crítico, frente ao passado dessa disciplina
e seus horizontes futuros. Introduz a possibilidade do novo, de uma Geografia
mais generosa.”(...), p103.
“As razões da
crise(...), (...) “em primeiro lugar, a alteração na base social”, “o
desenvolvimento do modo de produção capitalista havia superado seu estágio
concorrencial, entrando na era monopolista”, “o liberalismo econômico já estava
enterrado; a grande crise de 1929 havia colocado a necessidade da intervenção
estatal na economia. Haviam caído por terra as teses da livre iniciativa, da
ordem natural e auto-regulada do mercado. Propunha-se agora a ação do Estado na
ordenação e regulação da vida econômica. O planejamento econômico estava
estabelecido como uma arma de intervenção do Estado. E, com ele, o planejamento
territorial, com a proposta de ação deliberada na organização do espaço.”(...),
p104.
(...) “Em segundo
lugar, o desenvolvimento do capitalismo havia tornado a realidade mais
complexa. A urbanização atingia graus até então desconhecidos, apresentando
fenômenos novos e complexos, como as megalópoles. O quadro agrário também se
modificara, com a industrialização e a mecanização da atividade agrícola, em
várias partes do mundo. As comunidades locais tendiam a desaparecer,
articulando-se a intrincadas redes de relações, próprias da economia
mundializada da atualidade. O lugar já não se explicava em si mesmo; os centros
de decisão das atividades ali desenvolvidas localizava-se muitas vezes, a
milhares de quilômetros.”(...), p104 e 105.
“O movimento de
renovação vai buscar novas técnicas para a análise geográfica. De um
instrumental elaborado na época do levantamento de campo, vai se tentar passar
para o sensoriamento remoto, as imagens de satélite, o computador.”(...), 105.
Em terceiro lugar,
“o próprio fundamento filosófico, sobre o qual se assentava o pensamento
geográfico tradicional, havia ruído.”(...), 105.
“O movimento de
renovação, ao contrário da Geografia Tradicional, não possui uma unidade;
representa mesmo uma dispersão, em relação àquela. Tal fato advém da
diversidade de métodos de interpretação e de posicionamentos dos autores que o compõem.”(...),
p107.
“A busca do novo
foi empreendida por variados caminhos; isto gerou propostas antagônicas e
perspectivas excludentes. O mosaico da Geografia Renovada é bastante
diversificado, abrangendo um leque muito amplo de concepções.”(...), p108.
“A divisão do
movimento de renovação da Geografia em duas vertentes, a Crítica e a
Pragmática, está assentado na polaridade ideológica das propostas
efetuadas.”(...), “O critério adotado e o da concepção de mundo dos autores,
vista como decorrente de posicionamentos sociais e/ou engajamentos
políticos.”(...), 108.
Capítulo 10 A
Geografia Pragmática
“A Geografia
Pragmática efetua uma crítica apenas à insuficiência da análise tradicional.
Não vai aos seus fundamentos e à sua base social. Ataca, principalmente, o
caráter não-prático da Geografia Tradicional.”(...), p109.
“Esta “disciplina
teve sempre uma ótica retrospectiva, argumentam seus seguidores, isto é falava
do passado, era um conhecimento de situações já superadas.”(...), “não
informava a ação, não previa; logo, era inoperante como instrumento de
intervenção na realidade.”(...), p109.
“Os autores
pragmáticos vão propor uma ótica prospectiva, um conhecimento voltado para o
futuro, que instrumentalize uma Geografia aplicada.”(...), “intuito geral é o
de uma “renovação metodológica”, o de buscar novas técnicas e uma nova
linguagem, que dê conta das novas tarefas postas pelo planejamento.”(...),
p109.
“A finalidade
explícita é criar uma tecnologia geográfica, um móvel utilitário. Daí sua
denominação de pragmática.”(...), p109.
“Este objetivo é
expressado claramente por vários autores; M. Philipponeau, por exemplo, escreve
um livro intitulado Geografia e ação: introdução à Geografia Aplicada,”(...),
p109.
