quinta-feira, 23 de maio de 2013


Resumo de texto

BULBOVAS, Patrícia. Deficiência Física: Criatividade e Solidariedade Compensam Falta de Estrutura na Inclusão. Revista Ciranda da Inclusão, São Paulo: Ciranda Cultural, 2011. n.23, p.08-11.

Pentear o cabelo de uma boneca ou folhear um livro na escola é tarefa fácil, e até corriqueira, para qualquer criança de 11 anos de idade. No caso de Tatiely, apesar de não ser tão fácil, é possível, porque ela aprendeu a fazer isso com os pés. É difícil escolher uma palavra para defini-la. Ao conhecer a história dela, podemos pensar em adaptação, persistência e otimismo, mas talvez nenhuma expressão seja tão adequada quanto, “superação”.
Tatiely Coutinho, 11 anos de idade, tem paralisia cerebral (PC), ocorrida no período neonatal, cujas sequelas causaram atrofia severa nos membros superiores e deficiência na fala.
Suely Pereira Coutinho, 27 anos, é mãe de Tatiely e conta que ela teve uma infecção no cérebro aos 03 meses de vida, mas só quando os problemas começaram a aparecer, na medida em que ela foi crescendo, foi que disseram que ela tinha PC. Ela começou a perceber que os bracinhos não se desenvolviam e, apresentava muita dificuldade na fala.
Tatiely é aluna regular da rede pública de ensino, cujas únicas adequações da estrutura do prédio são em relação aos banheiros e uma rampa de acesso na entrada do pátio. Em contrapartida, a equipe pedagógica entende perfeitamente as necessidades de Tatiely, e trabalha para que ela seja incluída na sua turma.
O termo paralisia cerebral dá margem a uma atribuição errada à identidade de quem a tem. Comumente, associa-se PC a cérebro parado, sem a capacidade de pensar ou agir. Não é o caso de Tatiely. A diretora da unidade, Maria das Graças dos Santos Silva, conta que a aluna apresenta bom relacionamento com os colegas, que a ajudam na maioria das suas tarefas. Ela participa de todas as aulas propostas, inclusive as de informática e as de artes. Para conseguir fazer tudo isso, ela usa material adaptado para os pés, placas de comunicação e alfabeto móvel. A comunicação também é feita de maneira diferenciada para que Tatiely consiga interagir na aula.
O professor de educação física, Luiz Carlos Gomes de Moraes, também fez modificações nas suas aulas, e agora propõe aos alunos atividades que requerem mais o uso dos membros inferiores. A solidariedade é marcante na aula, com exercícios e jogos que movimentam mais as pernas, e com a ajuda dos outros alunos, Tatiely participa integralmente das atividades.

Na aula de informática não é diferente, garante a professora Vânia Brandão, que adequou um teclado na altura dos pés da aluna. O recurso humano tem feito muita diferença na vida de Tatiely. Com o objetivo de capacitar o profissional para promover a inclusão social de alunos com deficiência física, os professores participam de encontros com o projeto “Mais diferença”, como complemento da formação pedagógica, oferecido pela rede municipal de ensino de Osasco. Além disso, a rede também disponibiliza uma equipe multidisciplinar que acompanha esses alunos e faz os encaminhamentos necessários. Esse suporte é feito por Terapeutas, Psicólogos e Fonoaudiólogos, dependendo do tipo da deficiência. Tudo isso atende ao que o Ministério da Educação preconiza para os casos de escolas que tem alunos com deficiência física ou intelectual matriculados. Quanto à adequação da estrutura física do prédio, a diretora conta que está esperando pela reforma da unidade, que já está prevista pela administração municipal.
Tatiely se tornou um exemplo para os colegas de turma, e um incentivo de vida em sua casa. É uma criança feliz e, com esforço tem apresentado melhorias na fala e no desenvolvimento geral. Ela faz terapia na AACD, unidade Osasco, e já integrou uma turma de Eqouterapia. Com a ajuda de medicamento halopático, tem apresentado também um melhor controle dos músculos.
Ela faz parte da estatística que mostra que, para cada mil crianças nascidas, sete apresentam paralisia cerebral que causa deficiência física. Como o diagnóstico fechado de PC só pode ser confirmado vários meses após o nascimento, as causas da lesão geralmente são especulativas.
A paralisia cerebral é uma doença que afeta, de forma permanente, o sistema nervoso central (SNC). Descrita em 1987 pelo Psicanalista Sigmund Freud, e mais tarde consagrada por Phelps, a paralisia foi definida pela observação de um grupo de crianças que apresentava transtornos motores relacionados às lesões do SNC. É caracterizada por uma alteração nos movimentos ou na postura, oriunda da disfunção cerebral, e pode ocorrer no período pré, Peri ou pós-natal.
O tratamento é meramente paliativo, porque não se pode agir sobre uma lesão superada. Quando se ministra medicamentos, geralmente suas funções estão ligadas ao controle dos distúrbios afetivo-emocionais e da agitação psicomotora, nos casos em que há deficiência intelectual associada. Já para reabilitação é indicada, geralmente, a fisioterapia, para normalizar o tônus muscular e facilitar o movimento. Deve se ter em mente que cada caso é um caso, e somente o neuropediatra é capaz de avaliar e definir qual o tratamento adequado para cada situação. Quem tem paralisia cerebral muitas vezes pode ser confundido com uma pessoa com deficiência intelectual. Geralmente, isso ocorre porque o próprio termo remete à paralisação do cérebro. Além disso, quem tem paralisia cerebral comumente apresenta dificuldade na fala e descoordenação motora, dependendo da região do cérebro que foi afetada. Mas é preciso ficar claro que raramente a deficiência intelectual é associada à paralisia cerebral.

O mais importante é ressaltar que a criança tem direito de frequentar uma escola regular e precisa ser aceita e tratada como alguém com capacidade plena de aprender. Esse direito é garantido pela lei de diretrizes e bases da educação, de 1996, que inclui no Ensino Regular, crianças com necessidades educativas especiais.
O programa da ONU sobre deficiências severas menciona que os estudantes com deficiência desenvolvem a apreciação pela diversidade individual e demonstram crescente responsabilidade e avanço na aprendizagem entre alunos. Eles estão mais bem preparados para a vida adulta em uma sociedade diversificada através da educação em salas de aula regulares e podem participar como aprendizes sob condições instrucionais diversificadas, dependendo do caso. É necessário reconhecer cada criança como um indivíduo único, com características diferentes, e não com capacidades diferentes. O processo de inclusão precisa ser entendido e praticado de forma consciente, para que seja livre de preconceitos.

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