Resumo
de texto
BULBOVAS, Patrícia. Deficiência Física: Criatividade e
Solidariedade Compensam Falta de Estrutura na Inclusão. Revista Ciranda da Inclusão, São Paulo: Ciranda Cultural, 2011.
n.23, p.08-11.
Pentear o cabelo de uma
boneca ou folhear um livro na escola é tarefa fácil, e até corriqueira, para
qualquer criança de 11 anos de idade. No caso de Tatiely, apesar de não ser tão
fácil, é possível, porque ela aprendeu a fazer isso com os pés. É difícil
escolher uma palavra para defini-la. Ao conhecer a história dela, podemos
pensar em adaptação, persistência e otimismo, mas talvez nenhuma expressão seja
tão adequada quanto, “superação”.
Tatiely Coutinho, 11
anos de idade, tem paralisia cerebral (PC), ocorrida no período neonatal, cujas
sequelas causaram atrofia severa nos membros superiores e deficiência na fala.
Suely Pereira Coutinho,
27 anos, é mãe de Tatiely e conta que ela teve uma infecção no cérebro aos 03
meses de vida, mas só quando os problemas começaram a aparecer, na medida em
que ela foi crescendo, foi que disseram que ela tinha PC. Ela começou a
perceber que os bracinhos não se desenvolviam e, apresentava muita dificuldade
na fala.
Tatiely é aluna regular
da rede pública de ensino, cujas únicas adequações da estrutura do prédio são
em relação aos banheiros e uma rampa de acesso na entrada do pátio. Em
contrapartida, a equipe pedagógica entende perfeitamente as necessidades de
Tatiely, e trabalha para que ela seja incluída na sua turma.
O termo paralisia
cerebral dá margem a uma atribuição errada à identidade de quem a tem. Comumente,
associa-se PC a cérebro parado, sem a capacidade de pensar ou agir. Não é o
caso de Tatiely. A diretora da unidade, Maria das Graças dos Santos Silva,
conta que a aluna apresenta bom relacionamento com os colegas, que a ajudam na
maioria das suas tarefas. Ela participa de todas as aulas propostas, inclusive
as de informática e as de artes. Para conseguir fazer tudo isso, ela usa
material adaptado para os pés, placas de comunicação e alfabeto móvel. A
comunicação também é feita de maneira diferenciada para que Tatiely consiga
interagir na aula.
O professor de educação
física, Luiz Carlos Gomes de Moraes, também fez modificações nas suas aulas, e
agora propõe aos alunos atividades que requerem mais o uso dos membros
inferiores. A solidariedade é marcante na aula, com exercícios e jogos que
movimentam mais as pernas, e com a ajuda dos outros alunos, Tatiely participa
integralmente das atividades.
Na aula de informática
não é diferente, garante a professora Vânia Brandão, que adequou um teclado na
altura dos pés da aluna. O recurso humano tem feito muita diferença na vida de
Tatiely. Com o objetivo de capacitar o profissional para promover a inclusão
social de alunos com deficiência física, os professores participam de encontros
com o projeto “Mais diferença”, como
complemento da formação pedagógica, oferecido pela rede municipal de ensino de
Osasco. Além disso, a rede também disponibiliza uma equipe multidisciplinar que
acompanha esses alunos e faz os encaminhamentos necessários. Esse suporte é
feito por Terapeutas, Psicólogos e Fonoaudiólogos, dependendo do tipo da
deficiência. Tudo isso atende ao que o Ministério da Educação preconiza para os
casos de escolas que tem alunos com deficiência física ou intelectual
matriculados. Quanto à adequação da estrutura física do prédio, a diretora
conta que está esperando pela reforma da unidade, que já está prevista pela
administração municipal.
Tatiely se tornou um
exemplo para os colegas de turma, e um incentivo de vida em sua casa. É uma
criança feliz e, com esforço tem apresentado melhorias na fala e no
desenvolvimento geral. Ela faz terapia na AACD, unidade Osasco, e já integrou
uma turma de Eqouterapia. Com a ajuda de medicamento halopático, tem
apresentado também um melhor controle dos músculos.
Ela faz parte da
estatística que mostra que, para cada mil crianças nascidas, sete apresentam
paralisia cerebral que causa deficiência física. Como o diagnóstico fechado de
PC só pode ser confirmado vários meses após o nascimento, as causas da lesão
geralmente são especulativas.
A paralisia cerebral é
uma doença que afeta, de forma permanente, o sistema nervoso central (SNC).
Descrita em 1987 pelo Psicanalista Sigmund Freud, e mais tarde consagrada por
Phelps, a paralisia foi definida pela observação de um grupo de crianças que
apresentava transtornos motores relacionados às lesões do SNC. É caracterizada
por uma alteração nos movimentos ou na postura, oriunda da disfunção cerebral,
e pode ocorrer no período pré, Peri ou pós-natal.
O tratamento é
meramente paliativo, porque não se pode agir sobre uma lesão superada. Quando
se ministra medicamentos, geralmente suas funções estão ligadas ao controle dos
distúrbios afetivo-emocionais e da agitação psicomotora, nos casos em que há
deficiência intelectual associada. Já para reabilitação é indicada, geralmente,
a fisioterapia, para normalizar o tônus muscular e facilitar o movimento. Deve
se ter em mente que cada caso é um caso, e somente o neuropediatra é capaz de
avaliar e definir qual o tratamento adequado para cada situação. Quem tem
paralisia cerebral muitas vezes pode ser confundido com uma pessoa com
deficiência intelectual. Geralmente, isso ocorre porque o próprio termo remete
à paralisação do cérebro. Além disso, quem tem paralisia cerebral comumente
apresenta dificuldade na fala e descoordenação motora, dependendo da região do
cérebro que foi afetada. Mas é preciso ficar claro que raramente a deficiência
intelectual é associada à paralisia cerebral.
O mais importante é
ressaltar que a criança tem direito de frequentar uma escola regular e precisa
ser aceita e tratada como alguém com capacidade plena de aprender. Esse direito
é garantido pela lei de diretrizes e bases da educação, de 1996, que inclui no
Ensino Regular, crianças com necessidades educativas especiais.
O programa da ONU sobre
deficiências severas menciona que os estudantes com deficiência desenvolvem a
apreciação pela diversidade individual e demonstram crescente responsabilidade
e avanço na aprendizagem entre alunos. Eles estão mais bem preparados para a vida
adulta em uma sociedade diversificada através da educação em salas de aula
regulares e podem participar como aprendizes sob condições instrucionais
diversificadas, dependendo do caso. É necessário reconhecer cada criança como
um indivíduo único, com características diferentes, e não com capacidades
diferentes. O processo de inclusão precisa ser entendido e praticado de forma
consciente, para que seja livre de preconceitos.
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