“A crítica dos
autores pragmáticos à Geografia Tradicional fica num nível formal.”(...), “ “um
questionamento da superfície da crise, não de seus fundamentos”, “É uma crítica
“acadêmica”, que não toca nos compromissos sociais do pensamento
tradicional.”(...), p109.
“A Geografia
Pragmática é uma tentativa de contemporaneizar”(...), “o planejamento é uma
nova função, posta para as ciências humanas pelas classes dominantes; é um
instrumento de dominação, a serviço do Estado Burguês”(...), “em vista dessa
nova função, (planejar) este campo específico do conhecimento, sem romper seu
conteúdo de classe.”(...), p110.
“Suas propostas
visam apenas uma redefinição das formas de veicular os interesses do capital,
daí sua crítica superficial à Geografia Tradicional.”(...), “Uma mudança de
forma, sem alteração do conteúdo social.”, “ Uma atualização técnica e
lingüística.”(...), p110.
“conhecimento que
levanta” (...)” “legitima a expansão das relações capitalistas, para um saber
que orienta esta expansão, fornecendo-lhe opções e orientando as estratégias de
alocação do capital no espaço terrestre.”(...), p110.
“O pensamento
geográfico pragmático e o tradicional possuem uma continuidade, dada por seu
conteúdo de classe – instrumentos práticos e ideológicos da burguesia.
“Ocorre a passagem,
ao nível dessa disciplina, do positivismo clássico para o neopositivismo.
Troca-se o empirismo da observação direta (do “ater-se aos fatos” ou dos
“levantamentos dos aspectos visíveis”) por um empirismo mais abstrato, dos
dados filtrados pelas estatística (das “médias, variâncias e tendências”). Do
trato direto com o trabalho de campo, o estudo filtrado pela parafernália da
cibernética. Nesse processo, sofistica-se o discurso geográfico, tornam-se mais
complexas a linguagem e as técnicas empregadas.”(...), p110.
Da submissão total
aos procedimentos indutivos (e toda a Geografia Tradicional faz o elogio da
indução) passa-se a aceitar também o raciocínio dedutivo. Da contagem e
enumeração direta dos elementos da paisagem, para as médias, os índices e os
padrões. Da descrição, apoiada na observação de campo, para as correlações
matemáticas expressas em índices. Nesse processo, há um empobrecimento do grau
de concretude do pensamento geográfico.”(...), p110 e 1.
“A Geografia
Pragmática vai se substantivar por algumas propostas diferenciadas. Uma primeira
via de sua objetivação é a Geografia Quantitativa, defendida,”(...), “Na obra
de G. Dematteis, Revolução quantitativa e Nova Geografia.”(...), p111.
Todas as questões
aí tratadas – as relações e inter-relações de fenômenos de elementos, as
variações locais da paisagem, a ação da natureza sobre os homens etc. – seriam
passíveis de ser expressas em termos numéricos (pela medição de suas
manifestações) e compreendidas na forma de cálculos.”(...), p111.
“Os avanços da
estatística e da computação propiciam uma explicação geográfica. Por exemplo,
ao se estudar uma determinada região, a análise deveria começar pela contagem
dos elementos presentes (número de estabelecimentos agrícolas, total de
população, extensão, número e tamanho das vilas e cidades etc.); este
procedimento forneceria tabelas numéricas de cada dado, as quais seriam
trabalhadas estatisticamente pelo computador (médias, variâncias,
desvio-padrão, medianas etc.) e relacionadas (correlação simples e múltipla,
regressão linear, covariação, análise de agrupamento etc.); ao final, surgiriam
resultados numéricos, cuja interpretação daria a explicação da região
estudada.(...), p111.
“Outra via de
objetivação da Geografia Pragmática vem da teoria dos sistemas; daí ser chamada
Geografia Sistêmica ou Modelística. Esta, expressa por exemplo nas colocações
de Brian Berri, propõe o uso de modelos de representação e explicação no trato
dos temas geográficos.”(...), p112.
“von Thünen, que
concebeu uma teoria explicando a localização da produção agrícola, em função da
distância do mercado: construiu um modelo de círculos concêntricos, tendo por
centro uma cidade; no primeiro círculo, ao redor desta, localizar-se-iam os
produtos hortifrutigranjeiros (os mais perecíveis); num segundo, a agricultura
de grãos de abastecimento; no terceiro, a criação etc.(...), p112.
“Christraller: este
autor visava explicar a hierarquia das cidades, com relação ao poder de atração
exercido por uma metrópole, em virtude do equipamento nela existente.”(...),
p112.
“Estal e Buchanan,
onde a localização de uma indústria é explicável por um equilíbrio entre o
mercado consumidor, o mercado de mão-de-obra e as reservas de matérias-primas.
Estes modelos expressariam um grande nível de generalidade, sendo válidos para
qualquer ponto da superfície terrestre.”(...), p112 e 113.
“O modelo tentaria
expressar a estrutura do sistema, em Geografia o “geossistema”, ou o
“ecossistema”, os “sistemas de cidades”, ou a organização regional como
“subsistema do sistema nacional”.(...), “seriam tantos quantos os sistemas
existentes no real, passíveis de uma análise geográfica.”(...), p113.
“A Geografia
Quantitativa, o uso dos modelos e da teoria dos sistemas articulam-se numa
proposta que, no Brasil, se desenvolveu sob a denominação de Geografia
Teorética, má tradução do termo inglês “theoretical” (teórica), que nominava
esta perspectiva (constitui-se na espinha dorsal da renovação pragmática),
genérica e explicativa do pensamento geográfico.”(...), p113.
Poder-se-ia lembrar
a “teoria dos jogos”, vendo a ação dos homens como fruto de opções, num rol de
possibilidades dado pela natureza; ou ainda, a teoria da “difusão de
inovações”, que busca explicar como a modernização penetra num dado meio
social. Estas teorias, e aqui foram vistos apenas dois exemplos, elaboram-se
com o uso do instrumental quantitativo, sistêmico e modelístico. São operações
específicas da Geografia Pragmática. Do que foi apresentado, podes-se ter uma
idéia geral desta perspectiva. O número de propostas, por ela desenvolvidas, é
bastante elevado, seja pela via da Geografia Quantitativa, seja pela Sistêmica,
seja ainda pela combinação destas duas em teorias singulares.
“Geografia
Pragmática,(...), “se aproxima da Psicologia, formulando o que se denomina
Geografia da Percepção ou Comportamental.”(...), que, “busca entender como os
homens percebem o espaço por eles vivenciado, como se dá sua consciência em
relação ao meio que os encerra, como percebem e como reagem frente às condições
e aos elementos da natureza ambiente, e como este processo se reflete na ação
sobre o espaço.”(...), p114. “Os seguidores (...), “tentam explicar a
valorização subjetiva do território, a consciência do espaço vivenciado, o
comportamento em relação ao meio.”(...), p114.
“As pesquisas
efetuadas abordam temas como os seguintes: o comportamento do homem urbano, em
relação aos espaços de lazer; a influência das formas, na produtividade do
trabalho; a relação das sociedades com a natureza, expressas na organização dos
parques; a atitude frente a novas técnicas de plantio, numa determinada
comunidade rural; a concepção e as formas de representação do espaço, numa
sociedade indígena africana, entre outros.”(...), p 114.
“A Quantitativa
permite a elaboração de “diagnósticos” sobre um determinado espaço,
apresentando uma descrição numérica exaustiva sobre as suas características, e
ainda as tendências da evolução dos fenômenos ali existentes.”(...), p114.
“A Geografia
Pragmática desenvolve uma tecnologia de intervenção na realidade. Esta é uma
arma de dominação, para os detentores do Estado. Em si mesma, é apenas um
acervo de técnicas, que se transforma em ideologia, ao tentar dissimular seu
componente e sua eficácia política, ao se propor como processo neutro e
puramente objetivo.(...), p115.
Os “critérios
técnicos, mascara o conteúdo de classe das soluções almejadas e dos interesses
defendidos na ação planejadora.”(...), p115.
“A Geografia
Pragmática é um instrumento da dominação burguesa. Um aparato do Estado
capitalista. Seus fundamentos, enquanto um saber de classe, estão
indissoluvelmente ligados ao desenvolvimento do capitalismo monopolista.”(...),
p116.
“Ela defende: a
maximização dos lucros, a ampliação da acumulação de capital, enfim, a
manutenção da exploração do trabalho.”(...), “mascara as contradições sociais,
legitima a ação do capital sobre o espaço terrestre.”(...), p116.
É uma arma prática
de intervenção (...), “ideológica, no sentido de tentar fazer passar como
“medidas técnicas” (logo, neutras e cientificamente recomendadas” a ação do
Estado na defesa de interesses de classe.”(...), p116.
Ao “manter a base
social do pensamento geográfico tradicional faz dela a via conservadora do
movimento de renovação dessa disciplina.”(...), p116.
“A crítica da
Geografia Pragmática alimenta o embate ideológico atual, ao nível dessa
disciplina.”, “empreendida por aquela vertente do movimento de renovação, que
se denomina Geografia Crítica.”(...), p116.
“Um questionamento
levantado ao conjunto de propostas, que constituem a Geografia Pragmática,
incide no empobrecimento que ela introduz na reflexão geográfica.”(...), p117.
“A Geografia
Tradicional, em função da prática da observação direta (da pesquisa de campo),
concebia o espaço em sua riqueza (em sua complexidade). A Geografia Pragmática,
ao romper com estes procedimentos, simplifica arbitrariamente o universo da
análise geográfica, torna-o mais abstrato, mais distante do realmente
existente.”(...), 117.
“Seus autores
empobrecem a Geografia, ao conceber as múltiplas relações entre os elementos da
paisagem, com relações matemáticas, meramente quantitativas. Empobrecem a
Geografia, ao conceber a superfície da Terra (para o pensamento tradicional a
“morada do homem” ou o “teatro da História”), como um espaço abstrato de
fluxos, ou uma superfície isotrópica, sob a qual se inclina o planejador, e
assim a desistoricizam e a desumanizam.”(...),p117.
“Empobrecem a
Geografia ao conceber a região (no pensamento tradicional o “fruto de um
processo histórico”) como a região-plano, a área de intervenção, cuja dinâmica
é dada pela ação do planejador.”(...), p117.
“Geografia
Tradicional era mais rica, possuía maior grau de concretude, maior
correspondência ao real. É esse o sentido do empobrecimento aludido, que vem
acompanhado de uma sofisticação técnica e lingüística.”(...), p117.
“O saldo da
Geografia Pragmática é um desenvolvimento técnico, minimizado frente ao
empobrecimento real da análise por ela empreendida.”(...), p118.
“As várias
correntes da Geografia Pragmática representam uma das opções postas para quem
faz Geografia na atualidade. Sua aceitação decorrerá do posicionamento social
do geógrafo, sendo assim um ato político, uma opção de classe.”(...), p118
Capítulo 1 A
Geografia Crítica
“Movimento de
renovação do pensamento geográfico, agrupa aquele conjunto de propostas que se
pode denominar Geografia Crítica.”(...), “postura crítica radical, frente à
Geografia existente (seja a Tradicional ou a Pragmática), a qual será levada ao
nível de ruptura com o pensamento anterior.”(...), p119.
“O designativo de
crítica diz respeito, principalmente, a uma postura frente à realidade, frente
à ordem constituída.”(...), “os autores que se posicionam por uma transformação
da realidade social, pensando o seu saber como uma arma desse processo.”(...),
p119.
“Assumem o conteúdo
político de conhecimento científico, propondo uma Geografia militante, que lute
por uma sociedade mais justa. São os que pensam a análise geográfica como um
instrumento de libertação do homem.”(...), p119.
“Os autores da
Geografia Crítica vão fazer uma avaliação profunda das razões da crise”(...),.”
Vão além de um questionamento acadêmico do pensamento tradicional, buscando as
suas raízes sociais (...), “criticam o empirismo exacerbado da Geografia
Tradicional”(...), “despolitização ideológica do discurso geográfico, que
afastava do âmbito dessa disciplina a discussão das questões sociais.”(...),
p119.
“Seus autores
mostram as vinculações entre as teorias geográficas e o imperialismo, a idéia
de progresso veiculando sempre uma apologia da expansão”(...), p120.
“Atingem assim seu
caráter ideológico, que via a organização do espaço como harmônica; via a
relação homemnatureza, numa ótica que acobertava as relações entre os homens;
via a população de um dado território, como um todo homogêneo, sem atentar para
a sua divisão em classes.”(...), p120.
“Os geógrafos
críticos apontaram a relação entre a Geografia e a superestrutura da dominação
de classe, na sociedade capitalista.”(...), “Desvendam as máscaras sociais aí
contidas, pondo à luz os compromissos sociais do discurso geográfico, seu
caráter classista.(...), p120.
“O autor que
formulou a crítica mais radical da Geografia Tradicional foi, sem dúvida, Yves
Lacoste, em seu livro A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a
guerra.” (...), p120.
“Lacoste argumenta
que o saber geográfico manifesta-se em dois planos: a “Geografia dos Estados-
Maiores”e a “Geografia dos Professores”.(...), p120.
“Geografia dos
Estados- Maiores”(...) “existiu ligada à própria prática do poder.”(...), p120.
A “Geografia dos Professores” seria a que foi aqui denominada de tradicional.
Esta, para Lacoste, tem uma dupla função: Em primeiro lugar, mascarar a
existência da “Geografia dos Estados-Maiores”, apresentando o conhecimento
geográfico como um saber inútil; assim, mascarar o valor estratégico de saber
pensar o espaço, tornando-o desinteressante, para a maioria das pessoas.”(...),
p121.
“Geografia dos
Professores” serve para levantar, de uma forma camuflada, dados para a
“Geografia dos Estados- Maiores”, e, assim, fornecer informações precisas,
sobre os variados lugares da Terra, sem gerar suspeita, pois tratarse-ia de um
conhecimento eminentemente apolítico, e, ainda mais, inútil.(...), p121.
“A crítica de
Lacoste”(...) “coloca a Geografia como instrumento de dominação da burguesia,
dotado de alto potencial prático e ideológico (...), p 121.
“O questionamento
das teses tradicionais, efetuado pela Geografia Crítica”, “aponta para
propostas de renovação, que implicam uma ruptura com a Geografia Tradicional,
e, mais que isso, na construção de um conhecimento que lhe seja antagônico, de
um discurso que a combata, de teorias que se contraponham às
tradicionais.”(...), “definir seu trabalho como “guerrilha
epistemológica”.(...), 121.
“Propõem a
Geografia como mais um elemento na superação da ordem capitalista.(...), p122.
“Este autor admite
que os detentores do poder (seja o Estado ou a grande empresa) sempre possuem
uma visão integrada do espaço, dada pela intervenção articulada em vários
lugares.”(...), “o cidadão comum tem uma visão fracionada do espaço, pois só
concebe os lugares abarcados por sua vivência cotidiana, e só esporadicamente
possui informações (e mesmo assim truncadas) da realidade de outros
lugares.(...), p122.
“Estado tem uma
visão integrada articulada do espaço, pois age sobre todos os lugares, e isto
se transforma numa arma a mais de dominação.”(...), p122.
“Lacoste,
argumenta, é necessário construir uma visão integrada do espaço, numa perspectiva
popular, e socializar este saber, pois ele possui fundamental valor estratégico
nos embates políticos.”(...), p122.
“é necessário saber
pensar o espaço, para saber nele se organizar, para saber nele combater”.(...),
p122.
“Lacoste define, de
forma clara, os objetivos e a postura da Geografia Crítica”(...), “assume
inteiramente um conteúdo político explícito, que aparece de forma cabal na sua
afirmação, “a Geografia é uma prática social em relação à superfície
terrestre”,(...), p122.
“D. Harvey, “a
questão do espaço não pode ser uma resposta filosófica para problemas
filosóficos, mas uma resposta calçada na prática social”;(...), p123.
“M. Santos, “o
espaço é a morada do homem, mas pode ser também sua prisão”.(...), p123.
“A renovação
geográfica passa a ser pensada, em termos de teoria e prática”, “basta explicar
o mundo, pois cumpre transformá-lo”(...), p123.
“A Geografia
Crítica tem suas raízes na ala mais progressista da Geografia Regional
francesa.”(...), p123.
“Jean Dresch
aparece, no seio desse movimento, como um exemplo único de afirmação de um
discurso político crítico; suas teorias foram já uma antecipação (Dresch
escreve suas obras nas décadas de 30 e 40).(...), p123.
“A Geografia
Regional francesa aproximou-se da História e da Economia. É no bojo desse
processo que germinam as primeiras manifestações de um pensamento geográfico
crítico, ao se introduzir na análise regional novos elementos.”(...), p123. A
primeira manifestação clara dessa renovação crítica pode ser detectada na
proposta da Geografia Ativa, nome de um livro (escrito por P. George, Y.
Lacoste, B. Kayser e R. Guglielmo), que marcou toda uma geração de
geógrafos.”(...), p123.
“A Geografia Ativa
opunha-se à Geografia Aplicada. Sua proposta era a de executar um tipo de
análise, que colocasse a descoberto as contradições do modo de produção
capitalista, nos vários quadros regionais.(...), p123 e124.
(...) A Geografia
Ativa “ensejava assim uma Geografia de denúncia de realidades espaciais
injustas e contraditórias”. “explicar as regiões, mostrando não apenas suas
formas e sua funcionalidade, mas também as contradições sociais aí contidas: a
miséria, a subnutrição, as favelas, enfim as condições de vida de uma parcela
da população, que não aparecia nas análises tradicionais de inspiração
ecológica.”(...), p124.
“Geografia de
denúncia não rompia, em termos metodológicos, com a análise regional
tradicional. Mantinha-se a tônica descritiva e empirista, apenas passava-se a
englobar no estudo tópicos por ela não abordados.”(...), p124.
“A obras como a
Geografia da Fome de Josué de Castro, ou a Geografia do Subdesenvolvimento de
Y. Lacoste”, “introduziam-se novos temas, mantendo os procedimentos gerais da
análise regional”, “ Fazia uma descrição da vida regional, que não encobria as
contradições existentes no espaço analisado.(...), p124.
“A realidades tão
contraditórias, que sua simples descrição adquiria uma força considerável de
denúncia, fazendo da Geografia um instrumento de ação política”(...), “ Estes
estudos tiveram um papel significativo, pois abriram novos horizontes para os
geógrafos, ao apontarem uma perspectiva de engajamento social, de atuação
crítica.”(...), p124.
O autor que mais se
destacou dentro desse movimento foi”, “Pierre Geogrge. Seu grande mérito foi
introduzir pioneiramente alguns conceitos marxistas na discussão
geográfica”(...). “Este autor vai tentar uma conciliação da metodologia da
análise regional com o instrumental conceitual do Materialismo
Histórico.”(...), p125.
Pierre Geogrge,
“assim, discute as relações de produção, as relações de trabalho, a ação do
grande capital, as forças produtivas etc., em suas análises regionais.(...),
p125.
P. Geogrge elabora
uma extensa obra, constituída de ensaios, como Sociologia e Geografia; manuais,
como Geografia Econômica; e estudos concretos, tanto monográficos, como
Geografia da U.R.S.S. ou Europa Central, quanto sintéticos, como A ação do
homem ou Panorama do mundo atual.(...), P125.
“A Geografia de
denúncia não realizou por inteiro a crítica da Geografia Tradicional, apesar de
politizar o discurso geográfico”(...). “ela se mostrou problemática, sem que
isso atentasse à sua importância e eficácia política.(...), P125.
“A Geografia
Crítica também se desenvolveu bastante a partir dos estudos temáticos,
notadamente aqueles dedicados ao conhecimento das cidades (que não devem ser
confundidos com a Geografia Urbana tradicional)”. “particularmente importante a
contribuição dada por autores não-geógrafos.”(...), p125.
“O contato com
teorias extra-geográficas foi bastante benéfico; basta pensar na influência de
um sociólogo, como M. Castels, ou de um filósofo, como H. Lefebvre; o primeiro
através de seu livro já clássico A questão urbana, o segundo através de obras
como A produção do espaço e Espaço e Política.”(...), p126.
“A influência de
urbanistas, como J. Lojikne ou M. Folin, também é sensível.”(...), p126.
“M. Foucault deve
ser mencionado, por suas colocações sobre a relação entre o espaço e o poder,
contidas em Microfísica do Poder.”(...), p126.
“A Geografia
Crítica abre para um leque bastante amplo de influências “externas”, “romper o
isolamento do geógrafo é também uma de suas metas.”(...), p126.
“Destaque deve ser
dado para a figura de David Harvey. Este autor esteve na vanguarda do
neopositivismo da reflexão geográfica; depois rompeu radicalmente com a
perspectiva pragmática, escrevendo uma obra que traduz uma profunda
autocrítica: A justiça social e a cidade”, faz a crítica das teorias liberais
sobre a cidade, e assume uma postura socialista”(...), “uma leitura das
colocações marxistas, tentando empregar a teoria da renda fundiária na análise
da valorização do espaço urbano.”(...), p126.
David Harvey,
“analisa o uso do solo, um tema clássico da Geografia, à luz das categorias do
valor-de-uso e do valordetroca”(...), “Nessa reflexão, adianta bastante as
formulações a respeito de uma dialética do espaço, e chega a algumas concepções
interessantes, como, por exemplo, a de “ver as formas espaciais enquanto
processos sociais no sentido de que os processos sociais são espaciais”.”(...),
p126.
“A expansão
espacial das relações capitalistas de produção, as formas espaciais e os fluxos
gerados, a organização do espaço implementada por este modo de produção, enfim,
a lógica do capital na apropriação e ordenação dos lugares”(...), “podem-se
destacar as formulações de A. Lipietz, que escreveu uma obra intitulada O
capital e seu espaço; de F. Indovina e D. Calabi, que escreveram um sugestivo
artigo sobre o uso capitalista do território, e do mesmo F. Indovina, autor do
interessante trabalho Capital e Território.(...), p127.
“Em todos estes
trabalhos, tenta-se entender a essência da organização do espaço terrestre no
modo de produção capitalista”(...), “tal finalidade, retoma-se a discussão de
questões como a relação entre a sociedade e o solo, o Estado e o território e
os recursos e a atividade econômica”(...), “questões são integradas num
contexto de discussão, informado pela Economia Política e orientado pelo legado
teórico de Marx.(...), p127.
“Os caminhos
buscados pelas várias propostas da Geografia Crítica são numerosos, diferentes,
e todos igualmente importantes. (...), p127.
“algumas abordando
pontos especificamente metodológicos, como Geografia e Ideologia de J.
Anderson, ou à Geografia Pragmática, como Geografia e Tecnoburocracia de Melhem
Adas.”(...), p127.
“Há de se destacar
o papel das revistas Herodote e Antípoda, na veiculação desta bibliografia
crítica. Alguns eventos, - como o congresso organizado pelo Instituto Gramsci,
versando sobre o tema “Homem, natureza e sociedade: ecologia e relações
sociais” – também se articulam com este esforço renovador.”(...), p127.
“ Concepção mais
global de Geografia, cabe uma exposição mais minuciosa da proposta de Milton
Santos, apresentada em seu livro Por uma Geografia nova”(...), “expressa uma
tentativa sintética de outros trabalhos desse autor, representando uma proposta
geral para o estudo geográfico – é assim um livro de claro conteúdo
normativo.”(...), “avaliar criticamente a Geografia Tradicional, a crise do
pensamento geográfico e as principais propostas de renovação, efetivadas pela
Geografia Pragmática,”(...), p128.
M. Santos passa a
expor sua concepção do objeto geográfico. Tenta dar uma resposta para a questão
primordial desse volume: o que é a Geografia. Ou, melhor, como deve ser a
análise do geógrafo. Cabe apresentar mais detalhadamente esta proposta, que é
uma das mais amplas e substantivas empreendidas pela Geografia Crítica.”(...),
p128.
“Milton Santos
argumenta que é necessário discutir o espaço social, e ver a produção do espaço
como o objeto”, “espaço social ou humano é histórico, obra do trabalho, morada
do homem. É assim uma realidade e uma categoria de compreensão da
realidade.(...), p128.
“Diz que se deve
ver o espaço como um campo de força, cuja energia é a dinâmica social. Que ele
é um fato social, um produto da ação humana, uma natureza socializada, que pode
ser explicável pela produção.(...), p128.
“Afirma, que o
espaço também é um fator, pois é uma acumulação de trabalho, uma incorporação
de capital na superfície terrestre, que cria formas duráveis, as quais denomina
“rugosidades”. Estas criam imposições sobre a ação presente da sociedade; são
uma “inércia dinâmica” – tempo incorporado na paisagem – e duram mais que o
processo que as criou.”(...), p128.
“As formas
espaciais são resultados de processos passados, mas são também condições para
processos futuros.”(...), p129.
“Milton Santos
argumenta que toda atividade produtiva dos homens implica numa ação sobre a
superfície terrestre, numa criação de novas formas, de tal modo que “produzir é
produzir espaço”.(...), p129.
“Afirma que a
organização do espaço é determinada pela tecnologia, pela cultura e pela
organização social da sociedade, que a empreendem.”(...), p129.
“Na sociedade
capitalista, a organização espacial é imposta pelo ritmo de acumulação”.(...),
p129.
“O autor diz ainda
que a unidade de análise do geógrafo deve ser o Estado Nacional, pois, só
levando em conta esta escala, pode-se compreender os vários lugares contidos em
seu território.”(...). 129.
“O Estado é o
agente de transformação, de difusão e de dotação.”(...), p129.
“O Estado manifesta
o modo de produção, nas várias porções da Terra e é por este determinado; logo,
passa a sua lógica ao estabelecer e dirigir a ordem espacial.”(...), p129.
“M. Santos avança
sua proposta. Coloca que as diferenças dos lugares são naturais e históricas, e
que a variação da organização do espaço é fruto de “uma acumulação desigual de
tempo.”(...), p129.
“Há um contínuo
processo de modernização em curso, que não atinge todos os lugares ao mesmo
tempo, que é estimulado pelo Estado, e que obedece à lógica do capital e não
aos interesses do homem (manifestando-se então como uma modernização
maldosa).(...), p130.
“É tal processo que
deve ser objeto de preocupação dos geógrafos, que o analisarão, em cada
manifestação concreta, tendo em vista uma Geografia mais generosa e vendo o
espaço como um lugar de luta.”(...), p130.
“As formulações de
Milton Santos representam uma das propostas da Geografia Crítica,
exemplificando bem a postura política e o posicionamento social que a
caracterizam.”(...), p130.
“Pode-se dizer que
a Geografia Crítica é uma frente, onde obedecendo a objetivos e princípios
comuns, convivem propostas díspares.”(...), p131.
“A unidade da
Geografia Crítica manifesta-se na postura de oposição a uma realidade social e
espacial contraditória e injusta, fazendo-se do conhecimento geográfico uma
arma de combate à situação existente.” “É uma unidade de propósitos dada pelo
posicionamento social, pela concepção de ciência como momento da práxis, por
uma aceitação plena e explícita do conteúdo político do discurso
geográfico.”(...), p131.
“A Geografia na
atualidade estimula a reflexão; a queda das “verdades” fossilizadas age nesse
sentido. Buscam-se novos caminhos, questionam-se velhas concepções, tentam-se
novas fórmulas.”(...), p131.
“A Geografia
Crítica é um desafio, e uma promessa.”(...), p132.
“O movimento de
renovação, atualmente em curso na Geografia, com suas duas vertentes, reproduz,
ao nível desse campo específico do conhecimento, o embate ideológico
contemporâneo – reflexo, no plano da ciência, da luta de classes na sociedade
capitalista.”(...), p132.
“Os geógrafos
críticos, em suas diferenciadas orientações, assumem a perspectiva popular, a
da transformação da ordem social. Buscam uma Geografia mais generosa e um
espaço mais justo, que seja organizado em função dos interesses dos
homens.”(...), p132.
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